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Quando os grandes eventos fazem sentido
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Quando os grandes eventos fazem sentido

Municípios pequenos despejam fortunas em shows populares, mas sem nenhuma estratégia definida para o investimento. Em larga medida, dinheiro de emendas parlamentares. As atrações, contratadas sem concorrência, com "inexigibilidade", são uma brecha imensa, afora prestação de contas nem sempre clara. Produtores de eventos contam cada história desse mercado...
Tipo Opinião
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 23.12.2025:. No Aterro da Praia de Iracema, principal palco da virada, está sendo instalada uma estrutura para o Réveillon 2026, que ocupa 65 mil m². (Daniel Galber/Especial para O POVO) (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 23.12.2025:. No Aterro da Praia de Iracema, principal palco da virada, está sendo instalada uma estrutura para o Réveillon 2026, que ocupa 65 mil m². (Daniel Galber/Especial para O POVO)

Fortaleza tem um megarréveillon. O Rio de Janeiro idem, assim como grandes shows internacionais. Aracati tem um carnaval com atrações caras. São destinos turísticos e as festas são atrações para captar visitantes e dinheiro novo para irrigar a economia. A conta fecha? Nunca foram muito claros para demonstrar o quanto, mas faz sentido o investimento quando compõe uma estratégia econômica, cultural e fiscal, e não apenas uma despesa pontual. Melhor seria que conseguissem captar patrocínio privado integral.

Turistas lotam hotéis, pousadas e imóveis por temporada. Ocupam as mesas de bares, restaurantes e consomem de ambulantes. Pegam táxis e carros por aplicativos. É um dinheiro que circula, gerando renda para trabalhadores locais. Há maior arrecadação de ISS (serviços) e indiretamente de ICMS (na parte repassada pelo estado).

Sempre há questionamentos legítimos porque o caixa é curto e as demandas são básicas. Todavia, o confronto não deveria ser "eventos versus os serviços básicos", mas sim "evento como parte de estratégia contra apenas uma ação pontual, cara, sem responsabilidade fiscal e inócua". É intolerável que uma prefeitura de pequeno porte, sobretudo, invista em grandes eventos com comprometimento de serviços essenciais e sem nenhum estudo de impacto econômico.

Nenhum retorno

Tomando o exemplo do Ceará, é vasta a lista de prefeituras que despejam dunas de dinheiro público nos tais eventos de massa sem que isto implique nenhum retorno consistente. São eventos financiados com dinheiro público — inclusive via emendas parlamentares. Não se tem notícia de que prefeituras demonstrem o que é um consumo novo e um consumo apenas deslocado. 

Ou seja, o gasto que haveria noutra área e apenas mudou de fim. Ademais, em larga medida, o volume de recursos vai embora quando o show. Cachês de artistas e prestadores de serviço partem e levam suas partes. Ficam os vídeos. Os empregos são os mais básicos e temporários. Não existe qualificação alguma neste andar de baixo do mercado de eventos.

As atrações, contratadas sem concorrência, com a alegada "inexigibilidade", são uma brecha imensa, afora prestação de contas nem sempre clara. E quando o dinheiro vem por emendas de transferência direta? A fiscalização fica ainda mais frouxa. Já ouviu um prestador de serviços deste segmento? Ou produtor de eventos?  Contam cada história…

Histórias sujas

E as histórias mais sujas envolvem emendas, aquele recurso do orçamento da União destinado por deputados e senadores para ações em municípios e estados, conforme o gosto do parlamentar. Na chamada emenda PIX, transferida diretamente para a conta da prefeitura, não há destinação específica. Isso virou um paraíso para o uso do dinheiro nas tais festas.

Você (mesmo que não mais resida lá), que nasceu em município desses que rasga dinheiro (se bem que eles não rasgam) em shows, diante de prefeituras de manejo suspeito do recurso público e de câmaras municipais dóceis, fale mal. Poste sua contrariedade e provoque essa discussão. A coisa nunca foi tão prostituída.

INFRAESTRUTURA

Dinheiro novo via BNDES, Patria e BNB

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liderou a coordenação da oferta pública de cotas do Pátria Infra Crédito Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). A operação foi em parceria com o Patria Investimentos, gestora do fundo. O valor: R$ 170 milhões. Encerrada no dia 15 passado, a oferta teve como foco entidades de previdência e bancos de desenvolvimento, recebendo investimento de fundos de pensão e do Banco do Nordeste (BNB).

O BNDES entra na distribuição de cotas do fundo mirando a estratégia de catalisar e alavancar recursos privados para pequenos e médios projetos de infraestrutura. As áreas de interesse são logística, saneamento básico, geração e distribuição de energia, infraestrutura de dados e infraestrutura social. São alinhados com a estratégia de investimento do FIDC. O BNDES já tinha ancorado a primeira emissão de cotas do fundo em 2024, junto com bancos multilaterais.

A participação do BNB, em especial, garante que ao menos R$ 100 milhões dos recursos do fundo sejam alocados em ativos dessa natureza no Nordeste. Patria é uma gestora global de ativos alternativos, líder na América Latina e com presença na Europa por meio de rede de relacionamentos com investidores. Tem 37 anos de experiência e mais de R$ 272 bilhões em ativos sob gestão, das seguintes classes: private equity, solutions, crédito, real estate, infraestrutura e ações públicas. Investe na América Latina, Europa e EUA, notadamente nos setores de agronegócio, energia, saúde, logística e transportes, alimentos e bebidas e serviços digitais e de tecnologia.

CILADA

Golpe no saguão do aeroporto

É um escárnio o que acontece nos aeroportos Brasil afora, sem nenhuma ação mais efetiva por parte das autoridades de defesa do consumidor, da segurança pública e das concessionárias - em Fortaleza, a alemã Fraport. A cada desembarque no Pinto Martins, hordas de motoristas clandestinos abordam os passageiros e oferecem corridas por aplicativo. Há alertas no saguão e a maioria das pessoas não cai. Mas os golpistas miram nos aparentemente mais incautos. As vítimas dizem o destino, o motorista abre o app no próprio celular e logo em seguida desliga e faz a corrida fora do aplicativo. Mais caro. O risco de um assalto no caminho há.

NOS CASCOS

Ambev investe R$ 1 bilhão em garrafas

A Ambev montou uma mega fábrica de vidro em Carambeí (PR) com investimento declarado de R$ 1 bilhão. Foca em embalagens premium (Stella Artois, Spaten - também conhecidas como verdes - Corona e Original) e versões zero álcool. É a primeira planta do Brasil a integrar todas as fases da produção, do grão à garrafa. A fábrica tem capacidade para até 600 milhões de garrafas por ano. Usa energia renovável e vidro reciclado. Cervejarias em vários estados serão abastecidas. A unidade da Ambev em Aquiraz será atendida pela nova planta.

CFM

Atestado de papel a valer

Os atestados médicos emitidos de forma física (em papel) continuarão sendo válidos em 2026. O Conselho Federal de Medicina (CFM) correu para desmentir boatos sobre o fim da aceitação do atestado no papel. O CFM desenvolveu o Atesta CFM, uma plataforma antifraude criada para a emissão e validação de atestados médicos. A ferramenta pretende reduzir as falsificações, mas está suspensa por decisão judicial.

E NO CEARÁ?

Casa ilegal vai ao chão

O processo durou 27 anos, mas o Ministério Público de Mato Grosso conseguiu a demolição de uma mansão frequentada por políticos na baía de Siá Mariana, em Barão de Melgaço (MT). O imóvel estava em área de preservação permanente no Pantanal. Novas casas construídas irregularmente podem ter o mesmo destino. E no Ceará, hein? Quantos imóveis do gênero merecem trator? 

HORIZONTAIS

Erros de cozinha - O chef consultor Bernard Twardy faz um apelo aos arquitetos: "Por favor, consultem os chefes antes de fazer projetos". Ele pede na receita projetos com segurança alimentar, arejados e com bom fluxo. Como consultor, ele tem se deparado com muitos erros de cozinha.

Hein? - Por que raios os bares com shows ao vivo, as festas em condomínios, as festas em buffets, eventos corporativos e tudo do mais onde há música insiste em manter o volume tão alto? É difícil conversar, embora a natureza do negócio seja aproximar as pessoas. Volume adequado é um diferencial de mercado.

Pele - O principal diagnóstico oncológico na Santa Casa de Sobral é o câncer de pele. Há cerca de dois mil novos casos de câncer por ano. Somente de janeiro a novembro, foram 326 novos casos. Este mês é o dezembro laranja, de campanha sobre o tema.

HPV - O Ministério da Saúde prorrogou por mais seis meses a vacinação contra a HPV para jovens de 15 a 19 anos que não receberam o imunizante na idade recomendada -  de 9 a 14 anos. A meta é imunizar cerca de 7 milhões de jovens em todo o País.

Desadoçado - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização, a distribuição, a importação, a propaganda e o uso de produtos à base de alulose. A decisão, publicada no Diário Oficial da União, tem como alvo produtos da empresa Sainte Marie Importação e Exportação e passa a valer em todo o território nacional. A alulose é um tipo de adoçante e não consta na lista de substâncias autorizadas para uso como adoçante ou ingrediente alimentar no Brasil. 

R$ 2 bilhões - A Advocacia-Geral da União (AGU) comemora ter impedido no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o pagamento indevido de R$ 2 bilhões de indenização ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul e às construtoras Sultepa S/A, Sulcatarinense, STE Serviços Técnicos de Engenharia e Pedrasul construtora AS (em recuperação judicial). Alegavam recomposição do equilíbrio financeiro de contratos com o extinto Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER).

CNH - Outra da Advocacia-Geral da União (AGU). No Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), obteve a cassação de liminar que havia suspendido o programa CNH do Brasil. A liminar havia sido proferida pela Justiça Federal em Mato Grosso, em atendimento a pedido do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/MT).

 

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