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Eu vi o Estado islâmico em Fortaleza
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Eu vi o Estado islâmico em Fortaleza

O episódio da escultura "Mulher Rendeira" foi como ver o estado islâmico ali na esquina de Barão do Rio Branco com Duque de Caxias. A primeira imagem que veio à cabeça foi a da barbárie jihadista. Há cinco anos, o EI marreteou uma parte da história da civilização. Aconteceu em Mossul, a segunda maior cidade do Iraque. Estátuas e artefatos milenares destruídos a golpes de marreta, furadeiras e brocas. Um horror repetido naquela agência do BB
Tipo Opinião
Obra de arte
Foto: REPRODUÇÃO Obra de arte "Mulher Rendeira", do escultor pernambucano Corbiniano Lins, desaparece após reforma da agência do Banco do Brasil, da igreja do Carmo, no Centro de Fortaleza.

Fortaleza - Foi como ver o estado islâmico ali na esquina de Barão do Rio Branco com Duque de Caxias. A primeira imagem que veio à cabeça foi a da barbárie jihadista. Há cinco anos, o EI marreteou uma parte da história da civilização. Aconteceu em Mossul, a segunda maior cidade do Iraque. Estátuas e artefatos milenares destruídos a golpes de marreta, furadeiras e brocas. Um horror repetido naquela agência do BB.

Se não com dolo, mas não indolor. Aliás, uma dor descomunal. Na sexta-feira, foi difícil acreditar nas primeiras postagens da escultura que não mais estava lá. Teria sido destruída por operários de uma construtora (?!) contratada para reformar o prédio. No domingo, o Banco enviou nota ao O POVO. “ O Banco do Brasil esclarece que durante uma obra de reparação em sua agência Praça do Carmo, em Fortaleza, a escultura ‘Mulher Rendeira’ foi indevidamente danificada e removida do local”.

No Oriente Médio, eram esculturas do século VII a.C.. No Centro da Capital do Ceará, Brasil, agência do Banco do Brasil, um pedaço da nossa história recente. Uma história maculada a cada referência demolida e, por esta razão, pobre de acervo. A obra do escultor pernambucano José Corbiniano Lins data de 1966. É dele também a estátua de Iracema, na Beira Mar de Fortaleza. Um tempo atrás estava com um buraco, depois taparam. Sabe-se lá como. E quem guarda a "Iracema Guardiã" de Zenon Barreto, ali no Aterro? Inaugurada em 1996, sofreu seguidas depredações até ganhar nova versão em 2012, inspirada no projeto original, de 1960.

Esculturas representam algo real ou uma abstração. Por vezes expressam o corpo humano ou uma divindade em forma de gente. Grosso modo, a arte mora na capacidade de atribuir significado a pedra, madeira, bronze ou qualquer outro material bruto. Formas espaciais, em terceira dimensão. Volume, altura e profundidade. A indiferença diante do acervo representa algo bem concreto. Expressa uma Cidade que insiste em ser pedra bruta.

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A propósito, qual a sua escultura preferida na sua Cidade? Compartilhe com a gente.

Foto do Jocélio Leal

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