Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.
Foto: Reprodução
Parte da página especial de Política de agosto de 2015
Na hierarquização das notícias, há uma lógica que fica mais clara ao se observar uma página do impresso. O que é mais relevante vai no topo da página como manchete, tem as matérias relacionadas, chamadas coordenadas, e outras como assunto distinto. No entanto, vão na mesma página, as secundárias.
A questão é que na internet e nas mídias sociais, tudo apresenta a mesma relevância, ainda mais quando se fala em feed e leitura de legendas, o que acaba ocorrendo, na maioria das vezes, sem o acesso ao material completo produzido.
Na semana que passou, a partir da morte da atriz Aracy Balabanian, ocorrida na segunda-feira, 7 de agosto, o jornalista Álvaro Pereira Júnior fez comentários em rede social acerca da repercussão que uma das notícias da Folha de S. Paulo havia ganhado. Um dos posts traz o seguinte: "O texto em questão não era o obituário principal. Era um dos muitos textos de apoio (sub-retrancas, no jargão jornalístico) da ampla cobertura da morte dessa grande atriz. E trazia informações da própria autobiografia de Aracy. Não eram fofocas nem especulações."
O texto em questão trazia o título: "Aracy Balabanian fez aborto e não quis se casar nem ter filho para cuidar da carreira". Horas depois o título foi alterado para "Aracy Balabanian explicou em biografia que sua carreira não comportava filhos". Além dessa matéria, foram produzidas várias outras a partir de uma série de aspectos. Não foi suficiente. Imediatamente, leitores resgataram casos recentes, que utilizaram de uma suposta estratégia "caça-cliques". Os obituários da jornalista Glória Maria e da cantora Rita Lee foram elencados como amostras de conteúdos utilizados com essa finalidade da audiência a qualquer custo.
Puxando para O POVO e resgatando um episódio de um passado não muito distante: à época do movimento anterior ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff, mais precisamente na página 17 da edição do dia 17 de agosto de 2015. O POVO pautou a jornalista Paula Lima para ir à Praça Portugal, em Fortaleza, palco das manifestações pró-impeachment, à época.
O foco específico da pauta era o comportamento daquela parte do eleitorado, das pessoas que ali foram participar do encontro. O título escolhido foi: "Queixa unânime durante protesto: a alta do dólar" e as falas dos cidadãos registradas no texto traziam trechos bem peculiares. Exemplo: "...demiti uma secretária, agora em casa tenho apenas três" e "Está tudo mais caro. Viajo com as crianças duas vezes por ano para a Disney, este ano fui com minha esposa para Nova York e Las Vegas, mas não vamos levar as crianças para a Disney".
O material foi publicado como coordenada de uma outra maior, a principal, que trazia, sim, tantos outros recortes daquela pauta, que mexeu com o País inteiro e teve repercussão internacional. A página "Especial Manifestações pelo Brasil" contava a principal, duas coordenadas, fotos (Manifestações em imagens, com registros de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília) e infográfico, com dados comparativos entre o movimento do dia 12 de abril e a do dia 17 de agosto daquele ano, pelo Brasil.
A repercussão foi gigante e a maioria delas criticando O POVO pelo recorte considerado tendencioso a ridicularizar os prós- impeachment. Esse acabou, para alguns, sendo o tom único da cobertura. Não era. Quem consome a informação de modo exclusivo via internet não consegue perceber que aquele conteúdo é apenas uma parte do todo, o que gerou na época a conclusão de que O POVO estava querendo ridicularizar os leitores que apoiavam a saída de Dilma do poder. Na internet não existe a hierarquia das notícias.
O fato é que as situações citadas expõem uma característica muito própria das redes sociais com esse debate escasso de as pessoas lerem como querem e usarem de sofisma, ao dar o tom que preferem, mesmo que não se sustente. E isso é feito com uma série de matérias quando usadas para ilustrarem como querem.
A busca por curtidas no meio médico
Outro caso que tem chamado a atenção nos veículos de comunicação é a exposição de exames de imagens e dos, hoje tão comuns, "antes e depois" de procedimentos estéticos.
Na última semana, foi possível perceber em alguns veículos de comunicação os resultados de exames de imagem da coluna lesionada do homem que foi atingido por um aparelho em uma academia, em Juazeiro do Norte.
Não. O POVO não publicou. Afinal, qual a necessidade?
Quem passou por situação semelhante, sabe o quanto é danoso deparar-se com um exame seu ou de algum ente querido em redes sociais. Ainda mais quando a publicação é oriunda de um profissional da área, um médico, sem autorização prévia e mais ainda quando o resultado do exame indica algo grave. O abalo no paciente e na família é instantâneo. Em que medida, o caça curtidas é levado em consideração? Eis mais uma das tantas lástimas da contemporaneidade.
A propósito: nesta segunda-feira, 14, e terça-feira, 15, será realizada a eleição da nova diretoria do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec). O POVO entrou fortemente neste debate? Avalio que não. Artigos e entrevistas na rádio, sim, mas o cenário renderia muito mais. Apesar de ser algo relacionado a uma categoria específica, impacta toda a população. A ver essa questão ética relacionada à postura de alguns profissionais nas redes sociais.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.