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As agências e as guerras
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Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.

Joelma Leal ombudsman

As agências e as guerras

Por falar nisso, e a Guerra da Ucrânia acabou?
Tipo Opinião
Reprodução da reportagem de página dupla publicada na terça-feira, 16  (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Reprodução da reportagem de página dupla publicada na terça-feira, 16

A publicação de matérias oriundas de agências de notícias é uma prática comum entre os veículos de comunicação do mundo todo. Tanto para notícias nacionais como internacionais.

Em tempo: desde 2018, O POVO compõe a Rede Nordeste, que integra Pernambuco e Bahia, por meio dos veículos Jornal do Commercio e Correio, respectivamente. É bem verdade que a movimentação entre o trio está um tanto minguada.

No O POVO, os leitores encontram notícias e fotos com assinaturas das Agence France-Presse (AFP), Agência Estado, Agência Brasil e DW. Funcionam como aliadas para os veículos que não possuem correspondentes nas mais diversas regiões do País e do Mundo. A propósito: O POVO conta com o jornalista João Paulo Biage, em Brasília, que - em um primeiro momento - é voltado a conteúdos jornalísticos focados em Política, no entanto, pode ser acionado para cobrir qualquer outro assunto. Este é o desafio dos correspondentes: estar pronto para apurar e transmitir notícias de qualquer natureza.

Pois bem, na noite do sábado, 13 de abril, o Irã lançou um ataque direto contra Israel. Na edição impressa do domingo, 14, foi publicada a matéria com o título "Irã ataca Israel com drones e aprofunda conflito no Oriente Médio". A foto que ilustrava o conteúdo era da AFP e o texto foi identificado como sendo da "Agência Estado com Agências Internacionais".

No portal O POVO, ainda no domingo, o tema rendeu uma série de matérias, mas uma delas, intitulada "Por que o Irã atacou Israel?", incitou um longo e-mail de uma leitora, destacando sete pontos diversos. Diferentemente da maioria, o texto em questão tem a assinatura de um jornalista da Casa. A seguir, reproduzo trechos, já compartilhados internamente com os profissionais do Grupo:

- "Suposto ataque de Israel" à embaixada iraniana em Damasco. Não existe "suposto": o ataque foi feito por Israel, nunca houve dúvida disso.

- O texto tem palavras e expressões sem sentido, como "grupo paralelo do Irã", "miliitares", "Relações entre Irá e Israel", "Era o país onde monarca em que reinavam os xás", "luta por um estado palestino" (com E minúsculo), "Tornaram-se comuns em Terrã" e "O Irã começou a ficar cada vez mais isolado e desenvolveu planejamento destinado a evitá-lo", "mais de 300 projéteis — com 170 drones e mais de 120 mísseis balísticos — foram disparados". Têm uma estrutura estranhamente similar à de textos em inglês sobre o tema.

- "O presidente Joe Biden reafirmou o "firme compromisso" da América com a segurança de Israel". Esse hábito de usar "América" como sinônimo para "Estados Unidos" tem sido questionado nos próprios Estados Unidos, trazer isso para um texto em português é reforçar um vício de linguagem que esconde uma intenção.

- Frases como "Para o Irã, Israel não deveria existir", "O Irã seria movido pelo antissemitismo dos chamados aiatolás", entre outras, deixam um indicativo de posicionamento que não cabe em um texto que se propõe noticioso.

- Como um todo, o texto reflete uma linha que vem sendo adotada pela imprensa geral e é extremamente problemática: tomar tudo o que vem de fontes ligadas a Israel como verdade e tudo o que vem de fontes ligadas à Palestina como merecedor de checagem. Por que se noticia tudo o que vem de fontes palestinas com um ar de ceticismo e tudo o que vem de Israel de forma inquestionável?

Sobre o último item, especificamente, o editor-chefe de Política e Mundo, Érico Firmo, discorda: "Não penso que nossos conteúdos tomem como verdade o que vem de Israel, nem como merecedor de checagem o que vem dos palestinos. Tudo é atribuído às fontes".

Nem todas as edições impressas trazem a editoria Mundo, porém na segunda-feira, 15, foram duas páginas para o assunto. Já na terça-feira, 16, a reportagem de página dupla teve o conflito como tema, apresentando três textos advindos de agências. Penso que seria o caso de ter acrescentado um "Ponto de Vista" ou um "Confronto de Ideias", espaços já existentes no O POVO. Do jeito que foi publicado, ficou um tanto relatorial.

Além das páginas Mundo e do portal, no decorrer da semana, o ataque repercutiu em Economia, na O POVO CBN, O POVO News e mídias sociais. Sem dúvida, ainda há muito a ser abordado nas mais diversas plataformas. Por falar nisso, e a Guerra da Ucrânia acabou? Pelo menos, neste mês, não recordo ter visto nada no O POVO, exceto um vídeo de 1'44'' no YouTube do O POVO, na sexta, 19.

Conteúdos próprios

Sobre o uso de material de agências, Érico Firmo explica que são agências com as quais trabalham há algumas décadas, com as quais mantêm relacionamento e avaliação de conteúdo e da seriedade jornalística. Fatores considerados na escolha.

"Os conteúdos de agência não são desprovidos de interferência nossa. Há interferência em títulos e textos, materiais podem ser fundidos e cruzados, com informações de diferentes agências. A interferência começa na própria seleção do que publicar ou não publicar. Porém, trabalhar com agência nos permite ter informações do local dos acontecimentos. A AFP, por exemplo, traz o relato de jornalistas que ouviram explosões, embora Israel informasse que praticamente tudo foi interceptado. Via agência, temos acesso a fontes in loco que dificilmente conseguiríamos acessar a distância. Produzimos também conteúdos próprios de análise e reportagens, como a que sairá no domingo próximo, 21 (hoje)", adianta.

Érico se refere à matéria "Irã x Israel: a guerra que ninguém quer" ao mencionar a análise. Ainda sobre o fluxo jornal e agências, ele ressalta que os conteúdos são avaliados, logo podem ser despublicados ou remanejados, de acordo com a editoria, assim como aprofundado em relação ao que vai para a capa, redes sociais e impresso.

Vale lembrar que O POVO conta com uma coluna focada em política internacional. Publicado às terças-feiras, o material é escrito pelo jornalista João Marcelo Sena, também editor de Política. Por falar nisso, não foi publicado o "aviso de férias" do colunista na edição dessa semana.

 

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