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O Bagatelle, o Demoiselle e os ruídos
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Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.

Joelma Leal ombudsman

O Bagatelle, o Demoiselle e os ruídos

Em resumo, a assessoria de imprensa da construtora trabalhou bem. Obteve espaços preciosos. No entanto, O POVO mostrou apenas um dos lados do cenário
Tipo Opinião
Uma das entradas dos edifícios funciona pela rua Coronel Jucá (Foto: Reprodução / Google Maps)
Foto: Reprodução / Google Maps Uma das entradas dos edifícios funciona pela rua Coronel Jucá

Quando se pensa em coluna social, natural que haja a conexão com festas, frivolidades, luxo e riqueza. É. Também.

Na edição impressa da última quarta-feira, 28 de agosto, a nota intitulada "A Cidade não para", na coluna do jornalista Clóvis Holanda, causou indignação em leitores, principalmente em moradores dos edifícios mencionados.

O texto, na íntegra, trazia o seguinte: "Arquiteto e empreendedor da construção civil, Jayme Leitão inova não apenas nos projetos que assina, mas também na forma de fazer negócios. Tem encontrado em condomínios de prédios antigos e já com estruturas desgastadas e, em alguns casos, até preocupantes, oportunidades para novas edificações nas zonas mais nobres da Capital. É o caso do quarteirão onde estão os edifícios Bagatelle e Demoiselle, na Santos Dumont, em processo de negociação para se tornarem modernas torres num futuro próximo".

Cada um dos edifícios citados é composto por 15 andares, totalizando 120 unidades, e ambos estão localizados em área nobre da Cidade, entre as cobiçadas avenidas Santos Dumont e Dom Luís, em Fortaleza. Internamente, no mesmo dia da publicação, inseri o estranhamento no comentário enviado, diariamente, aos profissionais do O POVO.

Um dos leitores fez uma referência perspicaz ao filme Aquarius, que relata a história da única moradora de um prédio da orla de Recife, que resiste à venda do local: "Estou indignado, e não somente eu, com essa nota publicada na coluna do Clóvis Holanda. Antes de embarcar em nota de assessoria, seria importante que ele checasse os fatos. Muitos dos moradores não querem vender suas unidades. Lembra o filme Aquarius? Pois é, se um não quer vender, ele não pode botar pra frente o plano dele, que vem se arrastando desde antes da pandemia. Ele quer comprar, derrubar, construir uma favela vertical para os atuais moradores e um outro prédio de luxo para ele vender a mais de cinco milhões. Essa é a verdade. Muitos não querem isso. Essa nota é um tipo de pressão, mas a resistência continua. Até porque não existe essa história de estrutura comprometida. Lamentável!!".

No decorrer do dia, a nota foi reproduzida no perfil Pause, no O POVO, que é alimentado pelo colunista, no Instagram, o que, naturalmente - elevou a repercussão do material e consequentemente a procura pelos canais de contato com a ombudsman.

Considerações técnicas e urbanísticas

Diante da limitação do espaço desta coluna, irei reproduzir apenas alguns deles. Entretanto, por meio do post no Instagram, é perceptível a revolta presente nos comentários.

"Essa questão vai muito além da insatisfação dos moradores. Há, também, considerações técnicas e urbanísticas envolvidas, levando em conta que em Fortaleza tem sido muito vantajoso economicamente erguer prédios até 50 andares, mesmo que isso represente a demolição de outros. Isso tem muito a ver com a legislação que regulamentou a outorga onerosa do direito de construir. A partir dessa vantagem econômica, nas próximas décadas, muitos prédios de quatro andares localizados, por exemplo, na Varjota, no Meireles ou na Aldeota, serão demolidos", calcula o morador Rérisson Máximo.

Na visão de Rérisson, os prédios contam uma parte importante da história da Capital: "É possível observar ciclos de construção na cidade: houve o período de edificações de 2, 4, 10 e 15 até 23 andares e, agora, os superprédios. Demoiselle e Bagatelle, de alguma maneira, representam um capítulo da história de Fortaleza. Foram erguidos na década de 1970, sendo um dos primeiros prédios residenciais verticalizados daquela região. Enquanto poderíamos discutir se eles deveriam ser tombados e preservados, estão querendo é demolir. Isso é muito simbólico", complementa o arquiteto, que também atua como conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU-CE).

O síndico do Demoiselle e Bagatelle, Antônio Carlos Siebra, reforça que as torres estão de acordo com as recomendações exigidas, em relação às partes hidráulica, elétrica e infraestrutura, assim como a inspeção predial. Ele acrescenta que o certificado de inspeção predial está prestes a ser emitido, atestando o bom estado de conservação e a segurança das edificações. "Eu penso que qualquer conciliação é melhor que briga e, de fato, muitos moradores ficaram chateados com a nota escrita sem cuidado. Pessoas de fora entraram em contato para saber se realmente íamos vender e essa é uma possibilidade nula. Penso que uma retratação de vocês seria importante, como foi feito em outro momento".

O "outro momento" citado por Antônio Carlos diz respeito a uma nota publicada na coluna do jornalista Jocélio Leal, no dia 13 de março de 2021. No dia seguinte, O POVO trouxe a matéria "Moradores negam acordo para demolição das torres Demoiselle & Bagatelle, na Aldeota".

Em tempo, também na quarta-feira, 28, o portal O POVO publicou a matéria "Beira Mar terá mais um condomínio de luxo de R$ 320 mi de VGV", mencionando a mesma construtora alvo dessa questão.

Impreciso, a começar pelo título, já que ao ler a matéria, o condomínio destacado não é na Beira Mar, mas, sim, na rua Camocim, no bairro Meireles, conforme dito no lide. Mais à frente, um parágrafo com clara relação com o Demoiselle e o Bagatelle: "A empresa também está envolvida em um projeto chamado 'Lazarus', em que há uma transformações (sic) de prédios antigos, com estruturas que precisam ser reformuladas, para novos empreendimentos. O acordo é feito com as famílias residentes".

Resposta do colunista

Procurado pela ombudsman, o jornalista Clóvis Holanda enviou a seguinte resposta: "Em momento algum quis 'celebrar' as operações da Reata Engenharia. O que a nota faz é informar que a empresa tem feito esse tipo de negociações com prédios da área nobre, alguns finalizados, e cita os edifícios da Santos Dumont como exemplo de negociações em processo, o que não quer dizer que venham a ser concluídas. Afinal, trata-se de uma negociação em andamento, cuja concretização dependerá da vontade das partes. Também não disse que os prédios estavam em condições preocupantes, falei que a abordagem da construtora é em cima de construções antigas e, em alguns casos, preocupantes. Ademais, quem acompanha meu trabalho, sabe que, diferentemente de outras colunas do gênero, não trato apenas do que é belo e merece aplausos, mas tento apresentar um panorama do que ocorre na Cidade, como é o caso."

Em resumo, a assessoria de imprensa da construtora trabalhou bem. Conseguiu espaços preciosos. No entanto, O POVO mostrou apenas um dos lados do cenário.

É fácil recordar exemplos polêmicos acerca da demolição de prédios históricos. Além do recente São Pedro, há um icônico bangalô, na esquina das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, na Aldeota, e o casarão que sediava a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública do Ministério Público do Estado, também na av. Santos Dumont.

A preservação do patrimônio histórico é uma das bandeiras do O POVO. A propósito, "Bagatelle & Demoiselle" foi o título de uma crônica do jornalista Demitri Túlio, em 5 de maio de 2012.

Foto do Joelma Leal

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