Coordenadora de política do O POVO. Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e amante de carros em alta velocidades em pistas
Coordenadora de política do O POVO. Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e amante de carros em alta velocidades em pistas
Quando se achava que já se tinha visto de tudo na Ferrari, a equipe prova que sempre tem espaço para mais surpresas. A frustração do fim de semana desastroso no Brasil parece ter sido o estopim para o presidente da equipe, o herdeiro John Elkann, começar a atirar. O clima já não andava bom, com os resultados bem abaixo do esperado. A equipe está em quatro no Campeonato de Construtores, com a Mercedes abrindo espaço para garantir o segundo lugar.
“(Os pilotos) deveriam falar menos e se concentrar em pilotar. A Ferrari precisa de pilotos que pensem menos neles mesmos e mais na equipe”. O presidente poupou a equipe técnica, alegando que o carro melhorou e que o “x” da questão da equipe seria “todo o resto”. E quem sobra nessa equação, tirando mecânicos, engenheiros e a galera do box? Lewis Hamilton e Charles Leclerc.
A Ferrari tem muitos problemas. Um dos mais gritantes é filosófico, estrutural, que impacta como a equipe vê a si mesma e como se organiza internamente. A "glória eterna" barra o incômodo de um hiato desde que a equipe foi protagonista de alguma coisa, qualquer coisa, dentro da Fórmula 1. O título de Construtores mais recente foi em 2008, enquanto o último piloto da equipe a levantar a taça foi em 2007 com Kimi Räikkönen. Nesses 17 anos, foi espaço para hegemonias surgirem e acabarem.
A Mercedes ganhou oito títulos consecutivos, a RBR ganhou seis títulos, divididos em duas eras, e a McLaren matou um jejum que durava mais de 26 anos. A Ferrari viu entrarem e sairem diversos pilotos, alguns que já tinham sido campeões em outras equipes. Não foi suficiente para prosperar. Agora, o presidente critica os atuais pilotos.
Um é heptacampeão conhecido, inclusive, por gostar de participar ativamente de aspectos técnicos do carro. A chegada ao time em uma megassimbiose midiática. O outro é um piloto que vem dedicando sua juventude na equipe desde 2018. Mais que dedicação, a carreira de Leclerc tem sido mesclada com a Ferrari, na defesa (e venda) dos ideais da escuderia.
Se o problema eram os pilotos, a equipe mudou nesses 17 anos. Mas o que não mudou? A administração da equipe, a forma como se lida com as críticas internas. É um velho hábito de persistir no que, claramente, não funciona, porque a equipe não seria capaz de errar. O núcleo duro e fechado que não parece se moldar a novas realidades no ritmo que outras equipes já identificaram ser necessário para vencer. Tão cristalino que a resposta ao presidente foi unânime: pilotos da equipe, torcedores, comentaristas e ex-pilotos apontaram, em algum nível, a incongruência da fala. No fim, a crítica de Elkann só ajudou a piorar o clima na equipe e mais nada.
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