
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Sabemos que uma eleição começa bem antes do período que a lei reserva às campanhas. Articulações políticas, recomposições partidárias, negociações de espaço, são alguns dos movimentos que ocupam os bastidores e dão o tom do que será a disputa pelas vagas que se aproxima. Em Fortaleza, a próxima eleição para prefeito começou quando, em 2022, parte do PDT alinhada à atual gestão municipal optou pela ruptura da histórica aliança com o PT, deixando um rastro de más decisões.
O leitor lembrará do enredo. O partido negou, em decisão pouco justificável, à então governadora Izolda Cela a possibilidade de se candidatar à reeleição e decidiu lançar o nome de Roberto Cláudio para o governo. Era uma decisão ruim por inúmeros motivos, já apontados por muitos analistas à época: Izolda Cela estava consolidada como governadora bem avaliada, tinha a possibilidade legal de se reeleger, o que parecia natural, dada a receptividade de seu governo, e era um nome palatável para o PT, garantindo a coesão política que governou bem o estado nas últimas décadas.
Ao ignorar o movimento político natural para atender aos desejos de Ciro Gomes e do próprio Roberto Cláudio, o PDT criou um impasse evitável: o eleitor não gostou de ver a ex-governadora escanteada e, aproveitando a onda positiva da candidatura de Lula, reforçada pelo capital político de Camilo Santana, levou o candidato petista ao poder no Estado, deixando tanto o atual prefeito de Fortaleza como Roberto Cláudio no limbo da súbita oposição.
Em várias oportunidades, Sarto já manifestou seu ressentimento com a dinâmica política que o colocou em uma armadilha eleitoral. "Tinha que ser na minha vez?", é o que repete, vez por outra, nas entrevistas que oferece, deixando claro que poderia ter sido diferente. O que o cidadão fortalezense passou a testemunhar foi um movimento muito desconfortável: rompida a aliança entre município e estado, o prefeito e sua base parlamentar mergulham numa oposição que simplesmente não convence, porque justificada apenas pelo interesse eleitoral. Um interesse bastante óbvio, diga-se de passagem.
O cidadão, afinal, não é nada bobo: como um governo do Estado que até bem pouco tempo parecia o melhor dos amigos de repente se torna a própria personificação da incompetência? Como explicar para a população que um dos governadores mais bem avaliados das últimas décadas não soube escolher suas prioridades?
A novela da ponte dos ingleses, que nos ocupou essa semana, é mais um capítulo desse impasse melancólico que se tornou a política local. O prefeito e seu vice foram às redes sociais anunciar que terminariam a obra de requalificação da ponte, que o estado supostamente abandonou. O estado refutou, indicando omissão da prefeitura, em mais um episódio de troca de farpas via internet. Enquanto isso, discreto, nos bastidores, Cid Gomes empreende um projeto difícil, mas importante: trabalhar pela recomposição.
Volto a repetir aos leitores uma verdade trivial: o eleitor não é bobo e, em tempos de rede social, tudo observa, registra e interpreta. O massacre das últimas eleições deveria ter deixado esse ensinamento. Pelo que temos visto, parece que não. n
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