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O Brasil de 2026 começa no Ceará
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor

O Brasil de 2026 começa no Ceará

Em um Brasil cada vez mais evangélico, não se pode ignorar o peso de uma direita pautada por discursos ultraconservadores nos costumes e por uma visão de Estado minimalista
FORTALEZA-CE, BRASIL, 03.06.2025: Oposição se reúne na Assembleia, com Wagner e Roberto Cláudio.  (Foto: Fabio Lima/ OPOVO) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA-CE, BRASIL, 03.06.2025: Oposição se reúne na Assembleia, com Wagner e Roberto Cláudio. (Foto: Fabio Lima/ OPOVO)

Uma das maiores dificuldades da análise de conjuntura é a capacidade de ler acontecimentos aparentemente desconectados de modo que eles revelem pistas sobre certas tendências políticas. Não estamos no campo da exatidão: trata-se de possibilidades, fundadas em sincronicidades e aproximações nem sempre evidentes.

Vejamos o que ocorreu nos últimos dias no Ceará, a fim de perceber como esses fatos podem indicar uma tendência. Começo pelo anúncio de que Roberto Cláudio deixou o PDT para ingressar no União Brasil. Rompendo com a linhagem política que o lançou, o ex-prefeito foi visto abraçado a antigos antagonistas não apenas no campo partidário, mas também no ideológico.

Estaria surgindo uma nova persona política, mais radicalizada e opositora ao progressismo de centro-esquerda, ou trata-se apenas da evidência de um político guiado, sobretudo, pela sobrevivência, sem qualquer atenção à mínima coerência esperada de quem pretende ser longevo na vida pública? As urnas costumam ser arredias ao oportunismo puro e simples.

O que o movimento de Roberto Cláudio indica é a atenção da Direita com o Ceará e o potencial das lideranças locais. Uma evidência disso foi o lançamento, pelo PL, com Valdemar Costa Neto e Michelle Bolsonaro à frente, do nome de Priscila Costa ao Senado Federal pelo estado. Todos os olhos estão voltados para essa casa legislativa, considerada uma joia estratégica na eleição de 2026, e a parlamentar tem ganhado força no bolsonarismo cearense.

Ainda no Ceará, a convenção do PL apresentou ao país um cenário preocupante para 2026: big techs se mostram cada vez mais confortáveis em orientar partidos e influenciadores no uso de ferramentas de inteligência artificial em prol de candidaturas e programas. Considerando que o governo Lula enfrenta sua pior avaliação e que o bolsonarismo mantém forte fidelidade ao discurso de seu líder inelegível, tudo indica que teremos uma eleição imprevisível, com protagonismo das redes sociais, uso sistemático de IA, tensão nos limites do aceitável e um grande teste à capacidade da Justiça Eleitoral de garantir a integridade do processo.

Em um Brasil cada vez mais evangélico, como revelaram os dados sobre religião divulgados ontem pelo censo demográfico, não se pode ignorar o peso de uma direita pautada por discursos ultraconservadores nos costumes e por uma visão de Estado minimalista. Uma contradição difícil de sustentar em um país ainda profundamente desigual e socialmente vulnerável.

O cenário é complexo. Temos hoje a fotografia de um Brasil fraturado, de política espetacularizada e polarizada, à espera de uma eleição que, ao que tudo indica, nos legará um futuro de incertezas e extremismos.

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