
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
O que acontece quando líderes populistas usam a economia como arma política? Donald Trump pode nos demonstrar. Embora o americano venha utilizando seu jogo de tarifas para ameaçar parceiros comerciais há meses, foi a decisão de sobretaxar o Brasil que expôs com mais clareza a falta de racionalidade econômica da política tarifária de Trump. As tarifas não seguem uma lógica econômica, são antes usadas como sanções políticas aplicadas por um presidente imprevisível e irracional.
O caso brasileiro é mais grave também pelo ataque direto à soberania do país. Na prática, o Brasil recebeu uma carta-chantagem, que condiciona a redução da tarifa imposta à interrupção de um processo judicial em que é réu Jair Bolsonaro, em curso no Supremo Tribunal Federal. A condição é uma exigência de rendição. Nenhuma democracia livre pode submeter a autonomia de seu Poder Judiciário aos desejos de uma liderança externa.
Quem melhor definiu a medida foi o Nobel de Economia Paul Krugman: "maligna e megalomaníaca". O pesquisador foi além, afirmando que Donald Trump deve sofrer impeachment por manejar de forma tão partidária a política econômica de seu país. Desde que assumiu, o vai-e-vem das tarifas vem implodindo a ordem internacional consolidada no pós-Segunda Guerra, trazendo uma boa dose de incerteza e risco para as relações comerciais entre os países.
A medida contra o Brasil é resultado direto da articulação do bolsonarismo com seus aliados internacionais. Eduardo Bolsonaro deixou suas impressões digitais no resultado: comemorou a medida, sugerindo que "esta não será a única novidade vinda dos EUA neste próximo tempo". Concluiu a postagem pedindo apoio à nota de Donald Trump na rede social do americano. Parece inédito termos um deputado federal eleito que, embora licenciado, se ocupe unicamente de conspirar contra os interesses nacionais em território estrangeiro.
O governo federal tende a ganhar dividendos com esse anúncio. É extremamente difícil à oposição explicar ao povo brasileiro as razões para comemoração. Além disso, as contradições de Trump são evidentes demais para disfarçar: se as tarifas estão sendo aplicadas contra parceiros que têm superávit na balança comercial com os EUA, por que penalizar o Brasil, que importa mais do que exporta aos americanos? Se tem alguém vem levando "vantagem", segundo a régua dos americanos, certamente não somos nós brasileiros.
Lula tem recebido oportunidades para respirar e construir um caminho para sua reeleição em 2026. A diplomacia da chantagem não pode ser naturalizada, e o brasileiro é capaz de entender bem a injustiça, seja a tributária, seja a tarifária: é só deixar a boa comunicação fazer seu trabalho que a aprovação vem.
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