
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
As instituições brasileiras estão lidando com um teste difícil. Em ano pré-eleitoral, precisam administrar as ameaças renovadas de um Estado poderoso, ao mesmo tempo em que protegem a economia nacional, a soberania do Estado e a independência de seu Poder Judiciário.
Em entrevista veiculada na última quarta-feira, o deputado federal Eduardo Bolsonaro voltou a afirmar que está disposto a ir até as últimas consequências em seu intento de punir Alexandre de Moraes, inclusive com a possibilidade de incluir, entre os possíveis sancionados, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A condição para cessar as hostilidades é muito clara: a aprovação da anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Embora estejamos, por aqui, ansiosos e preocupados com o desfecho dessa articulação, é preciso destacar que os cidadãos norte-americanos não vivem uma situação mais confortável: só nesta semana, seu presidente determinou que a Guarda Nacional tome o controle da segurança pública de Washington e estabeleceu o controle estatal do conteúdo das exposições nos prestigiados museus da capital americana. Como sabemos, por experiência histórica, um governo autoritário não nasce de um ato único, é antes uma escalada de atos que vão estressando os limites da democracia.
A atuação do filho de Jair Bolsonaro em sua defesa tornou o país refém de outro país, que vem opinando e valorando políticas públicas, autoridades e decisões que só interessam ao Brasil. Há alguns dias, vimos o governo norte-americano equiparar o Brasil a países com nível alto de deterioração das liberdades democráticas. É como se, de uma hora para outra, tivéssemos nos tornado, aos olhos do Tio Sam, uma republiqueta sem lei ou ordem, administrada por déspotas e em vias de cataclisma social.
A atuação do deputado nos expõe a maior contradição já encontrada no discurso bolsonarista: a do patriotismo incondicional. O "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos" tão exaustivamente repetido nas campanhas eleitorais parece ter sido esquecido pelos políticos que, sem qualquer pudor, se abraçam à bandeira norte-americana e levantam bandeiras pró-Trump no Parlamento brasileiro.
Entendido como um sentimento de vínculo e lealdade à própria pátria, expresso no desejo de preservar, valorizar e defender seus interesses, cultura, símbolos, instituições e território, o patriotismo requer dos nacionais uma atitude de profundo respeito à origem, quando o individual cede espaço ao nacional, ao coletivo. Nada mais distante da conduta dos Bolsonaro. O patriotismo pede dignidade, senso de responsabilidade e coerência, valores que o bolsonarismo ignora em sua busca alucinada pela preservação do poder.
Análises. Opiniões. Fatos. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.