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A política à espera de um julgamento
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor

A política à espera de um julgamento

O julgamento do grupo político envolvido nos atos golpistas começará em poucos dias, em 2 de setembro. O processo transcorreu com celeridade e tudo indica que o país acompanhará com atenção, em tempo real, os atos derradeiros
EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro foi interrogado no STF (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro foi interrogado no STF

O ano de 2025 ficará marcado na política brasileira deste século como uma fonte inesgotável de instabilidade. Seja por influência de eventos externos como as tarifas e sanções americanas, ou da crescente importância geopolítica dos Brics, seja pela dinâmica interna do grupo político de Jair Bolsonaro, 2025 produziu um resultado evidente: as eleições do ano que vem devem ser mais um exemplo de eleição lotérica, de resultado imprevisível.

O julgamento do grupo político envolvido nos atos golpistas começará em poucos dias, em 2 de setembro. O processo transcorreu com celeridade e tudo indica que o país acompanhará com atenção, em tempo real, os atos derradeiros, quando a corte se reunirá para julgar e, se for o caso, aplicar as penas a quem considerar culpado. Muito da dinâmica da conjuntura dependerá desse resultado: eu diria que o futuro político do Brasil dependerá de como o país reagirá a isso.

Para a esquerda, importa saber quem emergirá como sucessor de Jair Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais. Para direita, importa traçar algum caminho de composição e alinhamento após a desagregação causada por Eduardo Bolsonaro e seu esforço conspiratório no exterior, que tem deixado seus antigos aliados de campo um tanto zonzos ante tantas contradições.

É a contradição que engessa a direita, pois ela necessita do capital eleitoral de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que tem na associação a um candidato com seu nome um obstáculo concreto à vitória de uma chapa majoritária. A rejeição aos Bolsonaro ficou muito mais palpável após os atropelos vindos do exterior e da divulgação dos áudios extraídos do celular do ex-presidente.

Esse o principal paradoxo do presente: é necessário o apoio político de Bolsonaro para a direita eleger alguém, ao mesmo tempo em que tem no nome de sua família um empecilho para uma vitória confortável. No mundo ideal desse campo, Jair sai de cena ungindo Tarcísio de Freitas como sucessor. É um nome que parece agradar a muitos atores por sua aparência de moderação e respeito à institucionalidade.

Com ele, a eleição se tornaria um embate menos polarizado entre petismo e bolsonarismo e passaria a um debate entre continuidade governista ou não. As chances de vitória não seriam desprezíveis. Como o humor do ex-presidente e sua disposição kamikaze são imprevisíveis, é possível que Bolsonaro opte por ir ao tudo ou nada, deixando que a direita chegue fragmentada, alimentando hostilidades internas e dispersando o campo.

O que veremos no ano que vem? Eu não me arriscaria a prever ou apostar num nome. Mais importante do que esse grande embate, eu diria que devemos observar como se dará a disputa por outro território cada vez mais estratégico: o Parlamento.

 

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