Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.
Quando o poder público deixa de responder as demandas apresentadas pelo jornalista, é primordial buscar fontes diversas para ampliar a apuração de um fato importante, além de deixar claro ao leitor que o ente público foi procurado e não respondeu
A semana começou com uma notícia trágica na área de segurança pública do Ceará. Na noite de domingo, 24, um adolescente de 14 anos foi espancado, torturado e morto dentro do Centro Socioeducativo do Canindezinho. As informações foram publicadas no portal O POVO na segunda pela manhã. A vítima estava recolhida ao centro após ter matado para roubar um motorista em 2020. O POVO levou a informação para o jornal impresso na terça e na quarta-feira. Além de continuar com publicações no portal.
Na terça-feira, 26, em comentário interno que escrevo à Redação, destaquei duas críticas ao material publicado. Primeiro pelo tamanho da cobertura: apenas um texto sem desdobramentos para algo tão grave. A matéria trazia informações importantes como detalhes do crime, o início da investigação por parte do Estado e a identificação feita pela secretaria dos envolvidos no assassinato. Mas ficava nessa factualidade. Não ampliou a discussão sobre a situação do centro social, a forma cruel como o jovem foi assassinado e, principalmente, não mostrou qual é a responsabilidade do Estado em relação ao fato, já que o adolescente estava sob guarda institucional do ente público. O garoto de 14 anos foi enforcado e cortado com gilete dentro de um espaço que deveria ser de proteção. Considero que o caso poderia ser até a manchete do jornal, mas não foi levado nem como destaque à capa, como ocorre com matérias importantes da edição. Precisamos nos indignar por tamanha violência. Não é porque um jovem responde por um crime, por pior que esse crime seja, que ele mereça ser assassinado em um local onde deveria ser trabalhada a sua socialização.
Na quarta-feira, 27, O POVO publicou mais informações sobre o caso. Desta vez, destacando que o Ministério Público havia instaurado procedimento administrativo para apurar o homicídio dentro de uma instituição do Estado. Desde então, ainda não conseguimos explicar para o leitor qual a responsabilidade do Estado neste caso. Independente da investigação e dos culpados de forma direta serem punidos, o Estado tinha a obrigação de proteger esse garoto, que estava sob a sua custódia. Ainda na terça-feira, um leitor mandou mensagem sobre o caso. "O jornal precisa apurar sobre a morte do adolescente no Centro Socioeducativo. Não importa o crime que cometeu", apelou.
Informações importantes
A editora do Digital, Sara Oliveira, explica que a equipe da área de segurança pública está desde segunda-feira envolvida com a cobertura do caso. Inicialmente, com as informações da ocorrência. "Foi solicitado à Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas): entrevista com representante da pasta (negada), informações sobre como o crime aconteceu (fomos direcionados à Secretaria da Segurança Pública, que nos respondeu por nota apenas confirmando a morte e a condução dos adolescentes suspeitos à delegacia) e dados sobre o monitoramento feito pelos agentes (não tivemos resposta)". Sara destaca que, para avançar nas informações sobre o caso, a equipe também publicou uma entrevista com o juiz da 5ª Vara da Infância e Juventude de Fortaleza, Manuel Clístenes, que descreveu a motivação do crime e os últimos movimentos do adolescente dentro do Centro Socioeducativo.
"Os conteúdos publicados trazem as notas oficiais da Seas e da Segurança Pública, o que mostra a responsabilidade do Estado diante do ocorrido. Conseguimos ainda ter acesso aos ofícios trocados entre Ministério Público, que investigará o caso, e a Seas. O que também reforça que é o Estado do Ceará responsável. Entretanto, sabemos da importância de insistirmos na apuração sobre a estrutura do sistema socioeducativo cearense e das responsabilidades específicas sobre o caso e sobre as ações tomadas pela administração do local antes de o crime acontecer", explica Sara, que informa ainda que será realizada uma reportagem para aprofundar o assunto.
Entendo as limitações da apuração quando o poder público não responde às demandas, mas é nossa função ir atrás de todos os pontos importantes de uma reportagem. Nesse caso, por exemplo, poderíamos entrevistar um advogado, alguém da área de direitos humanos, para explicar qual a responsabilidade direta do Estado em relação a esse crime e o que a família do adolescente morto deve esperar do Poder Público. Além disso, mostrar qual a segurança que as famílias que possuem filhos abrigados podem ter ao saber que tal fato pode acontecer lá dentro. Independente do crime cometido, o centro tem o objetivo de recuperar o infrator para o devolver à sociedade. A vingança não deve fazer parte do nossos sistema de justiça.
ATENDIMENTO AO LEITOR
DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA, DAS 8H ÀS 14 HORAS
"A Ombudsman tem mandato de 1 ano, podendo ser renovado por acordo entre as partes. Tem status de editora, busca a mediação entre as diversas partes. Entre suas atribuições, faz a crítica das mídias do O POVO, sob a perspectiva da audiência, recebendo, verificando e encaminhando reclamações, sugestões ou elogios. Ela também chefia área editorial focada na experiência do leitor/assinante e que tem como meta manter e ajustar o equilíbrio jornalístico a partir das demandas recebidas e/ou percebidas. Tem estabilidade contratual para o exercício da função. Além da crítica semanal publicada, faz avaliação interna para os profissionais do O POVO.
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