
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
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A sexualidade é uma dimensão humana subjetiva, mas também política. A partir do sexo dos indivíduos, papéis e lugares sociais são erguidos. Em tempos pretéritos, a identidade de gênero trilhava um itinerário fixo que se bifurcava em masculino e feminino. Devido a essa divisão, a estrutura social bem como o universo pessoal eram organizados. Nessa esteira, a dupla moral sexual designava aos homens o exercício de uma sexualidade livre e impunha tabus sexuais às mulheres.
Durante décadas, mulheres e indivíduos que não se encaixavam nos limites dos territórios masculino e feminino lutavam pelo direito de ter direitos. Paralelamente, os estudos de gênero avançavam e sua epistemologia lançou, no cotidiano, conceitos como diversidade e orientação sexuais, mulher cis, trans entre outros. As teorias alimentavam a luta política, tornando-a mais consciente e resultando em avanços. Em 1990, a OMS retirou o homossexualismo do Código Internacional de Doenças (CID-10) e, 29 anos depois, o STF criminalizou a homofobia e a transfobia. No entanto, o texto legal não encontrou o contexto político-social favorável, pois, no mesmo ano, Bolsonaro iniciava um governo misógino e aporofóbico.
Em 2019, um vídeo de Damares Alves, então ministra do governo Bolsonaro, circulou todo o país. Nele, Damares vaticinou: “é uma nova era no Brasil, menino veste azul e menina veste rosa” (sic). Da data do vídeo aos dias atuais, o debate público ficou cada vez mais empobrecido. A derrota de Bolsonaro na última eleição não arrefeceu o fundamentalismo sexual, episódios recentes demonstram que a sexualidade dos indivíduos invadiu o debate político de forma permanente. No último dia das mulheres, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) simplificou a complexa questão da identidade sexual afirmando, em seu discurso, que mulheres trans são “homens que se sentem mulheres” (sic).
Mais recentemente, a vereadora Flávia Borja (PP) de Belo Horizonte subiu à tribuna e falou: “Deus fez homem e mulher e o que passar disso não é bem-vindo na nossa cidade” (sic). Umberto Eco, no ensaio "Construir o inimigo e outros escritos ocasionais", afirma que “parece que é impossível prescindir do inimigo. A figura do inimigo não pode ser abolida dos processos de civilização”. Apesar da triste constatação, o autor traz um alento civilizatório quando esclarece que “tentar entender o outro significa destruir os clichês a seu respeito, sem tentar negar ou apagar sua alteridade”. No Brasil atual, o inimigo são os indivíduos que afirmam a diversidade humana. A guerra se passa na fronteira sexual onde pessoas trans são vistas como estrangeiras.
Deus e a liberdade de expressão são evocados para justificar o supremacismo sexual baseado na defesa de uma heterossexualidade compulsória. Entrar na garrafa ou voltar para o armário são as opções de quem está condenado a não expressar seus afetos? Eu creio que não.
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