
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
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O conceito de mulher, como tantas outras concepções, foi uma invenção masculina. As mulheres, no desenrolar da história, foram por homens pintadas em tela, descritas em músicas, em romances e biografadas. Eduardo Galeano, no livro "Mulheres", aponta que, desde o ano de 1234, a religião católica proibiu que as mulheres cantassem nas igrejas, pois as mulheres impuras por Eva sujavam a música sacra. Até pouco tempo, uma mulher escritora era uma aberração, um desvio considerável da chamada feminilidade. As mulheres sentiam os freios e o peso da tal essência feminina, sempre disciplinando seus corpos e doutrinando suas mentes.
Um dos produtos da ideologia da essência foi a criação de um sistema de oposição, uma espécie de dupla representação que trazia modelos ideais e abomináveis de mulher, era o puro maniqueísmo, o bem e o mal travestido de feminino. Nesse sentido, Maria nos foi apresentada como um ideal, uma espécie de quinta-essência feminina. Em contrapartida, Eva era antimodelo, um exemplo a ser esquivado. O sistema patriarcal configura-se como essencialmente androcêntrico a quem produziu a dupla representação e os parâmetros que colocavam as mulheres como essencialmente frágeis, inaptas e dependentes.
O silenciamento, o apagamento da história e as múltiplas exclusões foram as sementes que fizeram florescer o movimento feminista. É bem verdade que, antes do conceito de feminismo ser gestado, muitas mulheres enfrentaram obstinadamente os entraves que tornavam a participação feminina na esfera pública um sonho irrealizável. Uma dessas mulheres foi Olympe de Gouges, que participou ativamente da Revolução Francesa. Um dos seus panfletos mais conhecidos foi “a declaração dos direitos da mulher e da cidadã”. Olympe foi guilhotinada, e, depois dela, vieram muitas, hoje não temos mais as cabeças arrancadas, mas fugir aos estigmas é uma tarefa das mais difíceis.
Nos discursos de políticos de direita, sejam eles homens ou mulheres, o feminismo é sempre retratado de forma estigmatizada. Quem não lembra do deputado federal Nikolas Ferreira (PL – MG) vociferando: “mulheres, vocês não devem nada ao feminismo” (sic). No plano local, Dra. Silvana, deputada estadual do Ceará, também do Partido Liberal, em março, vestiu uma blusa na qual estava escrita: “feminina sim, feminista nunca!” Nikolas Ferreira reeditou, em seu discurso, o velho maniqueísmo transportado para as questões de gênero, criminalizando Simone de Beauvoir e enaltecendo figuras religiosas como Maria, Ester e Ruth. Na sequência, ele pede que as mulheres retomem sua feminilidade. Desse modo, a dicotomia feminilidade versus feminismo vai cumprindo o papel de cortina de fumaça, dispersando as mulheres dos problemas reais e urgentes, mergulhando-as em uma guerra ideológica e sem sentido.
A subjetividade humana resulta do conjunto de experiências e vivências a partir do que a história nos proporciona. Portanto, uma mulher não é e nunca será do tamanho de modelos impostos.
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