Logo O POVO+
Michelle Bolsonaro: Entre chavões e performances
Foto de Kalina Gondim
clique para exibir bio do colunista

É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

Michelle Bolsonaro: Entre chavões e performances

Na ausência de conhecimento acerca da economia, política, cultura e de todas as problemáticas brasileiras, Michelle ergue sua fala em torno das pautas moralistas e demonstra não ter limites, confundindo liberdade de expressão com direito à mentira.
Tipo Análise
Michelle Bolsonaro em evento em Fortaleza (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Michelle Bolsonaro em evento em Fortaleza

.

 

Em meados de 2015, o filósofo e escritor Umberto Eco declarou que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis. Analisando a frase oito anos depois, eu me sinto resignada a concordar. A vida nas mídias é o espelho da chamada sociedade do espetáculo. O elevado número de usuários, a reprodução de imagens, informações e (des)informações em níveis estratosféricos tornam urgente a discussão em torno dos impactos sociais do consumo incessante de conteúdos produzidos no meio virtual.

Notadamente, quando analisamos os índices de escolaridade no Brasil que atestam a existência de 10 milhões de analfabetos absolutos, segundo o IBGE. O analfabetismo funcional, por sua vez, representa cerca de 29% da população brasileira e define-se pela incapacidade de interpretar e compreender textos simples, ainda que o indivíduo saiba ler e escrever. À essa altura, podemos nos questionar como as (des)informações disseminadas na internet atingem e prejudicam indivíduos totalmente inermes, com escassez de artefatos cognitivos que possam mobilizar para interpretar, criticar e, principalmente, reconhecer narrativas enganosas.

É fato inconteste que a linguagem é uma poderosa ferramenta de manipulação a serviço do poder. A internet vem se revelando uma seara perfeita para a divulgação de mentiras e ódios em massa. Muitos políticos surgiram dessa indústria, os chamados outsiders são desprovidos de um histórico de luta em movimentos sociais e partidários, eles emergem meteoricamente graças ao poder de alcance das mídias televisivas e digitais. A internet como palco político revela candidatos com uma indisfarçável ausência de projetos, driblada por uma indústria de chavões, clichês e um sem-número de performances que se alimentam da pobreza política da população, cujo objetivo é a aderência de seguidores-eleitores.

Os futuros candidatos forjados na e pela internet se projetam como produtos embalados para serem consumidos por um determinado nicho do mercado eleitoral. Quem vem se utilizando das mídias sociais, para captar possíveis seguidores-eleitores é a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro que, em um estilo camaleônico, aparece em vídeos cozinhando, passando roupa e, em outros, emerge uma Michelle empoderada acenando para uma plateia, com microfone a postos e uma língua afiada que persegue obstinadamente o presidente Lula e a primeira-dama Janja.

O “discurso” político de Michelle se alimenta do ódio e retroalimenta-o, o caos e a ignorância são seus combustíveis. Sem projetos de longo ou médio prazo, Michelle mantém a atenção dos seguidores-eleitores com discursos que visam a esquadrinhar o ideal feminino.

Nessa seara, Janja é apresentada como um contraexemplo de mulher e é vilipendiada por Michelle e por seus seguidores-eleitores. Na ausência de conhecimento acerca da economia, política, cultura e de todas as problemáticas brasileiras, Michelle ergue sua fala em torno das pautas moralistas e demonstra não ter limites, confundindo liberdade de expressão com direito à mentira.

Foto do Kalina Gondim

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?