
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
No último dia 18, uma notícia trouxe perplexidade e sensação de impotência aos brasileiros: no Rio Grande do Sul, 6 mulheres foram vítimas de feminicídio em menos de 24 horas. O ocorrido trouxe-me à memória uma reflexão da escritora Margaret Atwood, que certa vez relatou ter perguntado, durante uma roda de conversa com mulheres, qual era o maior medo delas em relação aos homens, obtendo como resposta o temor de serem mortas por eles.
Há tempos, o espectro do medo, da violência e da morte não abandona as mulheres e isso não é apenas uma questão de imaginário, uma vez que, cotidianamente, os jornais trazem notícias de homens que agem com vilania e tirania, violentando e matando mulheres que, incrivelmente, eram suas parceiras, mãe de seus filhos.
No Brasil, 1 em cada 3 mulheres já sofreu violência doméstica, e estamos entre os primeiros lugares no ranking de assassinato de mulheres. A primeira vez que o conceito de feminicídio surgiu no mundo, foi em meados da década de 1970. Categorizar um fenômeno é imprescindível para dar a ele visibilidade, ensejar reflexões e, principalmente, fomentar o debate público, a construção de políticas públicas e o controle social destas.
O conceito de feminicídio era o símbolo de mulheres que lutavam para que o assassinato cometido por homens que eram de seu convívio, fosse percebido socialmente, processado e julgado de forma distinta do que era até então.
No Brasil, a tipificação ocorreu com a aprovação da Lei n° 13.104/2015 e, ano passado, foi sancionado o pacote antifeminicídio, crime que tem, atualmente, a maior pena prevista no Código Penal (20 a 40 anos de reclusão).
Todavia, a rigidez da lei parece não intimidar os homens assassinos de mulheres. Em 2019, uma reportagem da CNN informava que maridos e ex-maridos eram responsáveis por 90% dos feminicídios no Brasil.
No caso dos 6 feminicídios, em menos de 24 horas ocorridos recentemente no Rio Grande do Sul, a figura (do ex-marido e ex-namorado) estava presente em todos os casos, o que evidencia o grau de adoecimento e toxicidade de muitas relações.
Este ano será comemorado os 30 anos da realização da maior e mais importante conferência mundial sobre a mulher, a Conferência de Pequim, organizada pela ONU, foi um marco no estabelecimento de um pacto pela igualdade de gênero no mundo.
Infelizmente, os direitos das mulheres são vilipendiados e atacados e o retrocesso vem avançando com o neoliberalismo e a ascensão de uma direita extremista.
A sociedade precisa se articular em defesa da vida das mulheres. Governo, empresas e organizações de base precisam pensar estratégias para enfrentar a epidemia de feminicídios em nosso país. Ademais, faz-se urgente debater sobre a saúde mental dos enlutados dos feminicídios. Como ficam os filhos e filhas das mulheres vítimas desse crime? Como fica a situação dos lares nos quais as mulheres eram o esteio financeiro?
Precisamos recordar que, no Brasil, 49,1% dos lares são chefiados por mulheres, em vista disso, a pergunta que se faz é: quem cuidará dos herdeiros e herdeiras do feminicídio?
Histórias. Opiniões. Fatos. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.