O sucesso do Utah Jazz e a repreensível exaltação a Karl Malone
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Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Apaixonada por basquete, foi repórter do NBB em Fortaleza. Primeira mulher a comentar uma partida de futebol na TV cearense. Autora do livro A Verdadeira Regra do Impedimento, sobre a história do futebol feminino estadual
O sucesso do Utah Jazz e a repreensível exaltação a Karl Malone
Colunista contrapõe o bom momento da equipe de Salt Lake City com a impunidade histórica do ex-ala-pivô Karl Malone, maior ídolo da franquia e que, na década de 1980, engravidou uma adolescente de 13 anos
Ter a melhor campanha na fase regular da atual temporada da NBA permitiu ao Utah Jazz mais mandos de quadra nos playoffs. Após superar o Memphis Grizzlies na primeira rodada, o time se preparava para enfrentar o badalado LA Clippers, quando, às vésperas do jogo, Karl Malone, astro da equipe nos anos 1990, divulgou um vídeo. Fumando charuto, em frente à estátua feita em sua homenagem em Salt Lake City, exalava o status de lenda da NBA que a impunidade o permitiu alcançar.
Foto: Adam Pantozzi / NBAE / Getty Images via AFP
Karl Malone (camisa 00), ídolo do Utah Jazz, conversa com Chauncey Billups, atual assistente técnico do LA Clippers
No dia seguinte, durante o jogo um da série contra o Clippers, a equipe da transmissão veiculada no Brasil exaltou Malone como um dos MVPs eleitos da NBA, trouxe a máxima “ele teria um título se não tivesse jogado na mesma época do Jordan” e ainda chegou a citar um “momento fofura” ao ver o ex-ala-pivô, que estava na primeira fila da arena, com uma criancinha no colo. Ainda que os feitos citados da carreira do ex-atleta não sejam uma inverdade, é preciso responsabilidade social ao informar e exaltar um “currículo” como o do camisa 32.
O “currículo”, nesse caso, é o extraquadra. Ainda universitário, aos 20 anos, Malone foi acusado de estupro de vulnerável ao engravidar uma adolescente de 13 anos. Além do crime, comprovado através de um teste de paternidade do filho que nunca quis assumir, Malone estava longe de ser um exemplo, e deixou mais do que exposto o preconceito a pessoas com HIV, ao recusar-se a dividir quadra com o armador Magic Johnson, que buscava voltar a atividade após revelar a condição.
Permissiva e conivente. É um bom começo para definir como a maior liga de basquete lida com relatos de agressão, estupro e assédio. Casos como os de Jason Kidd, Derrick Rose, Kristaps Porzingis e Kobe Bryant – que voltarão, em breve, a esta coluna — só reforçam como a NBA fecha os olhos para acusações do tipo. No fundo, não passam de uma pequena “mancha no currículo”.
Ainda que muitos busquem separar personalidades, como se atleta e cidadão não fossem perspectivas de uma mesma pessoa, o esporte atrela a imagem do jogador não apenas a um ídolo, mas a um herói. Querendo ou não, a aceitação e aclamação de atletas com acusações e condenações semelhantes passa a imagem de uma liga que prefere ser cúmplice a perder estrelas e o expoente financeiro que elas podem atrair.
Ainda assim, na vida real, essa “mancha no currículo” existe mesmo? Nesses casos, o currículo ganha quantas impressões forem necessárias. E ainda pode adicionar às linhas de seu papel branquinho, imaculado: estátua, camisa aposentada e gritos de “MVP”.
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