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Com narrativa de filme, Warriors chega ao quarto título da NBA em oito anos
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Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Apaixonada por basquete, foi repórter do NBB em Fortaleza. Primeira mulher a comentar uma partida de futebol na TV cearense. Autora do livro A Verdadeira Regra do Impedimento, sobre a história do futebol feminino estadual

Com narrativa de filme, Warriors chega ao quarto título da NBA em oito anos

Quatro títulos em oito anos é um feito que corresponde à importância da dinastia do Warriors, mas a quantidade de boas narrativas individuais que construíram essa jornada parece tornar a conquista ainda maior
Stephen Curry comemora título da NBA pelo Golden State Warriors (Foto: JESSE D. GARRABRANT / NBAE / GETTY IMAGES / GETTY IMAGES VIA AFP)
Foto: JESSE D. GARRABRANT / NBAE / GETTY IMAGES / GETTY IMAGES VIA AFP Stephen Curry comemora título da NBA pelo Golden State Warriors

“Você não vai querer nos ver no próximo ano”. Foi assim que Stephen Curry encerrou a temporada 20/21, após a derrota no play-in diante do Memphis Grizzlies que interrompeu o sonho dos playoffs para o time da Califórnia. Doze meses depois, o Golden State Warriors voltou ao topo da NBA. A frase – ou profecia – do camisa 30 só reforça que uma temporada é construída por muitas narrativas. E essas narrativas, muitas vezes, já foram iniciadas em anos anteriores.

É impossível descrever o título do Warriors sem citar as histórias coletivas e individuais, internas ou externas às quadras, que fizeram o time chegar a esse momento. A de Steph, por exemplo, pode-se dizer que começou em 2015, ano do primeiro título do atual núcleo da franquia e do primeiro prêmio “perdido” de MVP das finais, o que se repetiu em 2017 e 2018 e – apesar de não dever ser um critério – abriu espaço para os contestadores de seu legado, como se a simples presença de Stephen em quadra não fosse um facilitador para os companheiros.

Com exceção da temporada 19/20, onde pouco atuou por causa de uma fratura na mão, durante todos esses anos, Stephen passou a acumular recordes pessoais e isso culminou na citada temporada 20/21, quando o armador alcançou 62 pontos em uma só partida e foi um dos três finalistas ao prêmio de MVP, mas ainda assim viu seu time parar antes do esperado naquela fatídica derrota contra Memphis. No jogo 6 diante do Celtics, na última quinta-feira, Steph já estava em lágrimas antes mesmo do zerar do cronômetro.

Era o quarto título conquistado e, dessa vez – ainda que tenha deixado claro inúmeras vezes que a conquista coletiva tem um valor maior –, sendo o grande protagonista, se estabelecendo de vez como o mais chutador de todos os tempos e tendo, enfim, sua importância defensiva reconhecida. Um MVP de finais unânime para o único MVP unânime de uma temporada regular nos 75 anos de história da liga. Parece justo.

Ao mesmo tempo em que é possível dedicar uma coluna inteira para Klay Thompson, é difícil achar palavras para descrever a narrativa do título construída pelo camisa 11. A derrota nas finais de 2019 certamente ainda ecoava, havia sido a última vez que Klay pisou em quadra para um jogo profissional até janeiro de 2022. Uma lesão no joelho tirou um ano inteiro da carreira do ala e, quando preparava o seu retorno, uma lesão no tendão de Aquiles roubou-lhe outra temporada. Ainda que tenha voltado em um ritmo um pouco inferior ao que apresentava antes das lesões – o que é completamente compreensível –, Klay é uma peça-chave desse núcleo e foi bastante importante na trajetória da conquista.

Andrew Wiggins também vive o auge da carreira. Primeira escolha no draft de 2014, passou de expectativa à decepção ao não corresponder como esperado no Timberwolves. Pelo Golden State, Wiggins foi titular no All Star Game na atual temporada e, ainda assim, parece ter guardado bagagem para os playoffs, sendo o segundo melhor jogador do Warriors, atrás apenas de Steph. Jordan Poole também teve uma evolução surpreendente, tornando-se um jogador com alto poder ofensivo e de decisão, virando um “irmão mais novo” dos Splash Brothers. Sendo um dos oito draftados presentes no elenco, Poole também reforçou o quanto a cultura do Golden State valoriza desenvolver, em casa, os seus talentos.

Outra narrativa interessante a ser lembrada é a de Gary Payton II. Aos 29 anos, já vestiu a camisa de diversas equipes da NBA e da G-League, mas não havia se fixado em nenhuma. Prestes a ser dispensado pelo Warriors, Payton estava disposto até a se aposentar e trabalhar no setor de vídeos, apenas para seguir no clube. Não foi necessário. Luvinha - como ficou brasileiramente conhecido o filho do “The Glove” – virou uma das principais peças defensivas da equipe na temporada, saindo do banco com muita eficiência e, ainda por cima, distribuindo enterradas apesar da "baixa" estatura de 1,91m. Ainda assim, GPII passou por outro contratempo já nos playoffs, ao fraturar o cotovelo após jogada desleal de Dillon Brooks, do Grizzlies, na segunda rodada dos playoffs. Luvinha perdeu o restante da série contra Memphis e a série inteira contra o Mavericks, mas se recuperou a tempo de entrar em quadra e reforçar o elenco na final.

Isso tudo sem falar do legado ampliado de Draymond Green, da eficiência de Kevon Looney (que jogou todas as 104 partidas possíveis na temporada) e Otto Porter Jr., e do retorno na hora certa de Andre Iguodala. Isso sem falar, ainda, da genialidade de Steve Kerr, que chegou ao seu nono título – cinco como jogador e quatro como técnico.

Quatro títulos em oito anos é um feito que corresponde à importância da dinastia do Warriors, mas a quantidade de boas narrativas individuais que construíram essa jornada parece tornar a conquista ainda maior. A temporada foi digna de uma produção cinematográfica como “The Last Dance” e, o melhor, é que essa “dança” ainda pode estar bem longe do fim.

Foto do Karine Nascimento

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