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Paris, Sozinha
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Com formação em desenvolvimento mobile pelo IFCE e pela Apple Academy, junto ao seu conhecimento em Design e Animação, atuação em UI|UX e experiência na criação de aplicativo móveis, fundou a Startup Mercadapp. É amante dos livros, da música, do teatro e do ballet. Tudo isso sempre junto e misturado a tecnologia e inovação. Escrever sempre foi seu refúgio dentro dessa jornada tão desafiadora, que é ser uma jovem mulher empreendedora

Larissa Lima comportamento

Paris, Sozinha

Paris é uma cidade que respira arte, história e pensamento
O Museu do Louvre, na França, é reconhecido por sua característica pirâmide de vidro  (Foto: Pexels/ Vlada Karpovich)
Foto: Pexels/ Vlada Karpovich O Museu do Louvre, na França, é reconhecido por sua característica pirâmide de vidro

Há lugares que parecem feitos para serem compartilhados com amigos, alguns para ir em grupo, outros de casal. E há lugares que também revelam sua verdadeira beleza quando se está só. Paris é um desses lugares. E foi por isso, que eu escolhi voltar a Paris, só que dessa vez sozinha.

Foram cinco dias na capital francesa, a primeira vez que viajei sozinha, e descobri que caminhar por Paris sem companhia é, ao mesmo tempo, um exercício de liberdade e de escuta.

Paris é uma cidade que respira arte, história e pensamento. Das margens do Sena à avenidas como Champs-Élysées, tudo parece lembrar que ali viveram filósofos, escritores, artistas que mudaram a forma de ver o mundo.

Mas, mais do que o peso de sua história, o que me marcou foi a maneira como a cidade se molda ao ritmo de quem a observa. Em meio ao grande movimento parisiense, encontrei meu próprio tempo.

Meu início de viagem já foi bem interessante. Peguei uma hospedagem próxima ao Louvre e para aguardar o horário de meu check-in, sentei junto a minha mala, no shopping do subsolo do Louvre, e estava lendo Simone Beauvoir.

Enquanto estava lá tive a oportunidade de trocar ideia por uma hora com um francês que me viu lendo e me perguntou sobre a leitura. Quando eu poderia imaginar que iria conversar com um nativo sobre uma escritora de seu país da qual é minha inspiração de vida?

Passei horas no Jardim de Luxemburgo, com um caderno nas mãos, escrevendo sob o sol suave do outono. Ao redor, crianças brincavam, senhoras liam jornais e turistas riam e tiravam fotos.

Escrever ali foi uma forma de pertencer, ainda que por pouco tempo, à vida cotidiana parisiense. O som da fonte, o cheiro das flores, o vento leve entre as árvores: tudo parecia-me lembrar que estar só não é o mesmo que estar isolada.

Um dos meus momentos preferidos foi tomar um chocolate quente no Les Deux Magots, onde Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre passavam horas discutindo ideias e escrevendo. Sentei-me observando o movimento do café, as pessoas que ali estavam e o fluxo da rua.

Saber que ali, naquele mesmo espaço, Beauvoir refletia sobre a liberdade feminina, deu ainda mais sentido à minha própria jornada solitária. Paris, afinal, sempre foi um cenário onde as mulheres ousaram pensar, escrever e existir por si mesmas. E era a minha vez de fazer o mesmo.

Outra lembrança marcante foi a visita à Bibliothèque Sainte-Geneviève, uma das mais belas bibliotecas públicas da cidade. Nenhum atendente falava inglês, e com meu francês ainda tímido, precisei me virar entre gestos, sorrisos e palavras improvisadas.

Rodin(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Rodin

Aquele esforço para me comunicar, de alguma forma, me aproximou ainda mais da cidade. Paris não me recebia como turista, mas como alguém disposta a aprender sua língua e seus códigos, por mais tropeços que houvesse.

Revisitei alguns museus e aproveitei para conhecer novos, como o Museu Rodin, onde o tempo parecia ter parado. Fiquei longos minutos diante de “O Beijo” (Le Baiser), observando cada detalhe. Usei um audioguia para ouvir um pouco sobre cada escultura e depois passei horas mergulhada em pensamentos que só o silêncio permite.

Estar sozinha em Paris foi descobrir a beleza de escolher o próprio ritmo: o café da manhã sem pressa, o museu que se visita sem olhar o relógio, a rua que se percorre só porque parece bonita.

Foi um lembrete de que a independência é uma forma de arte, e que o amor-próprio também pode ser cultivado entre pontes, livros e museus.

Paris me ensinou que a solidão pode ser uma forma de liberdade. E que, às vezes, basta uma xícara de chocolate quente, um caderno em branco e o som distante do francês ecoando nas ruas para lembrar que o mundo, e nós mesmas, é um lugar cheio de possibilidades.

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