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A moda como negócio: empreendedorismo, um substantivo feminino
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jornalista, com pós-graduação em Propaganda e Marketing (Uni7) e em Moda e Comunicação (Universidade de Fortaleza). Já atuou como assessora de comunicação, repórter do Núcleo de Revistas do O POVO, jornalista na área de branding e design, e produtora de conteúdo no Penteadeira Amarela, um dos primeiros blogs de comportamento do Ceará. A ligação com a moda surgiu ainda na faculdade, quando teve contato com os bastidores da moda, passando a vê-la como forma de expressão individual, de manifestação cultural e de reflexão social. Atualmente, é editora-adjunta de projetos do O POVO.

Larissa Viegas arte e cultura

A moda como negócio: empreendedorismo, um substantivo feminino

Às vésperas do Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, empresárias falam sobre moda, processo criativo, gestão e a agridoce tarefa de ser protagonista em diferentes frentes
Tipo Análise
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Anna Caroline está à frente da marca cearense Outono (Foto: Nayra Maria/Divulgação)
Foto: Nayra Maria/Divulgação Anna Caroline está à frente da marca cearense Outono

Elas são 20% menos inadimplentes e 4 anos mais jovens que os homens. Suas empresas são até 50% menores, tanto em porte quanto em faturamento. O comércio é a principal área de atuação (48% dos empreendimentos), seguido pela indústria (23%).

Os dados sobre empreendedorismo feminino foram divulgados semana passada pela datatech Serasa Experian e traz um panorama sobre pequenas e médias empresas lideradas por mulheres.

O empreendedorismo feminino é uma realidade para 10,35 milhões de brasileiras, segundo o Sebrae, e hoje, véspera do Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, comemorado em 19 de novembro, convido algumas mulheres para falar sobre os aprendizados e o que elas mais gostam nesse ofício.

 

FORTALEZA-CE, BRASIL, 30-07-2025: Nathália Canamary para revista Pause. Nathália é designer de joias em prata . (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 30-07-2025: Nathália Canamary para revista Pause. Nathália é designer de joias em prata . (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

Nathalia Canamary

 

À primeira vista, o espaço de trabalho da Nathalia é um misto de laboratório com oficina. Madeira, ferramentas, metais, silicone, formas, luzes, pedras… Mas basta um olhar mais atento para notar que é nesse espaço que nascem verdadeiras joias, que passaram a ser idealizadas em 2012 pela então arquiteta Nathalia Canamary (@nathaliacanamary).

Hoje, a joalheira constrói com todos esses recursos, mas principalmente com as próprias mãos, brincos, colares, broches, aneis e o que mais a sua imaginação permitir, tudo no seu tempo, após muitas experimentações.

"Mais do que adornos, as joias são pequenas narrativas visuais — inspiradas por paisagens, memórias e encontros. Cada criação reflete a busca por autenticidade e significado, transformando experiências em matéria", descreve.

O ateliê também é um espaço de ensino e troca. De conversas, experiências e ideias. Para quem quer aprender o ofício e compreender o processo criativo. Ou para quem quer concretizar um símbolo, como fazer sua própria aliança.

O que você aprendeu sendo empreendedora?

Acho que o maior aprendizado de empreender foi entender o valor do tempo e do processo. Aprendi que criar uma marca é, antes de tudo, um exercício de constância, de confiar nas próprias escolhas e de seguir aprendendo todos os dias.

O que você mais gosta da sua profissão?

Poder transformar ideias em matéria — ver nascer, com as próprias mãos, algo que surge de experimentos na bancada e que vai tomando forma durante o processo. Cada joia carrega esse percurso, feito de descobertas, experimentações e histórias.

 

A Mariá é assinada pela Marina Pinto e aposta em acessórios autorais, muitas vezes produzidos em colaboração com designers e artistas
A Mariá é assinada pela Marina Pinto e aposta em acessórios autorais, muitas vezes produzidos em colaboração com designers e artistas

Mariá, por Marina Pinto

As criações da Marina para a Mariá (@euvoudemaria) chamam atenção. Em uma mochila, bolsa ou carteira, é possível perceber não só características como design, qualidade, acabamento, informação de moda, estilo e atemporalidade. Mas é visível a atenção e o carinho
depositados em cada peça.

E basta uma conversa rápida para ter certeza de que o item que você escolheu será um companheiro do dia a dia e de bons momentos, feitos a várias mãos femininas. Criada em 2014, a Mariá tem várias coleções em colaboração com artistas, designers e mais um bocado de gente criativa, levando a arte para as ruas. "O Ceará anda com a gente, dá até para carregar no ombro", descreve. Em 11 anos, Marina diz ter aprendido - e se transformado!.

O que você aprendeu sendo empreendedora?

Olhar para dentro, manter a essência e propósito, como marca e como pessoa, focar no que vem de dentro, no que somos, isso é único, porque o que é nosso e só nosso. Isso me sustenta e faz com que tenha uma relação saudável com meu ofício.

O que você mais gosta da sua profissão?

Não estar dentro de nenhuma caixinha corporativa. É poder me expressar, colocar minha criatividade, meu sentir e meu olhar para o mundo em prática dentro do meu ofício. Quando empreender me tira essa liberdade (e já tirou, porque vivemos em um sistema capitalista), já não é mais interessante, e é preciso voltar às raízes.

 

A marca cearense Vovó quem Fez está há 11 anos no mercado e une conforto e estilo em lingeries e pijamas que valorizam os corpos femininos
A marca cearense Vovó quem Fez está há 11 anos no mercado e une conforto e estilo em lingeries e pijamas que valorizam os corpos femininos

Vovó Quem Fez, por Amanda, Isadora e Karol

Não é difícil entender quem é a Vovó Quem Fez. Há 11 anos, a marca nasceu em feiras, com uma pequena arara onde ficavam expostas as lingeries - feitas, claro, pela vovó da Amanda Chrisóstomo, a enérgica Maria Mirtes Malveira.

Hoje, Amanda, Isadora Frutuoso e Karol Guedes estão à frente de uma empresa que deseja empoderar as mulheres através do vestir, relacionando pijamas, calcinhas e sutiãs com o amor próprio - destacando, inclusive, que essas peças devem ganhar o mundo e serem usadas fora de casa.

Conforto e beleza é o que move a marca e suas criadoras acreditam que cada detalhe faz parte de um processo de autoconhecimento e autoestima. "Afinal, é revolucionário quando uma mulher se olha no espelho e se reconhece", conta Amanda.

O que você aprendeu sendo empreendedora?

É um grande exercício de resiliência. Empreender é viver nesse equilíbrio entre coragem e persistência.

O que você mais gosta da sua profissão?

Tudo começou como um sonho despretensioso e se transformou em uma empresa. Ver esse sonho ser abraçado, pelas sócias e mulheres que consomem a marca, é o que me move. É bonito perceber que quando colocamos no mundo algo em que acreditamos de verdade, com autenticidade, pode transformar não só a nossa realidade, mas
também a de outras pessoas.

 

A Outono é uma marca onde seus kimonos sob medida são o maior destaque
A Outono é uma marca onde seus kimonos sob medida são o maior destaque

Outono, por Anna Caroline Santos de Oliveira

Basta passear por algumas fotos no instagram da Outuno (@outono_____) para se encantar pela moda autoral e slow criada pela estilista, figurinista e produtora cultural Anna Caroline. Lançada em 2019, no bairro Mondubim, a marca tem como carro-chefe os kimonos, com cortes atemporais e estampas positivamente hipnotizantes.

"As peças desenvolvidas no ateliê são livremente inspiradas nas modelagem dos kosodes tradicionais japoneses, na moda contemporânea japonesa devido ao estilo único, beleza atemporal e qualidade", descreve a designer.

Já a inspiração é em Fortaleza, mesmo. O movimento urbano, a noite, as conversas, os artistas, o chiado dos LPs… Além, claro, de figurinos icônicos, cinema, literatura e artes visuais. A produção é consequência de uma modelagem desenvolvida para aproveitar os tecidos ao máximo, evitando desperdícios e descartes de resíduos de tecidos.

As peças, únicas e funcionais, vestem e abraçam diferentes corpos, gêneros e estilos. As roupas ficam no espaço Mude-me localizado no Centro da cidade e o mais legal é que podem ser feitas sob medida.

O que você aprendeu sendo empreendedora?

A estudar e pesquisar, o universo da moda ou temas que nem sempre dialogam diretamente com a área, mas que oferecem respiros criativos e novas inspirações. E sobre planejamento e organização financeira, pois trabalho no formato slow fashion e preciso para manter a qualidade na produção e o compromisso com parceiros e clientes. E a respeitar o tempo e o preço da produção de cada peça para não perder a qualidade na modelagem e na costura.

O que você mais gosta da sua profissão?

A oportunidade de experimentar e criar roupas únicas. Eu amo fazer cada peça, pesquisar e escolher o tecido, o corte e a trilha sonora. Vestir pessoas que se identificam com o ateliê, quem gosto e admiro. Acho interessante observar os kimonos ganhando corpo, personalidade e o mundo. E poder trabalhar, estudar e conversar com profissionais da área da moda e de outras linguagens artísticas.

 

Desde 2011, Jomara Cid assina sua marca de chapelaria autoral
Desde 2011, Jomara Cid assina sua marca de chapelaria autoral

Jomara Cid Chapelaria

Eu não sei vocês, mas eu não conheço muitas chapeleiras. Inclusive, foi a própria Jomara quem me apresentou, detalhou e fez eu me encantar por essa artesania. Ela é responsável pela criação manual de chapéus, grinaldas e ornamentos para cabeça.

Foi com o intuito de reviver a arte da chapelaria do Brasil que ela criou sua marca. Mas nada de ficar presa às eras passadas. Suas obras têm características que misturam o clássico com o moderno.

Marque um horário e converse com Jomara sobre desejos e referências. As peças, desenvolvidas manualmente, seguem o princípio do Bespoke (sob medida), com materiais que transitam entre rendas e palha de buriti, cronol e fitas.

O que você aprendeu sendo empreendedora?

Uma das primeiras coisas foi que eu precisava ter muita coragem, foco, objetivo, porque eu ia começar a empreender em um segmento bem desconhecido. Com o passar dos anos, a gente entende que não é só criação nem inspiração, que precisa ter muita troca, escuta,
consistência e organização.

O que você mais gosta da sua profissão?

A chapelaria me deixa em contato direto com a arte. Ela me dá uma liberdade de expressão e de criação tão grande que talvez eu não me daria bem em outro segmento da moda. É o canal para eu expressar a minha arte, o que eu estou sentindo, as minhas percepções
e sensações de mundo.

 

Fazem parte do dia a dia

No Ceará, o pequeno negócio representa 94,4% do total de empresas. Isso quer dizer que 633.063 empresas se encaixam em um dos três perfis: Microempreendedor Individual, Micro Empreendedor e Empresa de Pequeno Porte.

As áreas que mais concentram esses negócios são aquelas que fazem parte do dia a dia do empreendedor brasileiro, como moda, estética, alimentação, transporte e serviços de apoio. Segundo a Serasa Experian, são segmentos de baixo custo de entrada, alta demanda e oferecem flexibilidade de horário - o que explica o aumento da presença
do público feminino.

Por que elas empreendem?

Segundo a pesquisa da Serasa Experian, os dados indicam um amadurecimento do empreendedorismo feminino, indo além da necessidade e tornando-se também uma escolha estratégica, seja para buscar autonomia, flexibilidade ou controle de sua trajetória profissional. Segundo as entrevistadas:

46%

das empreendedoras afirmam ter aberto seus negócios em busca de flexibilidade de tempo

40%

foram motivadas pela independência financeira

24%

buscam uma renda complementar

18%

tomara a decisão de "fazer o que acredita"

 

Foto do Larissa Viegas

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