jornalista, com pós-graduação em Propaganda e Marketing (Uni7) e em Moda e Comunicação (Universidade de Fortaleza). Já atuou como assessora de comunicação, repórter do Núcleo de Revistas do O POVO, jornalista na área de branding e design, e produtora de conteúdo no Penteadeira Amarela, um dos primeiros blogs de comportamento do Ceará. A ligação com a moda surgiu ainda na faculdade, quando teve contato com os bastidores da moda, passando a vê-la como forma de expressão individual, de manifestação cultural e de reflexão social. Atualmente, é editora-adjunta de projetos do O POVO.
A moda como negócio: empreendedorismo, um substantivo feminino
Às vésperas do Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, empresárias falam sobre moda, processo criativo, gestão e a agridoce tarefa de ser protagonista em diferentes frentes
Foto: Nayra Maria/Divulgação
Anna Caroline está à frente da marca cearense Outono
Elas são 20% menos inadimplentes e 4 anos mais jovens que os homens. Suas empresas são até 50% menores, tanto em porte quanto em faturamento. O comércio é a principal área de atuação (48% dos empreendimentos), seguido pela indústria (23%).
Os dados sobre empreendedorismo feminino foram divulgados semana passada pela datatech Serasa Experian e traz um panorama sobre pequenas e médias empresas lideradas por mulheres.
O empreendedorismo feminino é uma realidade para 10,35 milhões de brasileiras, segundo o Sebrae, e hoje, véspera do Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, comemorado em 19 de novembro, convido algumas mulheres para falar sobre os aprendizados e o que elas mais gostam nesse ofício.
À primeira vista, o espaço de trabalho da Nathalia é um misto de laboratório com oficina. Madeira, ferramentas, metais, silicone, formas, luzes, pedras… Mas basta um olhar mais atento para notar que é nesse espaço que nascem verdadeiras joias, que passaram a ser idealizadas em 2012 pela então arquiteta Nathalia Canamary (@nathaliacanamary).
Hoje, a joalheira constrói com todos esses recursos, mas principalmente com as próprias mãos, brincos, colares, broches, aneis e o que mais a sua imaginação permitir, tudo no seu tempo, após muitas experimentações.
"Mais do que adornos, as joias são pequenas narrativas visuais — inspiradas por paisagens, memórias e encontros. Cada criação reflete a busca por autenticidade e significado, transformando experiências em matéria", descreve.
O ateliê também é um espaço de ensino e troca. De conversas, experiências e ideias. Para quem quer aprender o ofício e compreender o processo criativo. Ou para quem quer concretizar um símbolo, como fazer sua própria aliança.
O que você aprendeu sendo empreendedora?
Acho que o maior aprendizado de empreender foi entender o valor do tempo e do processo. Aprendi que criar uma marca é, antes de tudo, um exercício de constância, de confiar nas próprias escolhas e de seguir aprendendo todos os dias.
O que você mais gosta da sua profissão?
Poder transformar ideias em matéria — ver nascer, com as próprias mãos, algo que surge de experimentos na bancada e que vai tomando forma durante o processo. Cada joia carrega esse percurso, feito de descobertas, experimentações e histórias.
As criações da Marina para a Mariá (@euvoudemaria) chamam atenção. Em uma mochila, bolsa ou carteira, é possível perceber não só características como design, qualidade, acabamento, informação de moda, estilo e atemporalidade. Mas é visível a atenção e o carinho depositados em cada peça.
E basta uma conversa rápida para ter certeza de que o item que você escolheu será um companheiro do dia a dia e de bons momentos, feitos a várias mãos femininas. Criada em 2014, a Mariá tem várias coleções em colaboração com artistas, designers e mais um bocado de gente criativa, levando a arte para as ruas. "O Ceará anda com a gente, dá até para carregar no ombro", descreve. Em 11 anos, Marina diz ter aprendido - e se transformado!.
O que você aprendeu sendo empreendedora?
Olhar para dentro, manter a essência e propósito, como marca e como pessoa, focar no que vem de dentro, no que somos, isso é único, porque o que é nosso e só nosso. Isso me sustenta e faz com que tenha uma relação saudável com meu ofício.
O que você mais gosta da sua profissão?
Não estar dentro de nenhuma caixinha corporativa. É poder me expressar, colocar minha criatividade, meu sentir e meu olhar para o mundo em prática dentro do meu ofício. Quando empreender me tira essa liberdade (e já tirou, porque vivemos em um sistema capitalista), já não é mais interessante, e é preciso voltar às raízes.
Não é difícil entender quem é a Vovó Quem Fez. Há 11 anos, a marca nasceu em feiras, com uma pequena arara onde ficavam expostas as lingeries - feitas, claro, pela vovó da Amanda Chrisóstomo, a enérgica Maria Mirtes Malveira.
Hoje, Amanda, Isadora Frutuoso e Karol Guedes estão à frente de uma empresa que deseja empoderar as mulheres através do vestir, relacionando pijamas, calcinhas e sutiãs com o amor próprio - destacando, inclusive, que essas peças devem ganhar o mundo e serem usadas fora de casa.
Conforto e beleza é o que move a marca e suas criadoras acreditam que cada detalhe faz parte de um processo de autoconhecimento e autoestima. "Afinal, é revolucionário quando uma mulher se olha no espelho e se reconhece", conta Amanda.
O que você aprendeu sendo empreendedora?
É um grande exercício de resiliência. Empreender é viver nesse equilíbrio entre coragem e persistência.
O que você mais gosta da sua profissão?
Tudo começou como um sonho despretensioso e se transformou em uma empresa. Ver esse sonho ser abraçado, pelas sócias e mulheres que consomem a marca, é o que me move. É bonito perceber que quando colocamos no mundo algo em que acreditamos de verdade, com autenticidade, pode transformar não só a nossa realidade, mas também a de outras pessoas.
Basta passear por algumas fotos no instagram da Outuno (@outono_____) para se encantar pela moda autoral e slow criada pela estilista, figurinista e produtora cultural Anna Caroline. Lançada em 2019, no bairro Mondubim, a marca tem como carro-chefe os kimonos, com cortes atemporais e estampas positivamente hipnotizantes.
"As peças desenvolvidas no ateliê são livremente inspiradas nas modelagem dos kosodes tradicionais japoneses, na moda contemporânea japonesa devido ao estilo único, beleza atemporal e qualidade", descreve a designer.
Já a inspiração é em Fortaleza, mesmo. O movimento urbano, a noite, as conversas, os artistas, o chiado dos LPs… Além, claro, de figurinos icônicos, cinema, literatura e artes visuais. A produção é consequência de uma modelagem desenvolvida para aproveitar os tecidos ao máximo, evitando desperdícios e descartes de resíduos de tecidos.
As peças, únicas e funcionais, vestem e abraçam diferentes corpos, gêneros e estilos. As roupas ficam no espaço Mude-me localizado no Centro da cidade e o mais legal é que podem ser feitas sob medida.
O que você aprendeu sendo empreendedora?
A estudar e pesquisar, o universo da moda ou temas que nem sempre dialogam diretamente com a área, mas que oferecem respiros criativos e novas inspirações. E sobre planejamento e organização financeira, pois trabalho no formato slow fashion e preciso para manter a qualidade na produção e o compromisso com parceiros e clientes. E a respeitar o tempo e o preço da produção de cada peça para não perder a qualidade na modelagem e na costura.
O que você mais gosta da sua profissão?
A oportunidade de experimentar e criar roupas únicas. Eu amo fazer cada peça, pesquisar e escolher o tecido, o corte e a trilha sonora. Vestir pessoas que se identificam com o ateliê, quem gosto e admiro. Acho interessante observar os kimonos ganhando corpo, personalidade e o mundo. E poder trabalhar, estudar e conversar com profissionais da área da moda e de outras linguagens artísticas.
Eu não sei vocês, mas eu não conheço muitas chapeleiras. Inclusive, foi a própria Jomara quem me apresentou, detalhou e fez eu me encantar por essa artesania. Ela é responsável pela criação manual de chapéus, grinaldas e ornamentos para cabeça.
Foi com o intuito de reviver a arte da chapelaria do Brasil que ela criou sua marca. Mas nada de ficar presa às eras passadas. Suas obras têm características que misturam o clássico com o moderno.
Marque um horário e converse com Jomara sobre desejos e referências. As peças, desenvolvidas manualmente, seguem o princípio do Bespoke (sob medida), com materiais que transitam entre rendas e palha de buriti, cronol e fitas.
O que você aprendeu sendo empreendedora?
Uma das primeiras coisas foi que eu precisava ter muita coragem, foco, objetivo, porque eu ia começar a empreender em um segmento bem desconhecido. Com o passar dos anos, a gente entende que não é só criação nem inspiração, que precisa ter muita troca, escuta, consistência e organização.
O que você mais gosta da sua profissão?
A chapelaria me deixa em contato direto com a arte. Ela me dá uma liberdade de expressão e de criação tão grande que talvez eu não me daria bem em outro segmento da moda. É o canal para eu expressar a minha arte, o que eu estou sentindo, as minhas percepções e sensações de mundo.
Fazem parte
do dia a dia
No Ceará, o pequeno negócio representa 94,4% do total de empresas. Isso quer dizer que 633.063 empresas se encaixam em um dos três perfis: Microempreendedor Individual, Micro Empreendedor e Empresa de Pequeno Porte.
As áreas que mais concentram esses negócios são aquelas que fazem parte do dia a dia do empreendedor brasileiro, como moda, estética, alimentação, transporte e serviços de apoio. Segundo a Serasa Experian, são segmentos de baixo custo de entrada, alta demanda e oferecem flexibilidade de horário - o que explica o aumento da presença
do público feminino.
Por que elas empreendem?
Segundo a pesquisa da Serasa Experian, os dados indicam um amadurecimento do empreendedorismo feminino, indo além da necessidade e tornando-se também uma escolha estratégica, seja para buscar autonomia, flexibilidade ou controle de sua trajetória profissional. Segundo as entrevistadas:
46%
das empreendedoras afirmam ter aberto seus negócios em busca de flexibilidade de tempo
40%
foram motivadas pela independência financeira
24%
buscam uma renda complementar
18%
tomara a decisão de "fazer o que acredita"
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