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Espaços públicos inclusivos: tecendo narrativas para a neurodiversidade em Fortaleza
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Arquiteta, é idealizadora do Estar Urbano - Ateliê de Arquitetura e Urbanismo, que já recebeu oito premiações na Casa Cor Ceará. Docente da Especialização em Arquitetura Sustentável da Universidade de Fortaleza (Unifor)

Espaços públicos inclusivos: tecendo narrativas para a neurodiversidade em Fortaleza

Construir espaços verdadeiramente públicos e democráticos exige transcender o acesso físico e abraçar as múltiplas formas de perceber e interagir com o mundo. A inclusão neurodivergente não é nicho; é alicerce para espaços melhores para todos
 Casa do Cidadão Presidente Kennedy inaugura sala sensorial para pessoas autistas e neurodivergentes. (Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo)
Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo Casa do Cidadão Presidente Kennedy inaugura sala sensorial para pessoas autistas e neurodivergentes.

Os espaços públicos, palco da vida coletiva, podem ser territórios desafiadores para pessoas neurodivergentes. Frequentar praças ou parques, longe de ser uma simples rotina, pode transformar-se numa experiência avassaladora quando o ambiente ignora a diversidade neurológica.

Construir espaços verdadeiramente públicos e democráticos exige transcender o acesso físico e abraçar as múltiplas formas de perceber e interagir com o mundo. A inclusão neurodivergente não é um nicho; é o alicerce para espaços melhores para todos.

A verdadeira inclusão reconhece que não há uma solução única e celebra a flexibilidade e a escolha. Espaços públicos inclusivos oferecem uma diversidade de ambientes: desde áreas abertas e movimentadas, essenciais para a vida urbana, até nichos mais reservados, cantos tranquilos ao ar livre e opções que permitam tanto a interação social quanto o isolamento necessário.

O mobiliário também deve refletir essa diversidade, oferecendo bancos com e sem encosto, com braços ou sem, dispostos em grupos ou isoladamente, permitindo que cada pessoa encontre seu ponto de conforto. Esta visão se materializa em exemplos concretos: parques com jardins sensoriais cercados e tranquilos, balanços adaptados e "horários tranquilos" sem música alta; bibliotecas com cabines individuais silenciosas e zonas com luz controlada.

O grande paradigma é perceber que projetar para a neurodiversidade eleva a qualidade para todos. Um espaço mais tranquilo, organizado, previsível e flexível beneficia idosos, pessoas com ansiedade, crianças pequenas, pais com carrinhos de bebê e qualquer cidadão num dia mais sensível. A verdadeira inclusão neurodivergente não é um acréscimo, mas uma redefinição inteligente e justa do espaço comum.

Exige ouvir as vozes neurodivergentes no processo de co-criação, priorizando o controle sensorial, a clareza e a oferta de escolhas. Ao acolher plenamente a diversidade neurológica, não estamos apenas cumprindo um dever de justiça social; estamos tecendo cidades mais humanas, resilientes e verdadeiramente vibrantes, onde cada indivíduo, em sua singularidade, pode habitar e pertencer. A inclusão, quando genuína, não segrega – liberta e enriquece o espaço que é de todos.

Foto do Laura Rios

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