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Lino Villaventura: exposição, história e homenagem
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A jornalista, poeta e escritora Lêda Maria escreve sobre política, cultura e sociedade. É autora de duas edições do livro ''Memória Gastronômica das Famílias Cearenses'' e participante de várias antologias nacionais e internacionais, como ''A Literatura das Mulheres da Floresta'' e ''Assim Escrevem as Brasileiras''.

Lêda Maria comportamento

Lino Villaventura: exposição, história e homenagem

Lino e Inez Villaventura  (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares Lino e Inez Villaventura

A História de Lino Villaventura celebrando a sua criatividade desde 1978 está em exposição. Sim, quem chegar ao Museu da Fotografia Fortaleza pode contemplar as 23 criações e mais de 100 imagens, de vários fotógrafos, acompanhando os quase 50 anos de carreira do estilista que veio do Pará, e aqui em Fortaleza edificou seu templo de moda. Vai poder acompanhar ali toda a riqueza de uma mostra plena e abundante, revelando a força criativa de Lino Villaventura comprometido desde muito jovem com a beleza, o vestir e a moda registrada pela sua marca, brasileiríssima.

Sempre bonito, amável e querido Lino, celebrado ali naquele espaço de Museu, perfeito para exibir um acervo de moda-arte, ou arte-moda afirma que "cada pessoa chegará à exposição não porque entende ou gosta de moda, não precisa entender". Diz o homenageado: "A questão é o que acontece quando você vê cada trabalho, o que vai sentir, por que vai se emocionar".

E nós acrescentamos que ninguém marque o tempo para percorrer a exposição, assegurada pela vivência do amor, das ideias livres e da dedicação. São três gerações de fotógrafos propondo uma viagem sobre a produção, a imaginação fértil do estilista e artista competente para atravessar o tempo, conquistar o mundo e atingir muitas dimensões, crenças, desejos e linguagens ocupando passarelas, publicações, vitrines e principalmente o corpo de quem sabe vestir e valorizar Lino Villaventura.

REVELAÇÕES

"Aqui em Fortaleza, em 1982, eu comecei o meu projeto. E foi muito forte o encontro com as pessoas que trabalhavam com as mãos, as rendeiras, as bordadeiras. Naturalmente, recebia delas influência e desejo de estar com elas. A linguagem, o incentivo do Ceará nos deram, foi marcante naquele começo. Esta originalidade e a identidade forte são muito importantes, principalmente quando você mostra o trabalho em outros países" afirma Lino Villaventura. Daí pra frente teve início uma história de criatividade, ousadia. Revelação e harmonia entre tradição e vanguarda. Transformação do vestir em uma experiência estética. Muita coragem".

Acompanhamos, por todo esse tempo, a trajetória de Lino. Páginas escrevemos pelos jornais e revistas. Palavras colhemos dele para a televisão e rádio. Sempre desvendando, também, sua comunicação poética entre bordados manuais, fios , tecidos, peças do artesanato e outros produtos transformados em preciosidades nas suas mãos.

Há um vigoroso poder de transformação, inclusive tudo, tudo o que é usado na confecção de coleções é guardado. Os "restos" não vão para o lixo, de repente, é reciclado, usado. Harmonia nos detalhes. Singularidade no desenho, na modelagem, na feitura, no conforto e habilidades de cada peça.

Acompanhamos também o sol da espiritualidade de Lino na criação de cores próprias e feitura de "tecidos" , provocando a indústria têxtil e deixando a clientela super feliz em vestir uma roupa exclusiva na sua plenitude. É para lembrar a linguagem herdada também de suas pesquisas seculares, na contemplação das obras de arte dos grandes mestres da pintura, do teatro. Viagens e imaginações. Desfile em Amsterdã e Osaka/1990. É para lembrar a sua relação com a cobra, o pavão, a tilápia, sabendo apreciá-los, tocá-los e receber inspiração para incluir o aproveitamento do couro, penas e pequenos traços na projeção de bordados raros de beleza, de feitura de suas peças masculinas, femininas, ou mesmo assexuadas.

Lino revela que a sua "perseverança, personalidade e ousadia, na feitura de suas coleções às vezes, chegam a surpreender. Hoje tenho um trabalho mais elaborado. Consegui ter a minha marca, uma marca brasileira feita com prazer e também com sacrifício, sem pensar em reconhecimento, mas fortalecida pelo desejo de fazer o que sabemos, sempre em busca de bons resultados, mantendo uma identidade própria, acompanhada mesmo pelo DNA nordestino".

"Formamos uma triunvirato. O Régis acrescenta seu potencial de trabalho à marca, é alguém que entende, constrói e desenvolve com você suas ideias. Inez, minha eterna companheira, está sintonizada com meus propósitos, decisões e criações. Equilibra minhas raivas e ladainhas. É minha serenidade. Os dois dosam muito bem nossa trajetória produtiva, trajetória feliz", revela Lino com um largo sorriso colhido entre a barba e o bigode já grisalhos para acrescentar a maturidade do jovem setentão curtindo suas paixões profissionais e o seu prazer de viver e criar. A homenagem que o Ceará agora lhe faz, com esta exposição no Museu da Fotografia Fortaleza, é um capítulo de uma história, revelada pelas lentes de importantes fotógrafos, apaixonados, acompanhando desde os primeiros desfiles até a participação de Lino com a última coleção no São Paulo Fashion Week, trazendo tecidos biodegradáveis, exemplos dos desafios bordados em todos os projetos.

Noite da abertura da mostra (16 de julho), o Museu recebia, entre aplausos e sorrisos, Lino, ou Lino Marques (batismal), 74 anos, sabedor que seu trabalho permanece iluminando e desafiando o mundo da moda, atraindo todas as suas cores criadas para celebrar a beleza e o reencontro permanente da obra e do criador convertendo-se em festa e dança de corpos, sentimentos, conceitos e emoções.

OPINIÕES AZUIS 

"LINO É meu companheiro de vida, meu grande amor, fizemos 47 anos de casados, sabendo viver o amor, as alegrias, as conquistas e também as teimosias. Tenho o maior orgulho do que ele representa para o mundo da moda e garanto que ninguém tem a criatividade e o manancial de atualidade, inovação e beleza que ele tem." Inez Villaventura

"APESAR DE CARREGAREM um alto grau de experimentação, as criações de Lino dialogam com o desejo de vestir-se com personalidade e emoção." Denise Mattar, curadora da exposição

 

Foto do Lêda Maria

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