Logo O POVO+
Hasta Siempre José "Pepe" Mujica e papa Francisco
Foto de Lorena Monteiro
clique para exibir bio do colunista

Cientista política e professora do Centro universitário de Maceió (Unima/Afya)

Hasta Siempre José "Pepe" Mujica e papa Francisco

Desconheço pessoas ateias, agnósticas, como eu, que não tenham acompanhado com atenção e admiração o pontificado do Papa Francisco. Isso vale também para a trajetória de Pepe Mujica
Tipo Opinião
José Pepe Mujica morreu aos 89 anos, vítima de câncer no esôfago (Foto: Sofia Torres/ AFP)
Foto: Sofia Torres/ AFP José Pepe Mujica morreu aos 89 anos, vítima de câncer no esôfago

Recentemente tivemos duas perdas significativas para a América Latina e para o mundo. Embora situados em campos de atuação distintos, papa Francisco, no religioso, e, Pepe Mujica, no político, suas agendas políticas convergiam. Assim como a forma humilde que viveram. Ambos se destacaram no que buscaram realizar em suas vidas e na postura que assumiram enquanto homens públicos.

Primeira coisa que podemos pontuar é que ambos foram unanimidade. Desconheço pessoas ateias, agnósticas, como eu, que não tenham acompanhado com atenção e admiração o pontificado do Papa Francisco. Isso vale também para a trajetória de Pepe Mujica. Mesmo seu opositor mais ferrenho, ou suas dissidências ideológicas, cultivaram extremo respeito ao que ele representava e às suas ideias políticas.

Ambos mostraram que outro mundo é possível. Eles tinham, por assim dizer, um projeto de sociedade coletiva pautada na ética, na solidariedade e na alteridade. O reconhecimento do outro e de seus direitos traduz-se no mote central do projeto de sociedade mais justa que defenderam. Assim como, no caso de Mujica, a integração política dos países latino-americanos, e no de papa Francisco, o diálogo entre religiões e povos.

Pepe Mujica e papa Francisco, ambos, foram marcados por experiências distintas durante as ditaduras civis-militares em seus países, Uruguai e Argentina. Enquanto Mujica, que participou do grupo guerrilheiro Tupamaros na luta contra a ditadura militar no Uruguai, foi baleado seis vezes, preso por quatorze anos, sete dos quais na solitária, em condições sub-humanas; o então cardeal Jorge Mario Bergoglio, futuro papa Francisco, tinha uma posição conservadora alinhada as diretrizes da ditadura militar Argentina, inclusive com uma postura de omissão frente a perseguição dos seus colegas jesuítas pelo regime autocrático.

Ambos revelaram o quanto essa experiência marcou a construção das suas visões de mundo. Papa Francisco pelo arrependimento, como mostra o filme Dois Papas, de Fernando Meirelles, e Mujica pelo abandono da solução armada, e a proposta de uma filosofia ética da política. Assim que construiu sua carreira política, fundando o Movimento da Participação Popular (MPP) e a Frente Ampla, elegendo-se para a Câmara, ao Senado, e em 2010 à Presidência da República.

Nos cargos mais altos que assumiram representaram agendas mais liberais, progressistas. Mujica com a descriminalização do aborto, o matrimônio homoafetivo, e a regulamentação do mercado da maconha. Papa Francisco com a política de incorporação das mulheres nos cargos religiosos, o diálogo com grupos minorizados e marginalizados, e apresentação de uma Igreja Católica mais conectada com os problemas mundiais e humanizada.

 

Foto do Lorena Monteiro

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?