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O julgamento do golpe e as nuances do discurso populista dos réus
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Cientista política e professora do Centro universitário de Maceió (Unima/Afya)

O julgamento do golpe e as nuances do discurso populista dos réus

.O conceito de populismo é multifacetado, transformativo, uma vez que se modifica a depender do contexto em que opera, alguns entendem como ideologia, outros como discurso e estratégias comunicacionais
Tipo Opinião
TENENTE-CORONEL 
Mauro Cid (Foto: Evaristo Sá/AFP
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Foto: Evaristo Sá/AFP TENENTE-CORONEL Mauro Cid

Recentemente foi realizado o interrogatório dos réus que fazem parte, segundo a Procuradoria-Geral da República, do núcleo crucial da organização que planejou golpe de estado, em 2022. Essa etapa representa o instituto da ampla defesa à qual todos têm direito num regime democrático. Para quem acompanhou é um momento interessante para analisar suas narrativas de defesa e para um expectador que se interessa por temas políticos é o expediente para analisar as evidências de que se trata realmente de um discurso populista.

O conceito de populismo é multifacetado, transformativo, uma vez que se modifica a depender do contexto em que opera, alguns entendem como ideologia, outros como discurso e estratégias comunicacionais. Uma das formas de compreendê-lo é analisar de que forma o discurso populista deslegitima o sistema de pesos e contrapesos institucionais dos poderes executivos, legislativo e judiciário e fragiliza a confiança nas instituições democráticas. É nesse sentido que a cientista política anglo-americana Pipa Norris olha para o fenômeno do populismo, destacando como seu discurso coloca questões sobre a legitimidade do processo eleitoral e gera desconfiança da população em relação às instituições.

Nessa etapa do julgamento escutamos as versões dos réus em relação ao seu envolvimento na tentativa de golpe. Ouvimos um servidor público de carreira federal, que em janeiro de 2023 era Secretário de Segurança Pública de Brasília, e anteriormente Ministro da Justiça, descrever que buscava apresentar indícios de fraude nas eleições em lives e reuniões com o presidente Bolsonaro. Chama a atenção, a partir desse depoimento, e que também se observa nos outros, o esforço desse grupo em procurar provas, que não encontraram para desacreditar o processo eleitoral, e mesmo sem provas gastavam o tempo em que deveriam estar se dedicando ao cargo público e político que exerciam na disseminação de desinformação sobre o processo eleitoral no Brasil.

Apesar de praticamente todos os depoentes responderem sobre como atuaram em relação ao processo de desacreditação do resultado eleitoral ao final dos seus interrogatórios deram a entender que estavam equivocados, que não existem evidências concretas de fralde eleitoral, menos o ex-presidente Jair Bolsonaro. Por cerca de duas horas e meia Bolsonaro manteve sua posição de defesa do voto impresso e suspeição das urnas eleitorais. Chegou, inclusive, a pedir a devolução da multa de 22 milhões que o PL pagou ao TSE após ser o Partido ser condenado por litigância de má-fé ao ter apresentado um relatório sobre falhas no sistema eleitoral brasileiro sem provas. Portanto, Bolsonaro acredita até hoje no relatório que o Partido apresentou.

 

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