Cientista política e professora do Centro universitário de Maceió (Unima/Afya)
Cientista política e professora do Centro universitário de Maceió (Unima/Afya)
Acompanhando a COP 30 realizada no Brasil e lendo as críticas, positivas e negativas, sobre as decisões tomadas, consideradas, em geral, insuficientes para conter a emergência climática, a incorporação dos afrodescendentes nas discussões climáticas globais, que é parte da agenda prioritária das organizações da sociedade civil e dos movimentos negros, é um marco importante e remete as questões colocadas pela filósofa feminista Nancy Fraser acerca da reprodução social no capitalismo canibal.
Fraser fez uma revisão da crítica econômica do capitalismo de Karl Marx para destacar que o eminente pensador não explorou as "moradas ocultas" que sustentam toda ordem social institucionalizada do capitalismo.
Dentre essas moradas, pilares não econômicos cruciais para a manutenção desse sistema, considerado por Fraser, parasita, estão a reprodução social (o trabalho de cuidado, criação dos filhos, manutenção dos lares e laços comunitários), a natureza (os recursos ecológicos e a capacidade do planeta de absorver os dejetos da produção, tratados como infinitos no capitalismo) e o poder público (As estruturas legais, políticas e militares que garantem a propriedade privada, fazem cumprir os contratos e administram a ordem social).
A economia capitalista predatória, segundo Fraser, se desenvolveu dependendo fundamentalmente dessas moradas. Invisibilizando o trabalho feminino do cuidado e da reprodução social, depredando os recursos naturais e legalizando politicamente a acumulação de riquezas. Exatamente são as mudanças do modus operandi do capitalismo nessas dimensões que deveriam pautar as discussões sobre o futuro do mundo com as mudanças climáticas.
A inclusão dos afrodescendentes nos documentos da COP 30 caminha nesse sentido, uma vez que os afrodescendentes, em especial as mulheres negras, são os que mais sofrem com as mudanças climáticas e, também, são aqueles que podem pautar outras formas de reprodução social em que produzam justiça social climática.
De forma clara, o que esteve no centro da luta das organizações sociais e dos movimentos sociais na COP 30 foi o debate sobre a representação dos grupos mais impactados pela crise climática. Além de redistribuição, reconhecimento, eles precisam ser incluídos nas decisões em que são os mais afetados.
A regras do jogo político nas decisões sobre o clima e o futuro do planeta devem ser dadas por eles. Decisões tomadas sem a participação desses grupos, conforme Fraser, leva a mau enquadramento ou falsa representação que não promovem justiça.
O resultado da COP 30 — apesar das críticas em relação ao planejamento de ações concretas no enfrentamento das mudanças climáticas — teve na inclusão dos afrodescendentes nas decisões climáticas, fruto do empenho das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais, a vitória mais significativa para o desenvolvimento de ações que promovam, no futuro, justiça climática.
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