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Três Graças: A novela que sintetiza alguns dos desafios sociais que devemos enfrentar em 2026
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Cientista política e professora do Centro universitário de Maceió (Unima/Afya)

Três Graças: A novela que sintetiza alguns dos desafios sociais que devemos enfrentar em 2026

.Também está na pauta da novela a violência contra a mulher e os relacionamentos homoafetivos. Em tempos de conservadorismo, de epidemia de feminicídio e de misoginia, a novela cumpre seu papel social ao tratar esses temas com serenidade, sutileza e sensibilidade
Tipo Opinião
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Dira Paes, Sophie Charlotte e Alana Cabral em
Foto: GLOBO/ANGÉLICA GOUDINHO/DIVULGAÇÃO Dira Paes, Sophie Charlotte e Alana Cabral em "Três Graças"

Sou noveleira. Não gostei do remake de Vale Tudo pela opção da autora de esvaziar a pauta política e social da versão original. Quando anunciaram a estreia da novela Três Graças não me entusiasmei muito achando que seguiria a mesma orientação da novela anterior, que, para mim, era uma opção alinhada com a política atual da empresa Globo. Nessa avaliação esqueci um detalhe, Três Graças é uma novela escrita por Aguinaldo Silva e ele, pela sua história e obra, não escreveria uma obra alienada da realidade política e social brasileira.

O enredo central da história é uma Fundação Beneficente que recebe dinheiro publico para a produção de medicamentos de alto custo para a população de uma comunidade carente. Ao invés de produzirem os medicamentos como deveriam, produzem remédios de farinha. Logo estamos falando de desvio de verba pública que leva as pessoas à óbito pela falta de tratamento adequado. Essa prática, operada de diversas formas, infelizmente reflete nossa realidade.

Recentemente a Polícia Federal tem investigado desvio de recursos para a saúde, do SUS, em vários estados brasileiros. Em Alagoas, por exemplo, foi deflagada a operação Estágio IV, que investiga desvio de quase 100 milhões de verbas em contratos efetuados pela Secretaria da Saúde com recursos do SUS, assim como mais de 18 milhões em serviços contratados e não executados. Também está sendo investigado fraudes em licitações no estado do Rio Grande do Sul.

Esses exemplos bastam para conectar com o mote da novela. É exatamente nesse ponto que a novela acerta, a descentralização dos serviços, mesmo com concorrência pública, repassando a execução para as organizações, fundações, é onde está a fragilidade do sistema e possibilidade de corrupção e enriquecimento ilícito. O desvio de recursos de saúde talvez seja o tipo mais cruel de corrupção, porque envolve a possibilidade de mortes evitáveis.

Outro ponto abordado na novela é a escala de trabalho. Uma das protagonistas trabalha sem folga e sofre assédio moral diariamente. "A patroa", uma das vilãs, debocha constantemente de seus direitos trabalhistas. Aqui, Aguinaldo ao ressaltar as poucas folgas que a protagonista tem, dadas pela intempestividade de sua contratante, reforça a necessidade de a sociedade brasileira discutir a escala de trabalho atual, assim como seus direitos trabalhistas. Sabemos que a questão do fim da escala 6x1 está na agenda do executivo federal para 2026, e a novela contribuir a levantar a discussão.

Também está na pauta da novela a violência contra a mulher e os relacionamentos homoafetivos. Em tempos de conservadorismo, de epidemia de feminicídio e de misoginia a novela cumpre seu papel social ao tratar esses temas com serenidade, sutileza e sensibilidade.

 

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