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O que você fez no carnaval passado?
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Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história

Luana Sampaio arte e cultura

O que você fez no carnaval passado?

Uma reflexão sobre carnaval, imagens e saudade
Tipo Opinião
FORTALEZA-CE, BRASIL, 19-02-2023: Público acompanha o Luxo da Aldeia no Pólo Carnavalesco do Benfica na Praça João Gentil - Gentilândia (Foto: Júlio Caesar/O Povo) (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA-CE, BRASIL, 19-02-2023: Público acompanha o Luxo da Aldeia no Pólo Carnavalesco do Benfica na Praça João Gentil - Gentilândia (Foto: Júlio Caesar/O Povo)

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Perdoe-me o trocadilho fora de hora, mas me diz, o que você fez no carnaval passado? Ou melhor, que registros você tem dele?

Tá, não falemos especificamente do carnaval passado, uma vez que ele e seu antecessor foram anulados pela pandemia de Covid-19, que nos impossibilitou de ir para as ruas celebrar a vida com muita música e sem a preocupação de ficarmos doentes ou de sermos responsáveis pelo adoecimento de alguém.

Esses dois anos de hiato calaram um pouco dos registros festivos, mas é certo que nos carnavais mais antigos, diversas foram as maneiras de fazer aquele momento viver e reverberar. Posts, stories, vídeos nas redes sociais e todas as funcionalidades digitais que estavam à nossa disposição foram usadas pra registrar, compartilhar e reviver a folia tempos depois. A máxima “as fotos da festa ficaram ótimas”, enfim, não deixa de funcionar.

BLOCO Bonde Batuque no último sábado de Pré-Carnaval
BLOCO Bonde Batuque no último sábado de Pré-Carnaval (Foto: Fabio Lima/O POVO)

Mas e essas fotos, você poderia encontrá-las em questão de minutos? Ora, levando-se em conta que arquivos se perdem, perfis em redes sociais são derrubados, celulares quebram ou são trocados, bancos de armazenamento de arquivos tem limites e etc. e tal, onde ficam nossas memórias?

As fotos da nossa melhor fantasia, do avô com peruca na cabeça, do beijo cheio de cor e brilho, da tia segurando duas garrafas e um copo ao mesmo tempo, são algumas de nossas memórias impagáveis que provavelmente foram registradas em fotos e vídeos. Mas se não resgatamos esse material e o guardamos com cuidado, eles só irão existir na nossa lembrança (e pode ser que nem isso eles consigam fazer).

 

Eu e minha irmã no carnaval de 1996 na Praia do Batoque - CE, devidamente fantasiadas para dançar É o Tchan.(Foto: Arquivo Luana Sampaio)
Foto: Arquivo Luana Sampaio Eu e minha irmã no carnaval de 1996 na Praia do Batoque - CE, devidamente fantasiadas para dançar É o Tchan.

Ao nos deixarmos levar pela emergência do digital que nos convence a produzir, mas não a armazenar arquivos adequadamente, nós perdemos. Os momentos e as lembranças que nos levam de volta para quem fomos, deixam de marcar presença física no presente, e às histórias de carnal que poderiam estar todas abraçadas em um álbum, por exemplo, ficam solta no fluxo da vida que leva e trás memórias a seu bel-prazer.

Hoje, o primeiro carnaval “pós-pandêmico” começa a anunciar seu fim, e espero que o tenha feito em meio a muito vivido e muito registrado. Mas quando ele acabar, cuidemos dos nossos arquivos. Cuidemos de toda a cor e vida que transbordou ao longo dos últimos dias para que ela renasça ao ser revisitada. Em 2021 e 2022, diversas pessoas compartilharam as lembranças do Instagram que trazia à tona as imagens dos carnavais anteriores. Foi bacana. Mas e se o Instagram falhar ou falir amanhã? Você vai terceirizar suas memórias?

Foto do Luana Sampaio

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