Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
Foto: Reprodução
Frame do filme "Viva - A vida é uma festa", de Adrian Molina e Lee Unkrich, 2018.
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Nesse fim de ano fui inspirada pela reportagem da jornalista Karyne Lane, aqui do O POVO. Também me comovi com a coluna do companheiro de audiovisual e caipirinhas, Demitri Tulio. Dias depois me deparo com a frase que dá título a esta coluna, mas não sem antes conversar com meu grande amigo atuário, Êneo Sérvio, e constatar: não há um lugar que não haja alguém se sentindo incompleto e, no limite, cheio do que falta.
Tempos de encerramentos de grandes ciclos trazem reflexão, e em dezembro existe ainda a especificidade da carga de projeção de futuro e celebração do presente. Se faz parte da celebração o acolhimento do outro, pergunto por qual razão os desalinhados de pouca fé são tão mal-compreendidos.
Falar em morte no início do ano também não cai bem. A simbologia com a vida é recorrente, mas por alguma razão nossos dogmas as separam criando um dualismo estranho que nos impede de administrar nossos sentimentos, alongando o caminho da virada onde a falta dói menos e a esperança vem com acalento.
Foto: Lili em Montreal
"Morra com memórias, não sonhos". Story publicado em 28 de dezembro de 2023 no Instagram de Lili (@lili.em.montreal).
No filme “Coco” ou “Viva - A vida é uma festa”, o menino Miguel revira os traumas de sua família e passa por uma jornada transformadora no mundo dos mortos. Em sua aventura ele conhece não somente as diferentes criaturas que habitam o “lado de lá”, mas encontra membros da sua família que já haviam partido. Em dado momento, Miguel entende: só morremos quando as pessoas não lembram mais de nós.
Lembrar é uma das formas mais potentes de amar, de reparar. Lembranças amenizam saudades e nos dizem quem somos, em que lugar queremos estar. Quando datas como Natal e Ano Novo se anunciam, certa dor vem junto, e muitas delas dizem de vidas inexistentes que hoje só existem nas lembranças, tal como um rastro de estrela que se encanta e continua a viajar.
Morrer com memórias, não com sonhos, pode ser um morrer amando. Sonhos não foram feitos para nos prevenir de sofrer ou nos derrubar. Eles também dizem quem nós somos e, na medida do possível, dão pequenas amostras do que podemos ser. No fundo das nossas dores e incompletudes, desejo que o ano novo traga o que sempre pedimos dele: pelo menos um pouco mais de paz, mais dois dedinhos de saúde, um dinheiro também cai bem, e junto de tudo isso, um modo de viver que não nos rasgue
Que os sonhos venham e emanem o seu melhor para nós. Que nossas faces sejam acolhidas. Que a dignidade humana seja realmente um direito. Que nós lembremos dos nossos, os façamos viver através de nós, passe o tempo que passar.
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