Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
Sonhar com imagens, em imagens, é algo tão natural quanto lembrar com elas
Foto: NASA/DIVULGAÇÃO
Imagem do Hubble Heritage Project, iniciativa que usou o Telescópio Espacial Hubble para criar imagens do universo
O mistério da viagem astral pós cortinas fechadas instiga homens e mulheres desde sempre. O nó da consciência inconsciente de quando se dorme, que faz o impossível acontecer e fazer sentido diante dos olhos do sonhador, o leva a navegar na boniteza da guarda baixa.
Mas nem sempre é bonito, não é? As histórias de horror fazem festa projetando contos e imagens capazes de plantar receios em forma de pesadelos, que de tão viscerais nos deixam duvidando se é possível algo tão ruim simplesmente ser. Quando acordamos, nos damos conta de que todo aquele real, não era tão real assim, e leva um tempo pra entender tudo que aconteceu só no mundo dos sonhos ainda que a imagem viva dele passe o resto dos dias nos encarando.
Sonhar com imagens, em imagens, é algo tão natural quanto lembrar com elas. Lembramos com imagens, e embora nem sempre lembremos dos sonhos que tivemos, o paradoxo não deixa de existir: lembrar em imagens e esquecê-las, sonhar com elas e depois ter certeza de que elas não existem.
Nos sonhos a gente não sabe, mas sente. Olhamos pra uma pessoa sabendo quem ela é, mesmo que fisicamente ela não se pareça… com ela mesma. Saímos de uma porta e pela outra entramos em um lugar completamente diferente, mas não questionamos. Algo ali se liga. E como se de repente estivéssemos no País das Maravilhas ou das conexões neurais, tudo simplesmente faz sentido.
Engana-se quem acha que pode confiar nas imagens da memória e mais ainda, que confiar nelas tem o mesmo significado que confiar em uma promessa. Para a memória pouco servem nossas convenções de tempo (“parece que foi ontem”, só que não foi) ou de verdade verdadeira (“eu jurava que tinha sido você”, mas também não foi).
A verdade da memória é uma outra, assim como a dos sonhos. E sendo ambas imagens que se formam como fumaça na nossa mente, desmentem a ideia dela como prova. Ou seja, nem toda imagem é puramente real, e quem sabe não é o objetivo delas nos mostrar que a realidade, ao invés de ser uma só, também é aquela que sonhamos, inventamos, esfumaçamos, recordamos.
Óbvio, a ética e o respeito conosco e com os demais sempre será a melhor régua para que elas não injusticem ninguém. Mas novamente, o que entendemos por justiça nem sempre é o que as imagens interpretam por elas mesmas. E com isso poderíamos criar palavras infinitas sobre os vai e véns dos significados que trazem, pois afinal de contas, ainda não descobrimos o que as imagens reais e inventadas realmente querem de nós.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.