Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
É difícil entender o esforço de separar esse campo da educação, haja vista que ela é um direito constitucional e resguardar a sua qualidade é se preocupar em construir coletivamente uma sociedade melhor
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Uso de celular em escola
Voltando para casa dia desses me deparei com um outdoor. Nele era divulgada uma campanha de uma grande escola de Fortaleza que se posicionava contra o uso de celulares nas salas de aula. À primeira vista, estranhei. Era a primeira vez que via aquele design vinculado a outro assunto que não fossem os jovens que ficaram nas primeiras vagas nos vestibulares de Medicina, ITA ou IME.
Depois, me chamou atenção a frase que vinha logo abaixo de “Diga não ao celular na sala de aula”: “exclusivo para fins pedagógicos”. Levei um tempo pra entender toda aquela dinâmica, e imaginei que para um observador menos questionador talvez a escolha de palavras fosse louvável, afinal de contas o que uma escola deseja é ter suas ações vinculadas a atos educativos, jamais políticos.
E o problema está aí. O nível de radicalização e falta de educação política em que vivemos é tamanho, que falar ou se reconhecer como agente político beira a ofensa, gerando a ilusão de que basta não se entender político para, de fato, não sê-lo.
É difícil entender o esforço de separar esse campo da educação, haja vista que ela é um direito constitucional e resguardar a sua qualidade é se preocupar em construir coletivamente uma sociedade melhor. Pensar e agir para o bem (ou para o mal) comum, é político, e se a limitação do uso de celulares em escolas passa por isso, ela está longe de ser uma medida “exclusiva para fins pedagógicos”.
Político é sempre o outro, e esse outro geralmente é colocado como irredutível, irracional, parcial. A concepção é toda falha e serve à desinformação, ao alimento da cultura de pessoas que não se enxergam como sujeitos sociais de seu tempo que tem elevada capacidade de transformação pela via do debate, do argumento, da democracia. Todos somos políticos, nós só acreditamos em políticas distintas.
Dado esse cenário, é comum que empresas, indivíduos e escolas evitem ao máximo serem notadas como agindo por motivação política - muito embora ajam, o tempo inteiro.
Mas não seria justamente o papel delas atuar pedagogicamente para um entendimento lúcido e fundamentado do que ser político significa? Não seria o debate sobre celulares nas escolas uma oportunidade para praticar abertamente uma política que serve ao benefício de toda uma sociedade?
Nos acostumamos a ver homens histéricos vestindo paletó, pregando o que não praticam, andando por aí com malas de dinheiro que não lhes pertencia, e achamos que política é só isso.
Mas quando uma escola usa seu signos e cores não para promover seus resultados, mas para ser vista como protetora da pedagogia e, para isso, se posiciona em uma discussão que inclusive perpassa a esfera governamental, temos sim um posicionamento bem demarcado - ainda que ele não se reconheça como tal ou se limite a um outdoor na nossa volta para casa.
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