Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
Nas férias, assistia um filme por dia. Tomei nota de todos os títulos, fazia o download no finado Pirate Bay ou Megaupload, e comecei a montar meu repertório fílmico
Foto: Divulgação
Cidade japonesa planeja preservar floresta que inspirou o filme 'Meu Amigo Totoro', do Studio Ghibli
Quando entrei na faculdade de cinema me senti um peixe fora d’água. Meu histórico com a sétima arte não ultrapassava a sessão da tarde, e por isso sempre que ouvia as pessoas falando dos “filmes necessários” eu via que tinha pouco ou nada a contribuir com aquela conversa.
Cidade de Deus, O Céu de Suely, Crepúsculo dos deuses, Kill Bill, Magnólia, Amnésia, Eraserhead, Saneamento básico, O sétimo selo, Corra Lola corra, Terra estrangeira, Ulysse e tantos outros títulos sempre apareciam, embora eu nunca soubesse do que se tratavam.
Resolvi solucionar esse problema. Nas férias, assistia um filme por dia. Tomei nota de todos os títulos, fazia o download no finado Pirate Bay ou Megaupload, e comecei a montar meu repertório fílmico.
Hoje, mais de dez anos depois dessa empreitada, sinto que preciso fazer isso novamente. Você sabe, né? Quem estuda cinema costuma perder a capacidade de ser um espectador comum, e isso faz falta.
Nos últimos dias me aventurei com Meu Amigo Totoro e me dei conta do quanto nosso olhar fica viciado nos materiais que recebemos.
Quantas vezes você assiste filmes do oriente e falados em outra língua que não seja inglês ou português? Não é por militância, é por visão de mundo, por ter a oportunidade de ver como outras culturas pensam suas histórias, amores e narrativas.
Quem tem o olhar viciado por Hollywood se espanta ao ver o cinema de Hayao Miyazaki (japonês), Agnès Varda (belga), Ingmar Bergman (sueco) ou Jafar Panahi (iraniano). Sem ir muito longe, até o cinema brasileiro que grita fora do mainstream impressiona esse olhar.
E veja, o debate aqui não gira em torno de preferências pessoais, mas no contar histórias que por vezes dispensam as explosões e olhos esbugalhados, para se comunicar com uma outra linguagem sensível.
E esse impacto é bom, é um soco. Nos põe a imaginar quão infinitas são as formas de filmar histórias e com elas despertar emoções, sem o barulho com o qual nos acostumamos.
(Foto: Reprodução)Cena do filme "O sétimo selo", de Ingmar Bergman (1957)
(Foto: Reprodução)Cena do filme "A Viagem de Chihiro", de Hayao Miyazaki (2001)
(Foto: Reprodução)Cena do filme "As Praias de Agnès", de Agnès Varda (2008)
(Foto: Reprodução)
Cena do filme "Boi neon", de Gabriel Mascaro (2016)
Aliás, melhor seria dizer que um outro barulho é produzido. Pra ser barulho precisa ser estridente, agressivo, invasor? Não acho que a arte goste muito de adotar consensos assim.
O ritmo de Meu amigo Totoro, os fantasmas de A viagem de Chihiro, os espelhos d’As praias de Agnès, a decupagem de locação única de Jogo de Cena, os sonhos de Boi neon.
São só algumas obras vindas de um outro sentido, que te levam pra um novo lugar porque pensam cinema sob outro referencial. E que outro é esse? É preciso querer ver o infinito além do tio patinhas para descobrir.
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