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"Eu não confio em um Deus que não dança"
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Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história

Luana Sampaio arte e cultura

"Eu não confio em um Deus que não dança"

Há quem se ofenda quando falamos em um Jesus negro, que amou uma mulher ou outra pessoa, que dançou ou que fez qualquer outra coisa considerada impura demais para ele
Imaginei Jesus dançando, feliz. Imaginei Deus, também, essa grande bolinha brilhante que visualizo na minha mente de vez em quando. Imagem ilustrativa de apoio: umbanda no município de Aquiraz (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Imaginei Jesus dançando, feliz. Imaginei Deus, também, essa grande bolinha brilhante que visualizo na minha mente de vez em quando. Imagem ilustrativa de apoio: umbanda no município de Aquiraz

Ouvi essa frase em uma aula de História Social, no PPG da História da UFC. Mas a frase não era do professor estudioso do imaginário sagrado de Juazeiro do Norte, ele na verdade nos transmitiu uma das coisas que já ouvira ou lera em sua jornada. Quando ouvi, paralizei com a beleza do que dizia.

Imaginei Jesus dançando, feliz. Imaginei Deus, também, essa grande bolinha brilhante que visualizo na minha mente de vez em quando. Pensei, não por último, nos Deuses e entidades que sei que dançam, e em como é bonito ver a fé vinculada a um movimento tão cheio de vida.

Falo em vida porque, em alguma medida, algumas fés parecem falar mais da morte do que dela. Falam mais em demônio do que em Deus, em maldição do que em graça, em tudo que é pecado em vez de tudo aquilo que deveríamos estar fazendo para construir um mundo verdadeiramente bom para nós e para aqueles que mais precisam.

Imagem ilustrativa de apoio. Abertura com missa do nascer do sol. Festejos de São Francisco em Canindé. Pessoas fazem perigrinação até chegar na Basílica de São Francisco de Canindé(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Imagem ilustrativa de apoio. Abertura com missa do nascer do sol. Festejos de São Francisco em Canindé. Pessoas fazem perigrinação até chegar na Basílica de São Francisco de Canindé

Há quem se ofenda quando falamos em um Jesus negro, que amou uma mulher ou outra pessoa, que dançou ou que fez qualquer outra coisa considerada impura demais para ele. Mas em que medida, de fato, essas coisas põem em cheque seus principais ensinamentos? Por que mobilizam tanta revolta? É uma dúvida de não-iniciada.

Alguns dogmas são difíceis de assimilar, principalmente quando gente ao redor desconsidera o contexto de criação e formatação desses mesmos dogmas. Por outro lado, não deixa de ser instigante imaginar que esse “além” possui suas próprias regras, e alguns ainda utilizam dos nossos corpos e movimentos para atender nossas preces.

Um dia, o vi dançar. Não sei nomear, portanto não saberia dizer se era uma entidade, um Deus, um espírito. Nesse dia, me chamaram para ir a uma festa, mas só depois de uma hora assistindo à dança entendi que a festa não era pra nós. Era pra eles que dançavam, para o além ali presente que rodava, cantava, batia palmas por três horas ininterruptas.

Imagem ilustrativa de apoio. Casa dos Milagres. Festejos de São Francisco em Canindé, pessoas fazendo perigrinação ate chegar na Basílica de São Francisco de Canindé(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Imagem ilustrativa de apoio. Casa dos Milagres. Festejos de São Francisco em Canindé, pessoas fazendo perigrinação ate chegar na Basílica de São Francisco de Canindé

Há de se ter muita fé para fazer isso, assim como para passar a madrugada rezando para uma imagem. É tanto tempo e caridade que se perde acreditando que a sua crença é a correta que chega a ser triste, quando não é crime.

Gosto da ideia de alcançar uma graça dançando, de curar um coração cantando, de enviar boas energias pelo pensamento ardente de acolhida ao outro. Pode parecer tudo muito subjetivo, mas para quem sente no peito não é, são cenas e sentimentos que se comunicam com eles para que vejam qual o próximo passo irão dar juntos: o que pede na prece e o que rodopeia para atender.

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