Lições para Rogério Ceni, ex-treinador do Fortaleza que acumula quedas polêmicas em Flamengo e Cruzeiro
Lucas Mota é repórter de Esportes de O POVO. Estudou jornalismo na Universidade 7 de Setembro e na Universidad de Málaga (UMA). Ganhou o Prêmio CDL de Comunicação na categoria Webjornalismo e o Prêmio Gandhi de Comunicação na categoria Jornalismo Impresso, e ficou em 2º lugar no Prêmio Nacional de Jornalismo Rui Bianchi
Lições para Rogério Ceni, ex-treinador do Fortaleza que acumula quedas polêmicas em Flamengo e Cruzeiro
Os episódios de demissões, cercados por polêmicas tanto em Belo Horizonte quanto no Rio de Janeiro, servem de reflexão para Rogério Ceni
Forte pressão, desentendimentos e dificuldade em relações interpessoais provocaram situações insustentáveis. Este tipo de ambiente esteve presente nas demissões de Rogério Ceni, quando deixou o Fortaleza para buscar a consolidação na carreira como treinador em clubes tradicionais como o Cruzeiro e o Flamengo. A mais recente no Rubro-Negro, há poucos dias, foi marcada por áudio vazado do analista de mercado do Centro de Inteligência e Mercado (CIM) da equipe carioca, Roberto Drummond, expondo o cenário de conexão frágil do então técnico com outro departamento importante da Gávea.
"Cara, ele é uma pessoa ruim. Não tem outra definição. É uma pessoa ruim. O cara é perdido, faz merda, critica departamentos. Ele não tem respaldo do pessoal de cima, deixa ele meio perdido aqui. Mas ele está lá há quase um ano já, ele nunca se interessou em sentar com o pessoal da análise de desempenho, que são os caras de tática e tal, para ver quais são os processos, o que que faz", disse o ex-funcionário do Flamengo, que foi demitido após o áudio vir a público.
Os episódios de demissões, cercados por polêmicas tanto em Belo Horizonte quanto no Rio de Janeiro, servem como lições para Rogério Ceni refletir. O perfil do ex-goleiro é de treinador estudioso, ousado, agressivo e conhecedor dos leques táticos. Mas não basta ser competente apenas nos quesitos técnicos da profissão. E isto serve para qualquer tipo de trabalho, não só para treinador de futebol. São essenciais habilidades sociais, de convivência e de relações interpessoais para a harmonia no ambiente profissional.
Nem no Fortaleza, onde Ceni construiu uma jornada vitoriosa que o coloca na prateleira dos grandes treinadores - quiçá, o maior - do clube (campeão da Copa do Nordeste, bi do Campeonato Cearense, melhor campanha do Tricolor na era de pontos corridos da Série A e classificação inédita para a Sul-Americana), o comandante à beira do gramado foi unanimidade. E não digo isso numa referência à chateação de parte da torcida por ele ter "abandonado" o barco durante o Brasileirão para assumir o Flamengo. Transição esta na qual vejo com naturalidade do mercado.
Durante o período que comandou o Fortaleza, nas temporadas de 2018, 2019 e 2020, os problemas de convivência por comportamentos mais duros e fechados não passaram em branco. Nos bastidores, houve descontentamentos com a conduta de Ceni entre funcionários e até jogadores. Claro que nenhuma delas veio a público ou foi o suficiente para fazer desandar o trabalho do técnico, que tinha o total respaldo da diretoria e da torcida pelos resultados e pelos desempenhos do Leão em campo.
No Fortaleza, Ceni construiu elo de confiança e respaldo necessário. O clube, os jogadores e o técnico caminharam juntos numa evolução mútua. Quando tentou repetir a hierarquia e a mesma conduta de poder no Cruzeiro e Flamengo, com atuação restrita ao campo e convívio com atletas medalhões, ele acabou falhando e saindo com a imagem arranhada.
Na Raposa, o ex-goleiro permaneceu apenas 45 dias, conquistando duas vitórias, dois empates e quatro derrotas. No Rubro-Negro, foram oito meses no cargo, somando 23 vitórias, 11 empates e dez derrotas e os títulos Campeonato Brasileiro 2020, da Supercopa do Brasil 2021 e do Campeonato Carioca 2021.
Ideias e repertório tático dentro das quatro linhas não faltam a Rogério Ceni. Deve ampliar a sala de troféus em breve, em outro centro. Mas o momento é de refletir sobre as ações paralelas de condução extracampo tão necessárias a qualquer profissional com papel de gestão.
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