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SAF é o caminho para o Fortaleza brigar no patamar mais feroz no Brasil, avalia especialista
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Lucas Mota é repórter de Esportes de O POVO. Estudou jornalismo na Universidade 7 de Setembro e na Universidad de Málaga (UMA). Ganhou o Prêmio CDL de Comunicação na categoria Webjornalismo e o Prêmio Gandhi de Comunicação na categoria Jornalismo Impresso, e ficou em 2º lugar no Prêmio Nacional de Jornalismo Rui Bianchi

Lucas Mota esportes

SAF é o caminho para o Fortaleza brigar no patamar mais feroz no Brasil, avalia especialista

Em entrevista à coluna, Fernando Ferreira avaliou ainda a intenção do Tricolor do Pici de fazer uma venda minoritária da SAF, mantendo 100% o controle do clube cearense
Fortaleza venceu o América-MG pela Copa Sul-Americana na Arena Castelão (Foto: Mateus Lotif / Fortaleza EC)
Foto: Mateus Lotif / Fortaleza EC Fortaleza venceu o América-MG pela Copa Sul-Americana na Arena Castelão

Especialista em economia e negócios no esporte, o economista Fernando Ferreira avaliou as movimentações do Fortaleza para uma possível transformação em Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e os impactos da mudança para o clube no cenário nacional.

Por trás dos benefícios diretos de atrair investidores e do acesso ao mercado financeiro, o passo rumo à SAF pode ser o caminho para brigar no patamar mais feroz do futebol brasileiro, onde estão equipes tradicionais e consolidadas, como Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Athletico-PR, analisa Fernando.

Em entrevista à coluna, o sócio-diretor da Pluri Consultoria, empresa especializada em estudos, pesquisas e análises do futebol brasileiro, avaliou ainda a intenção do Tricolor do Pici de fazer uma venda minoritária da SAF, mantendo 100% o controle do clube cearense.

Coluna - Fernando, como você avalia o movimento do Fortaleza de se transformar em SAF no futebol brasileiro?

Fernando Ferreira - Ele está aderindo ao movimento que parece avassalador. A quantidade de clubes que está migrando para o modelo de SAF e já buscando investidores é uma coisa impressionante. Mesmo nós que sempre fomos muito otimistas com relação dessa perspectiva de SAF, antes da aprovação da lei lá atrás, não imaginávamos que num espaço tão curto de tempo tantos clubes já iam fazer essa migração. Até considerando o fato que essas negociações são demoradas. Portanto, se você pensar a quantidade de clubes que já fez essa migração, hoje já tem mapeado 18 clubes no Brasil que já fizeram essa transição. É uma quantidade bastante grande. Entre os clubes de maior porte, você já tem aí diversos clubes que não apenas fizeram a migração para a SAF, - porque a migração da SAF é uma parte até relativamente simples, mas ela em geral vem acompanhada da busca dos investidores, que é a segunda parte. Esse movimento do Fortaleza está alinhado com os movimentos dos principais clubes, levando em consideração o fato de o futebol brasileiro estar cada vez mais inflacionado, necessitando de recursos, não só financeiros, mas recursos humanos, tecnológicos, é preciso ter acesso ao mercado, parceiros relevantes. É um conjunto de recursos que os clubes precisam acessar, e que me parece só ser possível para a grande maioria dos clubes com a transformação do modelo de SAF e a busca de investidores para dentro do quadro societário.

Coluna - Qual a sua projeção a longo prazo em relação ao Fortaleza numa decisão de se transformar em SAF e vender ações? Que tipo de ganho o clube pode ter?

Fernando - O primeiro ganho é financeiro. O Fortaleza é um clube de baixíssimo nível de endividamento, está muito bem desportivamente, muito bem do ponto de vista de gestão fora do campo. Tem tido gestão exemplar, se destacando no futebol brasileiro ao longo de um período longo, já são alguns anos nesta trajetória. A possibilidade de você trazer um investidor, permite que você tenha mais capital. Os clubes que são entidades associativas não têm capacidade de atrair capital de investidor, porque eles não podem vender ações. Se o Fortaleza segue com a boa gestão que tem tido ao longo dos anos, e é importante ter essa continuidade porque é uma gestão de sucesso, a partir do momento que se tem mais capital para melhorar a estrutura do clube, atrair mais profissionais, investir mais no futebol. Não só em folha e contratação, mas na estrutura física, de profissionais, de instrumentos tecnológicos. A partir do momento que você tem acesso e possibilidade de trazer isso para o clube, você vai ficar mais competitivo. Essa é uma jogada importante porque o Fortaleza já cresceu bastante, subiu de patamar algumas vezes nesse mercado, mas a briga no patamar mais acima do futebol brasileiro é muito feroz. Você tem clubes como Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Athletico-PR, que virou uma potência também, com muita capacidade financeira. Para correr atrás deles, você precisa também ter capacidade de investimento.

Coluna - Neste primeiro momento, o Fortaleza não tem intenção de vender ações. Quais são os benefícios e as vantagens para um clube no mercado do futebol somente com a transformação em SAF?

Fernando - São poucos. O maior benefício de virar SAF é você vender parte do seu capital e poder atrair investidor. Fortaleza é um ativo muito atrativo no mercado. Transformar em SAF pode criar elementos de governança um pouco mais sofisticados, isso é positivo, mas o principal é ter acesso ao capital. Virar SAF, a maior vantagem é ter acesso ao capital.

Coluna - Posteriormente, o Fortaleza deve vender ações, mas de forma minoritária, mantendo 100% o controle do clube. O que você acha desta decisão?

Fernando - O Fortaleza é um dos poucos clubes no Brasil que pode se dar ao luxo de ir ao mercado e vender uma participação minoritária. Tem uma gestão profissional muito qualificada que tem tido resultados ao longo do tempo. O problema principal é a falta de continuidade da gestão. Historicamente, isso está mais do que comprovado, a falta de continuidade na gestão abre espaço para oscilação na qualidade de gestão, que faz com que o clube perca eficiência ao longo do tempo. Esse é o principal problema das entidades associativas. O fato do clube poder ir ao mercado e vender participação minoritária é importante. É óbvio que tem que se levar em consideração o fato de que o investidor minoritário paga menos, porque existe o prêmio de controle. Isso faz com que o valor do investimento seja proporcionalmente maior. Se o investidor vai ter uma participação minoritária e não vai ter poder de controle sobre clube, ele obviamente vai pagar menos pelas ações. Tem esse aspecto, mas é fato que poucos clubes podem se dar ao luxo de ir ao mercado e buscar investidores minoritários, e o Fortaleza é um deles.

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