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Cariri não consegue respirar
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Âncora e coordenador de Jornalismo da rádio O POVO CBN Cariri Já foi repórter da rádio O POVO CBN Cariri, em Juazeiro do Norte, e da rádio O POVO CBN, em Fortaleza. Atuou também no jornal O POVO, nas editorias de Cidades e Política. Atualmente, também é colaborador da editoria de Veículos do portal O POVO. Formado na Universidade Federal do Cariri (UFCA)

Cariri não consegue respirar

Assistir à queimada da riqueza verde do Cariri como filme repetido ano após ano é de causar indignação profunda
Tipo Opinião

Muito fogo na floresta e fumaça no céu. O Cariri não consegue respirar. O cenário deslumbrante da Chapada do Araripe foi tomado por "nuvens" tóxicas provocadas por queimadas recorrentes na região. Se para nós, humanos, falta ar puro da caminhada trivial no fim da tarde, imagina a situação dos animais e plantas atingidos diretamente pelas chamas. Uma tragédia cujas vítimas sequer podem falar. 

A combinação tempo seco mais ventanias favorece os incêndios em vegetação no segundo semestre do ano no Cariri, mas a causa da devastação é outra. Na maioria das ocorrências, o fogo acende na irresponsabilidade humana, conforme alertou o capitão Rildo, do Corpo de Bombeiros Militar, em entrevista à Rádio O POVO CBN Cariri. A limpeza de terrenos para plantio em lavouras familiares no ano vindouro origina grande parte dos incêndios diários na região. 

A prática primitiva é considerada crime ambiental. E por uma razão óbvia: destrói a fauna e a flora, polui o ar e agrava problemas respiratórios em seres humanos e animais. No mundo ideal, crimes são tipificados para enquadrar e punir culpados. Mas na realidade, a aplicação da lei é falha. Não fosse assim, seriam frequentes as prisões e condenações daqueles que matam a natureza blindados pela impunidade. 

O trabalho combativo do ICMBio Araripe é decisivo para manter a floresta viva. Sem a atuação vigorosa e resiliente do órgão federal para proteger o rico patrimônio ecológico da região, o cenário seria ainda pior. As autoridades municipais —nem todas, ainda bem— dão de ombros, como se cuidar da natureza fosse um dever protocolar e não uma obrigação de todos. Sem o engajamento das Prefeituras, combater os incêndios e os demais crimes ambientais permanece uma peleja de ativistas. 

É urgente manter acesa a prática da responsabilidade ambiental na região que abriga a primeira floresta nacional instituída por Lei no Brasil, a Floresta Nacional do Araripe-Apodi, criada em 1946; o Geoparque Araripe, o primeiro das Américas; a Colina do Horto, que cerca a estátua do Padre Cícero; o Riacho da Matinha, no Crato, tesouro ecológico com mais de 70 espécies vegetais e onde vivem diversas espécies de mamíferos, aves e répteis. 

Assistir à queimada da riqueza verde do Cariri como filme repetido ano após ano é de causar indignação profunda. O problema não é o sol e a baixa umidade característicos do chamado b-r-o bró (período que vai de setembro a dezembro), mas a frieza e a alta inércia de quem trata meio ambiente como assunto de menor importância. Quando a salvaguarda da floresta estiver entre as prioridades dos gestores públicos da região, o Cariri vai respirar melhor. Por ora, estamos no sufoco.

 

Foto do Luciano Cesário

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