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A escola e o jornal
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

A escola e o jornal

Tipo Opinião
Ilustração de Mateus Fidelis para coluna Educação, de Lúcio Flávio Gondim (Foto: Mateus Fidelis/Divulgação)
Foto: Mateus Fidelis/Divulgação Ilustração de Mateus Fidelis para coluna Educação, de Lúcio Flávio Gondim

Quero contar a vocês a dificuldade de estrear uma coluna no jornal durante o período de lockdown. Foram idas inúmeras a pequenas banquinhas e a supermercados gigantes para conseguir um exemplar de O POVO e nada feito. A solução veio de minha amiga, a escritora, fotógrafa, professora e igualmente colunista desse veículo de comunicação, Tércia Montenegro. Com afeto e boa vontade, ela guarda em casa minhas colunas para que, num futuro menos distópico, possamos nos encontrar para um café em uma resiliente livraria na Avenida da Universidade. Ali iremos trocar causos, novos planos e essas folhinhas preciosas de tinta.

Foi de Tércia que ouvi, há algumas semanas, em matéria aqui no Vida&Arte sobre um evento virtual em comemoração ao Dia do Livro, que é preciso encontrar novas formas de encontro e de leitura, tendo em vista o cansaço dos meios eletrônicos que nos toma. Eu assino embaixo ou reposto, como hoje se diz. Digo mais: é preciso fazer um reencontro com as páginas físicas, para o bem dos olhos e de uma série de profissionais em torno da arte da palavra. Hoje, em específico, falo com carinho da relação entre o Jornalismo e a Educação.

Se muitos de nossos estudantes podem nunca ter segurado um jornal impresso em mãos, carregam a arte da comunicação em suas veias. Seus canais de contato também são, quase que de regra, uma via de divulgação de suas instituições educacionais ou dos acontecimentos de cada turma em si. Não são raros, entretanto, os terríveis perfis de fofoca que, diferente daqueles que socializam demandas e dores com responsabilidade, elaboram uma exposição de fragilidades, a qual não mede consequências psíquicas ou criminais.

Nesse terreno, as Fake News se alastram de modo viral e adoecem crianças e jovens. Investigar o modo como se lê na contemporaneidade é um dos caminhos para desfazer o terrível nó da (des)informação a que estamos submetidos. Somos leitores e leitoras de manchetes dentro de imagens, dispensando até mesmo as legendas que as acompanham nas redes sociais. A notícia assim é recortada de modo violento: o post vira print, que vira publicação. Sem um trabalho firme, poderá ser assim também dentro de nossas escolas. Nelas, como em qualquer lugar, se fato e opinião não se distinguem, tornando-se consequência e causa de uma infodemia global.

Sem julgar se ainda é interessante para nossos discentes uma visita, por exemplo, a uma redação de jornal, uma das atividades mais intrigantes que vivemos em um passado não tão distante, precisamos fomentar o diálogo e a troca de ideias com embasamento. A curiosidade com o cheiro de tinta ou com o barulho das máquinas, que se teria ao acompanhar a produção de um impresso, deve coexistir com a fabricação de novas fontes de notícias, curiosidades e informativos imprescindíveis à artesania escolar. A tradicional rádio da escola pode, assim, ganhar ondas maiores em um perfil virtual com formatos e conteúdos que vão além dos de sala de aula.

Leia também | Confira mais artigos de Lúcio Flávio Gondim, na coluna Arte e Educação 

Ainda assim, colegas e estudantes, quero sugerir uma ferramenta poderosa de imersão histórica e atual, polifônica e de opiniões, verbal e imagética: o jornal impresso. Nele, o tato volta a ser ferramenta de compreensão do mundo. Por alguns minutos ou horas, as mãos tocarão um silêncio a ser recheado de gêneros textuais infindos. É também muito possível construir com ele uma arte lindíssima: a do recorte. Ela é geradora de poemas, quadros, fanzines e outros produtos estéticos emblemáticos.

O jornal é também uma oportunidade de materializar em nós conhecimentos para o vestibular e para a vida, quando o celular, o computador e até a televisão parecem dispersar festivamente nossas cabeças ou gerar gatilhos de ansiedade em tempos duros. Sinto-me sempre bem ao olhar o impresso e confesso aqui a felicidade de participar desse espaço que é histórico não apenas a nível de macrocosmo, mas a este professor-colunista que lhes fala, o qual, quando artista de palco, perseguia as manchetes de seus espetáculos pelas bibliotecas da universidade. Elas seguem guardadas comigo, formando um tempo em estado sólido junto a esses meus novos textos quinzenais.

Foto do Lúcio Flávio Gondim

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