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CPBTrinta
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

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Vitor Cauã e Samuel Silveira são ex-alunos do professor Lúcio Flávio Gondim (Foto: Vitor Cauã e Samuel Silveira)
Foto: Vitor Cauã e Samuel Silveira Vitor Cauã e Samuel Silveira são ex-alunos do professor Lúcio Flávio Gondim

O curso de teatro que mais formou e forma gratuitamente artistas e público na cidade de Fortaleza completa trinta anos em 2021. O Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT) comemora suas três décadas de atuação no Theatro José de Alencar em meio a um vazio de público, mas não de lembranças, saudações e urgências. Esta última é uma palavra clássica do CPBT, pois são de urgências que são elaborados os espetáculos de conclusão das turmas, o ápice do curso com duração de um ano. Como ex-aluno e concludente, reverencio e louvo aos deuses teatrais por essa experiência transformadora. E trago parte dela aqui para vocês junto com um panorama atualizado do curso.

Conforme se descobre em diálogo com o professor do curso (e nosso pajé) João Andrade Joca, o CPBT acontece em parceria entre a Secretaria da Educação e Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará desde 1991. Ao acolher interessados a partir de 15 anos e escolaridades diversas, o processo formativo desperta sensibilidades físicas, emocionais e estéticas na construção de uma teoria e de uma prática teatral. No curso, a coletividade é palavra que abre caminhos, funcionando como abracadabras internos e externos. Ter um corpo, uma dramaturgia, uma produção coletiva e muitos outros substantivos também em grupo faz com que sobrem adjetivos para estes trintas anos de história.

Dividido em módulos, o curso proporciona uma experiência de invenção e resiliência - palavra que eu conheci pela boca de Joca. É preciso ser fiel ao deus teatral, cumprindo horários, trabalhos e ensaios que compõem o rito do palco. A cada nova etapa, avança-se um pouco mais para dentro de si, na experiência avassaladora do Outro. À nossa frente sempre pequenas plateias formadas por amigos, família, a "gente de teatro" e o público que resiste à tentação de se benzer ao passar à frente do Theatro José de Alencar e aceita o convite de divinamente profaná-lo junto com quem o teatraliza.

Em 30 anos de atividades ininterruptas, foram uma estimativa de 900 alunos que vivenciaram parcialmente os módulos curriculares, 1287 educandos concludentes e 65 montagens. Garanto que cada um desses números guarda sonhos, lembranças e desafios que ficam na pele, guardados como as farpas do chão das salas de ensaio. Não conclui quem o termina: o Teatro ensina sobre o Tempo e seus processos. Ensina, assim, sobre a vida, para a qual nunca conseguimos desfazer todos os nós, mas a que devemos ficar satisfeitos quando a corda está minimamente usável. Essa foi a metáfora de Joca quando da conclusão do texto de "Plastic Wood", meu espetáculo de conclusão.

Como os nós permanecem, o Curso Princípios Básicos de Teatro segue com suas demandas. As principais delas são: oficializar o CPBT como uma política pública na área da educação e da cultura; assegurar financiamento para manutenção e ampliação das atividades; estabelecer intercâmbio efetivo e afetivo entre pessoas e instituições a fins; criar o Quinto Módulo - Estágio com objetivo de circular com os espetáculos de conclusão por escolas, teatros e espaços afins de Fortaleza, região metropolitana e cidades do interior do Estado. Ao curso urge finalmente compartilhar experiência pedagógica e artística do CPBT com equipamentos culturais do interior do Estado interessados em um curso introdutório para teatro.

Que você consiga seus sonhos, meu curso querido... Que você siga abrindo sensibilidades e transformando pessoas... Que você resista em uma cidade que teima em nos fazer desistir. Que será do Teatro no mundo pós-pandemia? Há quanto tempo você, leitor ou leitora, não vai a uma apresentação teatral? Você já foi a alguma em sua vida? Tente. Sentir o corpo, o calor e o coração pulsante do texto, da voz e da pele de atores e atrizes nos faz repensar nossas representações cotidianas. Faz-nos ser parte da formação humana, refletindo e sendo luz dos vitrais que marcam nosso mais importante teatro e nossos corações.

Foto do Lúcio Flávio Gondim

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