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Licenciatura em astrologia
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

Licenciatura em astrologia

Tipo Opinião
Coluna do Lúcio Flávio Gondim (Foto: Ilustrador)
Foto: Ilustrador Coluna do Lúcio Flávio Gondim

Uma aula chata sempre pode ser salva. Não que precisemos fazer de tudo para garantir um sucesso prototípico do ensino/aprendizagem, mas, caso seja ele uma obrigatoriedade ou forte desejo, trago aqui uma solução contemporânea para despertar o interesse discente que é testada e comprovada por mim, especialmente em momentos de cansaço como um fim de ano pós-ENEM. Falo do uso da Astrologia em sala de aula. A linguagem simbólica que interpreta eventos terrenos a partir da posição dos corpos celestes configura-se como uma forma de conexão espiritual e social poderosa do nosso tempo, capaz de tirar da inércia os mais desmotivados estudantes diante do conteúdo do dia. O resultado é encantador, fez com que meus estudantes - e gestores! - me fizessem criar mais uma página nas redes sociais apenas sobre o tema e me instigou uma ideia aqui para a coluna cuja publicação - vejam a sincronicidade! - dá-se justamente no dia de um dos maiores fenômenos celestes dos últimos apocalípticos tempos, um eclipse total do Sol no signo da busca pelo mistério sacro e humano: Sagitário.

Registros dão conta de que a Astrologia tenha surgido no terceiro milênio antes de Cristo. Ela teve uma função fulcral na formação de diferentes culturas e, embora não se configure uma ciência, está presente nos Vedas, e em outros importantes textos históricos. Anteriormente fundida à Astronomia, passou a ser distinguida desta e manteve-se por muito tempo distante do meio acadêmico até voltar, com toda a força do universo, para os bosques e campus universitários, dominando rodas de conversas como nenhum outro tema consegue tão bem. Para os céticos, pensar que o momento do nascimento pode reger aspectos comportamentais dos mais diversos ao longo da vida é uma reprodução doutrinária ultrapassada. Para quem se senta e lê com profundidade seu mapa astral, acompanhado de uma boa ou bom astrólogo ou aspirante, essa pode ser uma experiência de autoconhecimento transformadora.

Em real, há tempos e com ajuda de materiais impressos, vídeos e podcasts de pesquisadores e profissionais seríssimos - incluindo terapeutas de orientação junguiana - venho usando a Astrologia como uma forma de baliza de personalidade para meu convívio intra e interpessoal. Assim, foi muito natural levar o Cosmos para meu trabalho em que, como docente, sou também psicólogo amador de jovens em pleno redemoinho de vida. Isso quando não são eles que chegam a mim perguntando por meu signo - ao que respondo com orgulho: "Peixes com ascendente em Câncer", embora lembre que estamos longe de ser apenas nosso posicionamento solar. Porém, definitivamente sou eu quem busco com recorrência saber a posição de cada planeta e asteroide sob domínio gravitacional do Sol no momento do nascimento - o que configura um "mapa astral" - de alunos ou alunas, tanto os mais chegados quanto, principalmente, os mais difíceis. Assim que pensei... E se fizéssemos isso com nossos artistas, apresentando-os a partir de suas características arquetípicas de modo que houvesse um elo natural e paulofreiriano com o saber astral dos nossos jovens? Façamos um plano de aula utópico e lúdico...

Como seria bacana apresentar a força inaugural e disruptiva de Áries presente em Leonardo Da Vinci, Cazuza, Van Gogh, Lady Gaga e Fausto Nilo; a estabilidade e o requinte taurino de William Shakespeare, Fernanda Young, Eduardo Coutinho e Mano Brown; a pluralidade comunicativa geminiana de Fernando Pessoa, Bob Dylan, Machado de Assis, Lorca e Anne Frank; a potência memorialística de Câncer em Gilberto Gil, Guimarães Rosa, Ingmar Bergman, Wagner Moura e Kafka; o "eu" cardíaco e inflamável de Leão em Frida Khalo; Bukowski, Hitchcock e Caetano Veloso; o detalhismo virginiano e glorioso de Beyoncé, Arnaldo Antunes, Tony Ramos e Tarsila do Amaral...

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...O equilíbrio venusiano e multissensorial de Libra em Fernanda e Tércia Montenegro, Almodóvar, Mário de Andrade, Gal e John Lennon; a profundidade traumática, erótica e curativa de Escorpião em Drummond, Sylvia Plath, Belchior, Saramago e Albert Camus; a hermética quebra de limites sagitariana de Clarice Lispector, Oscar Niemeyer, Woody Allen; Édith Piaf e Steven Spielberg; o trabalho capricorniano incansável em Rita Lee, Anthony Hopkins e David Bowie; a fúria social e libertária de Aquário em Lewis Carroll, Bob Marley e Portinari e, por fim, o abismo idílico e salvador de Peixes em Carolina Maria de Jesus, Elis Regina, Glauber Rocha, Chico Science, Gabriel García Marquez, Leonilson e Patativa do Assaré.

Garanto que a aula fará seu/sua estudante ver estrelas!

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José Ivan Torres

Ex-aluno de Lúcio Flávio Gondim, José Ivan Torres assina a ilustração da coluna esta semana

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