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Era uma vez uma história
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

Era uma vez uma história

Tipo Opinião
Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Yuri Evangelista assina a ilustração desta edição da coluna (Foto: Yuri Evangelista)
Foto: Yuri Evangelista Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Yuri Evangelista assina a ilustração desta edição da coluna

Um lar ou uma casa transmitem, para o imaginário de muitas, muitos e muites de nós, a sensação de um lugar acolhedor ou um ambiente cheio de afetividade pois se pressupõe que o que o caracteriza é a humanidade que o habita. Esse lugar, forjado humano, onde ensaiamos a nossa relação com o mundo ao mesmo tempo em que nele vivemos, constrói em nós muitas de importantes fases. Entre quartos e salas, atravessamos e somos atravessados por sabedorias iniciando, assim, um portal de educação basilar. Entretanto, quando tudo isso acontece junto do apoio de nossa família, tem-se aí um privilégio de poucos, já que há muitas crianças em situação de abandono, sem teto, e ainda sem escolas. Outras tantas, com estrutura física, seguem desprovidas da emocional e é quando a casa assume sua face mais sombria: a do trauma.

É durante a primeira infância que este universo chamado "mundo" vai sendo apresentado com e por seus entes em forma de sociedade estruturada nos ritos de cada família. Embalados pelas partilhas ao redor da mesa (a postos dos celulares!) para se alimentar e pelos demais acontecimentos expressos e vividos de forma única e permeada de plurais, vivemos hoje tempos de muita conexão tecnológica. Porém, o elo de nossa presença física na vida quase sempre está em off. Como atualizar nossos sentidos? É urgente sentir na aprendizagem inteligente.

O papel da família no desenvolvimento das crianças e nas demais fases da vida é fundamental. A participação afetiva e efetiva dos adultos no processo educacional dos mais jovens é necessária para a sua relação consigo e com o mundo. Cultivar momentos que estimulem a criatividade e o desenvolvimento dos sentidos pode ser fortalecido desde o berço por meio do ato de acompanhar histórias, sejam estas de tradição oral, transmitida e passada de geração em geração como histórias da família; de ordem escrita, como as literárias; visuais, como as de séries e filmes, dentre outros subtipos.

Esse presente, que é a arte a Contação de Histórias, é vivido quase que diariamente na rotina de muitas escolas como uma salutar ferramenta de troca, porém, quando esse recurso humanizador acontece junto aos nossos pares, potencializa o aspecto lúdico do processo de crescer. Ademais, esse vínculo retira a responsabilização da escola e de professores(ras) e implica os maiores educadores das crianças no amadurecimento destas: mães, pais, avós, tias, vizinhas etc. Ler, narrar e criar histórias, além de integrar e gerar possibilidades de se conhecer e conhecer o/a Outro/a um pouco mais, oportuniza um momento de partilha de pensamentos e de materializações.

O incentivo à leitura propicia o desenvolvimento da linguagem oral e a compreensão de mundo, posto que trabalha valores humanos aliados à construção da linguagem. É nessa possibilidade de imaginar a história, de vivê-la no instante da narração e de desenvolver a escuta, que se introduz a linguagem sensório-visual, além do interesse artístico e linguístico que passa a ser despertado. Tais experiências e saberes em família geram união e trazem bons resultados na vida educacional e nos futuros âmbitos profissionais, afetivos etc.

As histórias e memórias familiares contribuem de forma positiva na vida escolar, trabalhando suas raízes ancestrais, percebendo as semelhanças e diferenças entre os demais membros da família e sendo uma belíssima oportunidade de dialogar com os assuntos de relevância social. Dentre as inquietações existências, por exemplo, estão presentes temas como: aceitação do próprio corpo; Amor; Morte; Saudade e muitos outros. Assim, empaticamente, por meio da contação, elaboram-se entendimentos inclusive de dores, colaborando na construção dos nossos lutos diários em especialmente em um momento em que eles só se multiplicam tanto física quanto simbolicamente. Fica claro, assim, que o tempo dedicado pela família ao imaginar em conjunto é um tempo ganho em contribuição eficaz no desenvolvimento emocional.

Portanto, certamente os sujeitos que escutam histórias se sentirão bem mais seguros em suas jornadas e, ao tomarem conhecimento das mitologias e narrativas coletivas, acreditarão nas suas individuais, reconhecendo potenciais positivos e pontos a melhorar. Saberão também lidar com os desafios, pois fizeram bom uso de conflitos e vilões ficcionais. Por fim, ao escutar respeitosamente, aprenderão sobre tempos, sobre vidas e sobre sua diversidade, sendo capazes de viver bonitas histórias na vida "real". A comunicação afetiva, sem dúvidas, aproxima e cria laços profundos. Vamos exercitá-la?

Era uma vez...

Texto escrito com colaboração de Patrícia Moura, educadora, mãe, artista, atriz e contadora de histórias cearense.

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Yuri Evangelista

Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Yuri Evangelista assina a ilustração desta edição da coluna.

Foto do Lúcio Flávio Gondim

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