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Menos armas e mais políticas para a leitura
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

Menos armas e mais políticas para a leitura

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Maura Isidório, analista de gestão cultural e Orientadora da Célula do Livro, Leitura e Literatura da Coordenadoria de Formação, Livro e Leitura da Secretaria de Cultura do Estado.
 (Foto: Tibico Brasil/Divulgação)
Foto: Tibico Brasil/Divulgação Maura Isidório, analista de gestão cultural e Orientadora da Célula do Livro, Leitura e Literatura da Coordenadoria de Formação, Livro e Leitura da Secretaria de Cultura do Estado.

No contexto de efervescência dos editais referentes à Lei Paulo Gustavo no Ceará, a coluna Educação & Arte entrevista hoje Maura Isidório, analista de gestão cultural e Orientadora da Célula do Livro, Leitura e Literatura da Coordenadoria de Formação, Livro e Leitura da Secretaria de Cultura do Estado.

O POVO: Como você enxerga a presença do livro e da leitura no contexto hipermidiático e fugaz de nosso tempo?

Maura Isidório: Conforme a sociedade vai se modificando, nossos hábitos também se modificam e é impossível que nossa relação com os livros e forma de ler não acompanhem as mudanças. Estamos vivendo em uma sociedade cada vez mais acelerada e que consome as redes sociais como forma de entretenimento e de informação, com mensagens curtas e resumidas dos assuntos, e isso causa uma nova forma de relacionar com a leitura. Os novos suportes têm modificado as práticas textuais e de leitura, de modo que não podemos sustar as possibilidades dos leitores e sim, estimular a reflexão sobre o uso e acesso das tecnologias.

Temos um tempo para cuidar. Esse tempo é hoje, nosso presente, porém com responsabilidades pelo futuro. Temos que trabalhar esse presente com as ferramentas dessa época, logo, precisamos suscitar o debate para que possamos destrinchar de que forma podemos contribuir e usufruir nesse contexto hipermidiático, diverso e plural, e descobrir como isso nos afeta.

OP: Há um "boom" de novas e pequenas editoras com publicações incessantes de todos os gêneros. Se, do ponto de vista sociológico, na representatividade das publicações, isso pode ser uma democratização, do ponto de vista da recepção literária, ainda há dificuldade dessas produções chegarem ao grande público. Como os agentes envolvidos com a escrita e editoração podem equilibrar tais demandas?

Maura: Em 2013, Miquel Colomer já falava "hoje e no futuro, com todas as novas formas de difusão cultural, há e haverá pessoas, associações e empresas que tornam e tornarão possível a sobrevivência da literatura e, em geral, da cultura escrita". Esse é um grande desafio, mas vislumbro que trabalhar em parceria será uma alternativa viável, essa resposta será construída de forma coletiva com a sociedade, pois são muitas interposições que precisam ser consideradas. Não é uma conjuntura simples, é complexa, por isso, faz-se necessário uma tessitura com muitos olhares, visões e contribuições, incluindo o público e privado visando uma sociedade leitora.

OP: A retomada da Cultura com o terceiro governo Lula mudou o panorama das artes a nível federal, estadual e municipal. O que se pode esperar das leis e resultados das ações em vigor?

Maura: A partir do compromisso de campanha "Mais livros, menos armas" podemos esperar empenho em políticas do livro e leitura, modernização de bibliotecas e promoção de novos espaços de leitura e ações que promovam as cadeias do livro (criativa, produtiva, mediadora e institucional). Com a retomada do ministério da Cultura, foi criada a Secretaria de Formação, Livro e Leitura com o objetivo de implantar políticas referentes ao campo. Nessa Secretaria existe a Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, na qual podemos citar três competências relevantes para o cenário do livro e leitura: atualizar o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) e coordenar o Sistema nacional de Bibliotecas (SNBP) e o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER).

Na esfera estadual, estamos construindo o Plano Estadual do Livro e Leitura, uma parceria da Secretaria da Cultura com a Secretaria da Educação. Ressaltamos que é preciso uma visão plural, envolvendo também as secretarias dos Povos Indígenas, Diversidade, Igualdade Racial, Proteção Social e Juventude. O plano vai nortear as nossas ações e as da nossa rede de equipamentos, e deve ser construído com um pensamento da pluralidade étnico-racial e cultural. Precisamos, também, sensibilizar os municípios para construírem seus planos municipais de livro e leitura, manter as bibliotecas ativas e oferecer programação relacionada ao tema.

OP: Para você, o que ainda precisa ser feito a nível institucional para a formação literária de nosso povo visando também ao fomento da bibliodiversidade?

Maura: Os programas e projetos precisam espelhar nossa diversidade e pluralidade étnico-racial e cultural. Dessa forma, buscamos constantemente o diálogo com a sociedade cearense e com as demais secretarias estaduais para pensarmos de maneira integral e plural. A bibliodiversidade é imprescindível para a sociedade acessar pensamentos, narrativas e culturas com diversas experiências e possam conviver e respeitar as diferenças. Para isso, estamos em processo de aquisição de obras literárias de autores e autoras cearenses e esse acervo bibliográfico será distribuído pelo Sistema Estadual de Bibliotecas para as bibliotecas públicas municipais e comunitárias.

Por meio de edital, apoiaremos a iniciativa de 50 bibliotecas comunitárias e 24 projetos de contadores de histórias, mediadores de leitura, slam e sarau que se apresentarão em bibliotecas públicas e comunitárias e assim fortalecer a formação leitora em nosso estado. Podemos citar o Programa Agentes de Leitura, que trabalha a leitura literária com a família, e temos planos de redimensionar esse olhar, incluindo os povos indígenas e as comunidades quilombolas. Realizaremos também três feiras literárias que mobilizarão o cenário do livro e leitura, posto que vão promover as editoras, livrarias, escritores, escritoras, contadores de história, mediadores de leitura, slam, saraus e a poesia popular.

Já estamos realizando o Mapeamento das Mulheres Escritoras do Ceará, fomos provocados pelo Coletivo Mulherio das Letras Ceará. Essa mobilização busca colocar essas Mulheres no Mapa da Cultura do Ceará, que atualmente é o principal instrumento de mapeamento de escritoras e escritores cearenses e pelo qual todas as oportunidades de editais, feiras e prêmios são acessados. Essa ação contribui com o fortalecimento da política literária para as mulheres escritoras, ao mesmo tempo que aumenta o fomento à bibliodiversidade.

Foto do Lúcio Flávio Gondim

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