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A exaustão das más notícias
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia

Magela Lima opinião

A exaustão das más notícias

Tipo Opinião
Magela Lima, jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Magela Lima, jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro

Pesquisa do Instituto Reuters de Estudos do Jornalismo divulgada mês passado registra que 54% dos brasileiros dizem evitar o consumo de notícias e outros produtos jornalísticos, como newsletters e podcasts, por exemplo. O número é 20 pontos percentuais maior do que o registrado em 2019 e nada menos que o dobro do que foi apontado em 2017. A população mais jovem, aquela com menos de 35 anos, é a que mais afirma demonstrar desinteresse pelo noticiário. O cenário não poderia ser mais desolador. Sobretudo, para quem faz jornal.

Lidar com essa queda tão acelerada do consumo é um desafio para o jornalismo negócio e para o jornalismo linguagem também. Afinal, o que justificaria tamanha falta de aderência dos nossos produtos com a nossa audiência? A resposta não é única, muito menos fácil. Fosse assim, essa curva negativa já havia sido revertida. Um dos argumentos mais lembrados, porém, tem sido o de que as pessoas, o público, está farto de tanta notícia ruim. A questão é que notícia ruim só existe porque existe fato ruim na vida real. Antes da notícia, a vida já é ingrata.

De todo modo, há uma lógica contemporânea nesse tipo de pensamento. O monopólio da informação já não está mais nos produtos jornalísticos tradicionais, os formatos convencionais de circulação de informação vêm sendo substituídos. Com isso, é como se os jornais viessem sublinhar algo que já é de conhecimento público. As pessoas, exaustas de notícias as mais absurdas na intimidade profunda de suas redes sociais, são confrontadas pelo jornalismo profissional, mostrando que, sim, a realidade tem se revelado cada vez mais assustadora.

Talvez, fosse bom abrir o jornal ou acessar um site de notícias e ficar sabendo que não procedem as informações de que um médico estuprou uma paciente em pleno trabalho de parto e que um homem foi assassinado a tiros, por motivação política, em sua própria festa de aniversário. O jornalismo, definitivamente, pode muito pouco diante de tanto absurdo.

Os jornais, mesmo reduzindo seu apetite tradicional pelo negativo, ainda assim teriam de se cursar à força bruta desses casos. Não tem sido fácil viver no Brasil e a culpa disso não é propriamente algo que possa ser atribuído ao que faz ou deixa de fazer o jornalismo.

 

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