
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia
Ei, menino, soube que o Silvero andou te escrevendo e fiquei pensando: seria tão bom se cada um de nós, que não teve tempo de se despedir como devia, também fizesse o mesmo! Imaginei tua alegria, recebendo e guardando, claro, um monte de cartas em papel. Pois é, meu amigo, você morreu. Dessa vez, não foi de mentira, não. Por 10 segundos, juro, imaginei (ou desejei) que fosse alguma coisa de teatro, alguma invenção tua. Não era. Você se foi e levou junto toda a nossa geração. A cena teatral de quem tem 40 , como se diz agora, nunca mais será a mesma.
Teatro é uma arte do tempo, como diz Tania Brandão, que tanto te admirava, e cada tempo tem seu teatro. Você, Rogério, era a cara do teatro do nosso tempo. Foi com você que entrei no teatro. No começo, tínhamos uma Tereza Cândida, a verdadeira, nos unindo. Doeu muito dizer a ela que você partiu; choramos separados por quilômetros. Depois, veio o Fábio, sem acento. Com ele, pude chorar abraçado. Seu velório foi lindo. Estávamos todos, quase todos, juntos no Theatro José de Alencar outra vez, parecia antigamente. Você fez muito no teatro, meu querido, sobretudo, fez amigos. Muitos. Muitos.
Você foi, @rogmesquita, um exímio trabalhador de teatro. Você nunca reduziu ou amenizou a dimensão de que arte é ofício, é esforço, é suor. Com você, eu sempre soube, com muita clareza, das delícias e das dores do palco. Você foi decisivo para mudar a nossa cena. Não fez isso sozinho, claro, mas tirou muita gente da inércia. Afoito, você introduziu aqui um modelo de teatro de grupo novo, fez do Bagaceira, ainda uma companhia estreante, referência até mesmo para veteranos. Você pautou uma nova dinâmica para as nossas produções e fez o teatro cearense sonhar alto.
O Brasil chorou junto naquele 4 de agosto. Os meninos do Magiluth fizeram uma homenagem a você no Galpão! Todos nós devemos a você, à sua inteligência, à projeção nacional e internacional recente do nosso teatro e à conquista de um novo sentido de profissionalização absorvido pelos nossos artistas da cena. Que bom que a gente se encontrou e soube reconhecer, a tempo, a importância de um na vida do outro. No meu primeiro texto de jornal, lá em maio de 2003, você estava citado. Nesse último, olha você de novo. Eu vou falar e escrever de você sempre. Fica bem! A gente vai tentar. Beijo! n
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