
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Fosse uma receita de bolo, o novo espetáculo do Grupo Bagaceira, apresentado pela primeira vez em Fortaleza no último dia 19 como parte da programação da mostra dos laboratórios de criação da Escola Porto Iracema das Artes, ainda pediria um tantinho mais de forno. Rafael Martins e Isabella Cavalcanti, da primeiríssima formação do coletivo, Ricardo Tabosa e Tatiana Amorim, veteranos com menos tempo de estrada na trupe, e a novata Débora Ingrid dividem o palco em cenas bastante borradas, como que a reforçar o título da montagem: "Inacabado".
Ao se colocar nesse lugar de processo, a produção, que contou com supervisão do diretor Márcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro, em pelo menos dois momentos, mistura fragilidade e potência. Traço novo na trajetória do Bagaceira, o improviso ou a representação do improviso, vai exigir mais atenção, mais treino. Com o tempo, sem dúvida, o desabafo de Tatiana Amorim vai doer mais, vai ficar mais profundo e bonito. É esse o destino dos quadros de humor do espetáculo, algo com que o Bagaceira tem grande familiaridade. Daqui a pouco, Rafael Martins vai precisar de esforço para contornar o riso da plateia, receosa, por enquanto.
"Inacabado" tem um tom de lamento, absolutamente justificado, mas vai virar essa chave muito rapidamente porque teatro é festa. Pelo menos, era assim que acreditava o pernambucano Luiz Mendonça, a quem o grupo dedica homenagem em cena. Com o novo trabalho, o Bagaceira faz mais um esforço de resistência, envolto ainda com a dor da perda de Rogério Mesquita, o motor do grupo desde a sua fundação, há 25 anos. Uma vez mais, a companhia enfrenta e confronta incertezas da vida ordinária e da vida criativa, dividindo com o público esse sofrimento. Aliás, lembrando ao público que esse sofrimento também é dele.
Pelas minhas contas, essa é bem a terceira vez o Bagaceira chega perto do fim. Acaba, não, mundão. A questão, agora, é que a decisão de existir carrega junto a decisão de continuar. O Bagaceira tem uma história forte e isso há que servir de estímulo para dentro e para fora. Se o Bagaceira tivesse se desfeito lá na primeira crise, o Ceará, talvez, não conhecesse o ator Ricardo Tabosa, dono das cenas mais lindas de "Inacabado". Que bom que o grupo persistiu. A plateia entupida da sessão de estreia diz que sim.
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