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Bebês reborn, tadinhos, caíram no colo dos políticos
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Magela Lima opinião

Bebês reborn, tadinhos, caíram no colo dos políticos

A verdade é que há mais deputados dedicados a controlar os possíveis abusos cometidos com um bebê reborn no colo do que pessoas agindo de má-fé recorrendo aos tais "brinquedos"
Tipo Opinião
Fabricando os bonecos reborn (Foto: Adobe stock)
Foto: Adobe stock Fabricando os bonecos reborn

Na falsa polêmica em torno da produção e dos hábitos de consumo dos chamados bebês reborn, definitivamente, não há nada de novo. O que se vê é o cerceamento histórico ao corpo e ao comportamento das mulheres, enquanto os homens seguem livres de censura e, por isso mesmo, legitimados a censurar. É de se lamentar que, ao passo em que mulheres adultas são criticadas por "brincar" de bonecas, parlamentos, em sua ampla maioria formados por homens, gastem tempo e dinheiro públicos como se essa "brincadeira" tivesse grande projeção e impacto na agenda real da população.

Passam de 25 iniciativas legislativas apresentadas em câmaras municipais e assembleias por todo o Brasil limitando os usos dos tais "bebês". Preocupadíssimo com a qualidade do Sistema Único de Saúde (SUS), o deputado estadual Carmelo Neto (PL), por exemplo, apresentou projeto, em tramitação na Assembleia Legislativa do Ceará desde o último dia 27 de maio, para proibir o atendimento de bonecos desse tipo na rede pública. Esse problema existe ou é mais um surto de invenção do parlamentar? Secretaria de Saúde do Estado, gentileza apresentar os números.

Onde se tenta demonstrar proatividade, reina, sim, desocupação e oportunismo. Provando que não há necessidade de nova normatização, em Guanambi, no sul da Bahia, onde, de acordo com a Prefeitura, uma jovem com transtorno psiquiátrico tentou atendimento para um bebê reborn numa Unidade de Pronto Atendimento, tudo foi resolvido com a simples orientação de que ela retornasse para casa. Este episódio, diga-se, é o único do tipo que veio a público em todo o País. E se ela tivesse resistido? Que se chamasse a Polícia.

A verdade é que há mais deputados dedicados a controlar os possíveis abusos cometidos com um bebê reborn no colo do que pessoas agindo de má-fé recorrendo aos tais "brinquedos". Até no Congresso Nacional, o debate já chegou. O projeto de lei do deputado Paulo Bilynskyj (PL), de São Paulo, vai na mesma linha da proposta de Carmelo Neto. A diferença é que, no caso da rede privada de saúde, condena profissionais com suspensão das atividades e multa as instituições que prestem serviços aos tais bebês falsos em até R$ 50 mil.

Em Brasília, também estão muito comovidos com a questão Zacharias Cali, de Goiás, e Rosângela Mouro, de São Paulo, ambos do União Brasil. Ele quer punir quem tirar proveito de condições especiais, como prioridade em atendimentos, recorrendo aos reborn. Já ela quer que o SUS garanta acolhimento psicossocial a pessoas que desenvolvam vínculos afetivos com os bonecos. Nada justifica todo esse empenho dos nossos parlamentares. Não há números, denúncias ou investigações. Nada. O Brasil, sem dúvida, tem urgências bem mais importantes.

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