Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Aqui na minha bolha, o nome de Léo Lins, definitivamente, não repercute. Até a notícia da decisão da juíza Barbara de Lima Iseppi, da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, agora no início de junho, de condenar o humorista a oito anos e três meses de prisão, além de multa equivalente a 1170 salários mínimos e indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos, por propagar conteúdo contra minorias e grupos vulneráveis, não sabia de sua existência, Primeira reação: susto. Lugar de artista não é na cadeia.
Um tanto mais de reparo sobre o caso e a novidade se revela não tão nova assim. Léo Lins contracena com a judiciário brasileiro há um bom tempo. O comediante contabiliza seu sucesso, em parte, pelo número de processos. Lembra alguns políticos, diga-se. A decisão mais recente atende a um pedido do Ministério Público Federal, que entrou com uma ação contra o humorista em 2023. Em 2022, a Justiça de São Paulo havia condenado o comediante a pagar uma indenização de R$ 44 mil por danos morais por ter ofendido a mãe de um jovem autista em uma rede social.
Léo Lins soma 1,65 milhão de inscritos no seu canal no YouTube e conta com 3,2 milhões de seguidores no Instagram. Embora costume se apresentar para plateias volumosas nos teatros, a performance do artista na internet tem sido um agravante para suas condenações. Léo Lins se esforça, entretanto, para afirmar sua filiação a um tipo de humor clássico e secular, que se sustenta na interdição, na habilidade de fazer graça daquilo que ninguém, a não ser os comediantes, teria coragem e autoridade para propagar. Há que se olhar com mais zelo essa árvore genealógica, porém.
Como Léo Lins, outros humoristas têm chamado a atenção pelas polêmicas de suas piadas e o embate com a Justiça. O francês Dieudonné M'bala M'bala, por exemplo, tem tido reveses por sua verborragia às custas temas que as autoridades europeias têm condenado por considerarem racistas e antissemitas. Na França, Dieudonné é figurinha conhecida da Justiça. Em 2015, chegou, inclusive, a ser condenado a dois meses de prisão por apologia ao terrorismo. Mais recente, em 2023, na Suíça, recebeu multa de € 33 mil por discriminação racial.
Que humor é esse, enfim? É certo que a ousadia e a audácia de tocar em determinados assuntos e explorar certos tipos é uma chave de composição atemporal das comédias. Driblar o controle social, o "politicamente correto", para fazer rir, no entanto, é uma ferramenta de combate, um corajoso e explícito alerta público feito pelos artistas. Jamais, um incentivo. Eu tenho sérias dúvidas para saber de qual lado Léo Lins está. Ele parece assinar embaixo de tudo o que diz, e isso não tem nada a ver com autoria e propriedade intelectual.
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