
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Já faz um bom par de anos que Fortaleza vem sonhando em ter um teatro. Um teatro público, administrado e mantido pela gestão municipal. A cidade, entretanto, tem seu cotidiano atravessado por palcos formais desde 1830, quando se imagina o início do funcionamento do antigo Teatro Concórdia. No caminho aberto por aquela modesta casa de espetáculos, outras importantes iniciativas particulares formaram plateias e artistas até que o século XX, com a inauguração do imponente José de Alencar, consolidou entre nós a ideia e o valor de um teatro público.
No jogo de competências das entrelinhas da nossa política cultural, o Ceará acabou delegando ao governo do Estado a responsabilidade pela manutenção de grande parte dos equipamentos localizados na capital. Bom para quem vive em Fortaleza, mas péssimo para a Prefeitura, tradicionalmente posicionada à margem das preocupações com o campo e a dinâmica da cultura. Embora não no ritmo desejado, essa realidade tem mudado. Para ficar apenas no horizonte teatral, o Teatro Antonieta Noronha, aberto depois de reforma na última sexta-feira, dia 8 de agosto, foi inaugurado em 2004 e, desde 2009, o centenário Teatro São José, de 1915, vem sendo gerido pelo município.
Nossos dois teatrinhos agora estão sob o cuidado da atriz e bailarina Sílvia Moura. Candidata a vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) nas últimas eleições, a artista teve o nome confirmado pelo Secretaria da Cultura no início do mês e assume o desafio com as bênçãos da política, o que é fundamental, mas com o carinho e a torcida de quem ocupa os palcos e as plateias da cidade, o que é definitivo. Sem nenhuma grande experiência em gestão, ela tem como pontos fortes a ousadia e o desejo de quem cria.
Como artista, Sílvia Moura tem uma assinatura marcante, é uma voz respeitada em diferentes setores. Há muito, ela tem dividido sem tempo de poesia com o tempo da luta pela reivindicação de melhores condições de trabalho para os artistas e mais opções de acesso à cultura pela população em geral. Sílvia Moura é dona de um pensamento firme e eu imagino que tenho sido exatamente isso que justificou sua escolha para a direção dos equipamentos, praticamente vizinhos, prontos a funcionar em rede.
Sílvia Moura não conhece de observação ou de reclamação a situação dos teatros de Fortaleza, ela conhece de pele, de corpo. Ela sabe que teatro não é só um simples espaço físico, ela compreende a necessidade de avançar na qualificação das infraestruturas e corpos técnicos dos equipamentos e tem a convicção de que as casas de espetáculo públicas precisam ser diversas e inclusivas em suas programações. Infelizmente, nem sempre essa combinação é o suficiente, mas é meio caminho andado. Evoé!
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