
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Coincidências não existem. A edição de 2025 do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga mal tinha se despedido do público quando começou a circular carta anunciando o despertar do Movimento de Artistas e Grupos Teatrais dos Interiore'S do Estado do Ceará. O documento, assinado por nada menos que 65 realizadores e coletivos de 34 dos 184 municípios cearenses, é como que o ato inaugural, a certidão de nascimento, de uma articulação que supera, em importância, a pertinência de suas reivindicações e o êxito de suas possíveis conquistas.
A formalização da rede dá conta de um panorama criativo absolutamente pujante e comprometido. O teatro feito Ceará adentro, acredite, é de encher os olhos, muito embora não conte com as mesmas oportunidades da cena que se projeta a partir de Fortaleza. Voltando ao último Festival de Guaramiranga, das 90 propostas inscritas para a Mostra Palco Ceará, principal vitrine da produção local na programação, 40 foram desenvolvidas em municípios do interior. Dos 10 espetáculos selecionados pela curadoria, seis estavam no recorte. E o melhor: três destes reunindo artistas de diferentes cidades.
Longe de enveredar por um debate vazio de oposição entre Capital e Interior, o que se deve festejar é um, mesmo tardio, alargar de horizonte diante daquilo que se tem por "teatro cearense". A chegada do Movimento de Artistas e Grupos Teatrais dos Interiore'S, assim em conjunto, em bloco, em bando, dá visibilidade e dizibilidade a uma realidade que opera em condições muito específicas de formação, criação e circulação, que precisam ser reconhecidas para funcionar com maior vigor.
Visto em perspectiva, o cenário teatral do interior do Ceará é um mundo. É no interior, por exemplo, que estão nossas salas de espetáculo mais antigas, o Teatro da Ribeira dos Icós e o Teatro São João de Sobral, além de outras em vias de inauguração: o Teatro Waldemar Garcia, no Centro Cultural do Cariri, e o Teatro de Itapajé, no campus da Universidade Federal do Ceará. É no interior, ainda, que estão nossos eventos mais longevos voltados às artes cênicas: Guaramiranga encerrou o seu 31º festival agora no dia 20 de setembro e Acopiara realiza o seu, o 28º, entre 1º e 8 de novembro.
A tendência é que o Movimento de Artistas e Grupos Teatrais dos Interiore'S cresça e se avolume ao tempo em que se fizer conhecido. Há teatros e, sobretudo, teatralidades que precisam ser introduzidos e legitimados fora da pressão das agendas e dos circuitos oficiais. Quanto mais o Ceará conhecer e valorizar seus teatros, melhor. Essa articulação recente mostrará a que veio na medida em que descortinar histórias e poéticas, além de estimular novos encontros e rotas de criação. Sim, mostrará.
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