Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
No dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos, município de Porto da Folha, em Sergipe, caiu o bando de Lampião. Além do líder — o afamado e temido rei do cangaço — foram brutalmente executados pelas forças policiais outros dez cangaceiros, incluindo a sua companheira, a rainha Maria Bonita.
Foram todos, então, decapitados. A história conta que o soldado Josias Valão foi o responsável pelo arranjo das cabeças-troféu na escada da prefeitura de Piranhas, já em Alagoas, onde foi feito o registro fotográfico — infelizmente anônimo — que ganhou o mundo e, ainda hoje, causa espanto e dor.
No dia 28 de outubro de 2025, na Serra da Misericórdia, divisa dos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, caiu parte do exército do Comando Vermelho. Doca, o número 2 do CV, conseguiu driblar a maior e mais letal operação policial brasileira. Foram 117 suspeitos mortos. A história ainda não firmou uma narrativa própria.
De todo modo, novas imagens de espanto e dor passaram a figurar no imaginário da violência entranhada desde sempre entre nós. Uma delas — feita pelo fotógrafo Ricardo Moraes para a agência Reuters — que mostra os corpos encontrados pelos moradores enfileirados em uma das ruas da Penha, nasceu eterna.
Há quem se regozije diante de cenas como essas. O amontoado de "bandido" morto acaba por se revelar como símbolo da vitória da ordem sobre a barbárie. Sem aparecer na foto de 1938, o tenente João Bezerra é sempre lembrado como o herói que extirpou o cangaço do País.
Quase 90 anos depois, é isso que move as lideranças da segurança pública do Rio de Janeiro, em especial o governador Cláudio Castro. O que se quer é criar uma imagem — não só visual — que aponte para um enfretamento poderoso o suficiente para acabar de vez com a atuação das facções criminosas e das milícias.
Esse trabalho, importante, porém, está longe de caber no enquadramento das lentes. O espetáculo de violência da semana passada — que não pode ser resumido a um único dia nem entendido como algo limitado ao Rio de Janeiro — choca e provoca reações na exata medida. O Comando Vermelho é um problema que não cabe na encruzilhada do Alemão com a Penha. Sexta-feira última, aqui em Canindé, sete membros da facção foram mortos em outro confronto com a Polícia.
A rede de articulação dos grupos criminosos se sofisticou imensamente no Brasil, diante da reiterada inoperância do poder público. O estado de guerra a que nos deixaram chegar requer agora outras abordagens e estratégias. É leviana a tese de que se pode acabar com uma organização como o CV capturando ou matando suas lideranças. Tanto não pode, que não se conseguiu acabar até aqui. Sem uma mudança de tática, dias piores virão. n
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