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Condenados e presos
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Magela Lima opinião

Condenados e presos

.Atentar contra a democracia é algo que o Brasil, apesar da gravidade, parecia lidar com moderação. Antes tarde do que nunca, algo mudou e é bom que se aprenda a lição
Tipo Opinião
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General Augusto Heleno, ex-ministro do GSI
 (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil General Augusto Heleno, ex-ministro do GSI

Mesmo que o Olavo de Carvalho de 2095 capriche no revisionismo da História, quando for passar por 25 de novembro de 2025, vai ser difícil contornar o ineditismo da data. Pela primeira vez, a Justiça brasileira puniu uma tentativa de golpe de Estado.

Então, passaram a cumprir pena, em regime fechado, quase todo o "núcleo crucial" que articulou o boicote ao processo democrático eleitoral de 2022. Foram presos um ex-presidente, três generais, também ex-ministros, um almirante e um policial federal, por ironia do destino, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. Um outro PF, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, fugiu do País.

Nenhum deles foi parar na cadeia, é bem verdade. Estão todos em condições absolutamente excepcionais. Na cela do ex-presidente, por exemplo, uma sala de Estado-Maior na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília.

tem móveis planejados, banheiro privativo e até ar-condicionado. Único civil preso nessa primeira leva de condenação da trama golpista, o ex-ministro da Justiça está no 19º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal, no anexo do Complexo Penitenciário da Papuda, também numa cela-sala, com cerca de 55 metros quadrados, com quarto, banheiro, sala, cozinha e lavanderia, além de uma área externa exclusiva. Não importa. Estão condenados e presos. Todos.

Bobagem, dirão. Só no período da redemocratização, quatro dos sete presidentes já foram presos. Lula, em 2018, sem o tal do "trânsito em julgado", quando uma decisão judicial se torna final e a sentença passa a ter eficácia plena, ficou 580 dias preso. Michel Temer, preventivamente, diga-se, foi preso por duas vezes em 2019.

Somando o período detido, no entanto, não ultrapassa os 10 dias. Condenado em 2023, Fernando Collor, por sua vez, começou a cumprir pena de reclusão desde o último 25 de abril, passando ao regime domiciliar a partir de 2 de maio. Caminho inverso ao de Jair Bolsonaro, que perdeu a concessão da domiciliar por violar a tornozeleira eletrônica que vinha usando cautelarmente desde o dia 18 de julho.

Também a lista de ex-ministros de Estado condenados pela Justiça, podem argumentar, é extensa. José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil, durante o primeiro Governo Lula, condenado inicialmente a 10 anos e 10 meses de reclusão em 2012, ficou por 854 dias na prisão, entre idas e vindas e processos distintos. Agora, a novidade não é a prisão em si, mas o tipo de crime.

Atentar contra a democracia é algo que o Brasil, apesar da gravidade, parecia lidar com moderação. Antes tarde do que nunca, algo mudou e é bom que se aprenda a lição. Bolsonaro e sua organização criminosa são, pois, o exemplo cruel do que não é tolerável na vida pública. Condenados e presos. Enfim.

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