Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Tem uma frase famosa da lavra do grande Décio de Almeida Prado que diz que "o teatro chegou ao Brasil tão cedo ou tão tarde quanto se desejar". Ali, o assunto é História. Décio está falando da querela entre as poéticas jesuítica e romântica como marco zero da cena nacional. A rigor, porém, o teatro, seja ele de onde for, começa e termina a todo instante. No último dia 25, por exemplo, o teatro terminou para Teuda Magalhães Fernandes, atriz fundadora do Grupo Galpão, de Belo Horizonte, de Minas Gerais, do Brasil, do mundo. Beirando os 85 anos, Teuda Bara encerrou uma trajetória vinda lá dos anos 1970, essencial, se não para tratar de começos e fins, para compreender o teatro do Brasil.
Poucas experiências e personalidades são, genuinamente, brasileiras quando se passa a vista sobre o nosso panorama teatral. A verdade é que o Brasil, ao longo dos anos, tem limitado seu encontro com o teatro não só a partir de marcos temporais muito específicos, mas também elegendo recortes territoriais restritos demais diante da nossa imensidão. O luto com a morte de Teuda Bara, no entanto, dá conta de um revés dessa tradição. Ela é - e seguirá sendo - a cara de uma geração, de um movimento, de uma provocação, de uma criação, que avançou, absurdamente, no projeto de alargar as possibilidades de entendimento do que se tem por "teatro brasileiro".
De casa, saindo e voltando sempre que quis, Teuda Bara ajudou a fazer o teatro do Brasil mais brasileiro. Ela realizou em vida o sonho do velho Mário de Andrade, que, certa vez, confidenciou ao colega Câmara Cascudo: "Enquanto me penso brasileiro e você pode ter a certeza que nunca me penso paulista, graças a Deus tenho bastante largueza dentro de mim pra toda esta costa e sertão da gente, quando me penso brasileiro e trabalho e amo que nem brasileiro, me apalpo e me· parece que sou maneta, sem um poder de pedaços de mim, que eu não posso sentir embora meus, que estão no mistério, que estão na idealização, posso dizer até que estão na saudade!".
Teuda Bara, ao contrário, foi mineiríssima e brasileiríssima sempre. O mundo, para Teuda, era um palco e ele não precisa ter forma fixa ou amarras. Teuda borrou fronteiras, o que diz muito de sua arte e sua ética. Desde as primeiras cenas, ainda estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Minas Gerais, ela acreditou e defendeu uma comunicação mais popular para o teatro. É o esse o DNA do brilhante Grupo Galpão, que ela ajudou a fundar em 1982 e seguiu na luta por toda a vida, mesmo quando passa a trabalhar com o canadense Robert Lepage e o afamado Cirque du Soleil. Com habilidades múltiplas, ela fez tudo o que o teatro lhe pediu e arregimentou respeito e carinho por onde passou.
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